´Zé Baixim dos discos´ é atração no Cariri
HÁ MAIS DE 30 anos o vendedor de discos, Zé Baixim, sobrevive da atividade de comercializar discos de vinil. Ele conta que é apaixonado por música
José Porfírio Queiroz, mas conhecido como "Zé Baixim dos discos", fez fama em Juazeiro por vender e colecionar vinil
Juazeiro do Norte Entrar no estabelecimento de "Zé Baixim dos discos" é iniciar uma verdadeira viagem ao mundo musical. Só que tem uma diferença: nos tempos do vinil. Um passado não muito distante, mas que na velocidade das tecnologias, da era digital, parece estar mais longe do que se apresenta.
Num pequeno cômodo, no Bairro Franciscanos, em Juazeiro, as paredes estão tomadas por discos, de cima até embaixo. São compactos, daqueles onde se gravava uma música de cada lado, discos coloridos, uma extensa coleção de Roberto Carlos, distribuída na calçada. É o cartão de visita.
O preço anunciado é R$ 2,00. Nem o pirata supera. Jamais superou, nos tempos em que o vinil era supremo na praça.
Falar de raridade e já anunciar a personalidade de uma pessoa que tem dedicado, em quase quatro décadas, um trabalho desafiador dos modismos. José Porfírio Queiroz, Zé Baixim, experimentou algumas formas de comercializar os seus discos vinil. Começou com cinco.
Venda nas ruas
O produto debaixo do braço, em 1972, era oferecido nas ruas. "Isso não me fazia ter boa fama. Tinha gente que me chamava de maloqueiro", diz o comerciante e amante da música. E foi e é essa paixão pela música que fez com que continuasse as vendas.
Baixim decidiu ir para São Paulo. Quando retornou ao Juazeiro, trazia na bagagem 800 discos. Um volume significativo, para montar então sua primeira loja, na rua principal do comércio de Juazeiro, a São Pedro. Loja rasteira, como era designada a forma de venda dos informais dos discos, como hoje acontece com os vendedores piratas, nas ruas das cidades.
Foram 15 anos, até conquistar o seu espaço na Rua 24 de março. Um espaço herança do seu pai. Eram tantos os discos que merecia mesmo um lugar mais cômodo. "São mais de 12 mil", arrisca uma estimativa, olhando para as pilhas distribuídas pelo chão e as paredes.
Oferta e demanda
Para quem pensa que o produto falta no mercado, definitivamente para Zé Baixim isso não é problema. A oferta é maior do que a demanda. Todos os dias tem gente oferecendo material. São 200 a 300 discos por dia. Compra no monte. "É raro o dia que deixa de vir alguém oferecer discos", diz ele.
Nos tempos da velha ´radiola´ em quase desuso, ele tem logo duas. "O som é inigualável", diz. Em todos esse anos, ele considera que o seu produto obteve bem mais valor. "Já saí em jornais, as pessoas falam de mim", ressalta, lembrando os tempos em que era considerado um maloqueiro que andava com discos embaixo do braço. Para Baixim, foi o começo de uma trajetória comercial e musical promissora. E foi mesmo.
A sua loja, com avisos singulares em meio as imagens que se misturam, que se tornam quase invisíveis, tem recados do tipo "proibido fumar neste estabelecimento", é visitada por clientes não só de Juazeiro, mas muitos colecionadores da região. "Tem disco daqui que já foi até para o Japão. Estão espalhados no mundo", diz Zé, com um desprendimento de um vendedor que traz muito mais a fachada de um empreendedor de sonho.
Raridade
No som, um cantor para ele raríssimo, que nesses anos de empreendimento musical, não chegou a ver nenhum dos seus discos. Chama-se Carlos Nobre. A voz grave lembra a de Nelson Gonçalves. "Em mais de 30 anos, nunca consegui um disco dele", diz, soltando dessa vez o som do CD. É também uma alternativa para quem tem apenas o "compact disc". "Tem um rapaz que faz o trabalho direitinho. Copia a capa, e o som fica do discão", diz o vendedor.
Portando um LP de "Flash Brega", aciona o braço de sua radiola. É o cantor Walter Basso interpretando Castelo de Sonhos, que faz parte de uma procura incessante do poeta Chico do Cavaquinho, do município de Juazeiro do Norte.
Ele classifica a loja de Baixim dos discos não como uma amontoado. "Acho que aqui não é um depósito de lixo. É um verdadeiro tesouro. Vejo coisa de nosso tempo. Meu coração se abre", diz o poeta.
Elizângela Santos
Repórter
CLIENTELA FIEL
Loja é um empório da saudade
A loja do colecionador, para o professor e poeta José Cícero,(Aurora-CE) pode ser considerada um lugar romântico, tradicional à moda antiga...
Aurora: O professor e poeta, José Cícero, é um frequentador assíduo da "discoteca" de Zé Baixim. Escreveu artigo em que classifica o vendedor como o "último dos moicanos" do Cariri. Ele consegue descrever características do vendedor, o tipo sorridente, boa praça. Disposto mesmo a fazer diversas vezes ao dia uma viagem no tempo musical. E são histórias que se acumulam, a cada cliente que chega.
Ele vê o espaço simples de Zé Baixim, com romantismo. "É lugar nobre para uma atividade comercial quase extinta nos dias atuais diante da avalanche da modernidade tecnológica. Um verdadeiro empório da saudade, onde os amantes da música tradicional à moda antiga, podem adquirir vinis por preços irrisórios e até mesmo pechinchar", diz o poeta, que classifica a coleção como "verdadeiras raridades do cancioneiro musical de todos os tempos".
José Cícero é também colecionador de raridades há vários anos. Tem para mais de 2oo discos. E lá em Baixim os seus olhos brilham, diante de uma mina, em que vale a pesquisa musical para se chegar a grandes descobertas musicais. Ou encontrar o que nem se sonha mais existir no mercado. "Há quem ainda o denomine simplesmente de sebo dos discos. Um clássico quartinho, estreito com duas portas no estilo rústico e antigo, repleto de velhos LPs, compacto discos pelas paredes e caixas de papelão. Além de pôsteres de artistas, como nos velhos tempos, espalhados por todos os lados", descreve.
O escritor também ressalta a boa qualidade dos discos de Baixim. Ele constata em alguns vinis um estado de conservação que impressiona. Mas há os que não valem tanto a pena nesse quesito. "Mas que no fundo representam um verdadeiro ato de resistência contra a chamada tecnologia digital. Discos usados, muitos deles com manuscritas mensagens de amor; dedicatórias dos seus antigos donos aos seus entes queridos. Presentes afetivos, cuja lembrança nos toca tanto quanto as canções que preservam nos seus riscados sonoros", observa.
O que José Cícero se admira é da memória de Zé Baixim, de saber todos os nomes dos artistas e a localização exata do disco solicitado pelo cliente em meio a tantas pilhas de discos. "Pedi um Bob Dylan, Amália Rodrigues, João do Vale e Rod Stuart. E depois, Trio Nortista, Charles Aznavour, Beatles, Maurício Reis, Nat King´ Cole", dentre outros. E ele foi direto ao ponto". E é lá, nesse espaço pequeno e simples, que se encontra Zé Baixim dos discos.
Público jovem
E não são só os adultos, gente da velha guarda, que visitam a loja de LPs. São adolescentes, crianças que frequentemente viajam nas pilhas de discos, bem organizadas, de Zé Baixim. A forma como tudo é arrumado é conforme o gênero musical. É da MPB, pop rock, internacional, aos ´hits parede´ de décadas pretéritas. "Os jovens conseguem diferenciar a sonoridade, a qualidade do som do CD para o LP. Tenho clientes assíduos nessa faixa etária", afirma. E têm até clientes especiais que chegaram até sua loja para adquirir raridades. O cantor e compositor Bartô Galeno é um deles.
E a paixão pela música é grande. "O povo fala que vendo sonho. O maior prazer de minha vida é poder negociar com música. Isso aqui é minha vida". É assim que o comerciante Zé Baixim defende o mundo que criou em torno de si, trabalhando a memória musical.
MAIS INFORMAÇÕES
Zé Baixim dos Discos
Rua 24 de Março, 03
Bairro Franciscanos
Juazeiro do Norte - CE
-----------------------
Publicado em 17 de janeiro de 2010 no DN
FONTE: http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=720944.
LEIA TAMBÉM: http://vermelho.org.br/ce/noticia.php?id_noticia=122504&id_secao=61
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Juazeiro do Norte Entrar no estabelecimento de "Zé Baixim dos discos" é iniciar uma verdadeira viagem ao mundo musical. Só que tem uma diferença: nos tempos do vinil. Um passado não muito distante, mas que na velocidade das tecnologias, da era digital, parece estar mais longe do que se apresenta.
Num pequeno cômodo, no Bairro Franciscanos, em Juazeiro, as paredes estão tomadas por discos, de cima até embaixo. São compactos, daqueles onde se gravava uma música de cada lado, discos coloridos, uma extensa coleção de Roberto Carlos, distribuída na calçada. É o cartão de visita.
O preço anunciado é R$ 2,00. Nem o pirata supera. Jamais superou, nos tempos em que o vinil era supremo na praça.
Falar de raridade e já anunciar a personalidade de uma pessoa que tem dedicado, em quase quatro décadas, um trabalho desafiador dos modismos. José Porfírio Queiroz, Zé Baixim, experimentou algumas formas de comercializar os seus discos vinil. Começou com cinco.
Venda nas ruas
O produto debaixo do braço, em 1972, era oferecido nas ruas. "Isso não me fazia ter boa fama. Tinha gente que me chamava de maloqueiro", diz o comerciante e amante da música. E foi e é essa paixão pela música que fez com que continuasse as vendas.
Baixim decidiu ir para São Paulo. Quando retornou ao Juazeiro, trazia na bagagem 800 discos. Um volume significativo, para montar então sua primeira loja, na rua principal do comércio de Juazeiro, a São Pedro. Loja rasteira, como era designada a forma de venda dos informais dos discos, como hoje acontece com os vendedores piratas, nas ruas das cidades.
Foram 15 anos, até conquistar o seu espaço na Rua 24 de março. Um espaço herança do seu pai. Eram tantos os discos que merecia mesmo um lugar mais cômodo. "São mais de 12 mil", arrisca uma estimativa, olhando para as pilhas distribuídas pelo chão e as paredes.
Oferta e demanda
Para quem pensa que o produto falta no mercado, definitivamente para Zé Baixim isso não é problema. A oferta é maior do que a demanda. Todos os dias tem gente oferecendo material. São 200 a 300 discos por dia. Compra no monte. "É raro o dia que deixa de vir alguém oferecer discos", diz ele.
Nos tempos da velha ´radiola´ em quase desuso, ele tem logo duas. "O som é inigualável", diz. Em todos esse anos, ele considera que o seu produto obteve bem mais valor. "Já saí em jornais, as pessoas falam de mim", ressalta, lembrando os tempos em que era considerado um maloqueiro que andava com discos embaixo do braço. Para Baixim, foi o começo de uma trajetória comercial e musical promissora. E foi mesmo.
A sua loja, com avisos singulares em meio as imagens que se misturam, que se tornam quase invisíveis, tem recados do tipo "proibido fumar neste estabelecimento", é visitada por clientes não só de Juazeiro, mas muitos colecionadores da região. "Tem disco daqui que já foi até para o Japão. Estão espalhados no mundo", diz Zé, com um desprendimento de um vendedor que traz muito mais a fachada de um empreendedor de sonho.
Raridade
No som, um cantor para ele raríssimo, que nesses anos de empreendimento musical, não chegou a ver nenhum dos seus discos. Chama-se Carlos Nobre. A voz grave lembra a de Nelson Gonçalves. "Em mais de 30 anos, nunca consegui um disco dele", diz, soltando dessa vez o som do CD. É também uma alternativa para quem tem apenas o "compact disc". "Tem um rapaz que faz o trabalho direitinho. Copia a capa, e o som fica do discão", diz o vendedor.
Portando um LP de "Flash Brega", aciona o braço de sua radiola. É o cantor Walter Basso interpretando Castelo de Sonhos, que faz parte de uma procura incessante do poeta Chico do Cavaquinho, do município de Juazeiro do Norte.
Ele classifica a loja de Baixim dos discos não como uma amontoado. "Acho que aqui não é um depósito de lixo. É um verdadeiro tesouro. Vejo coisa de nosso tempo. Meu coração se abre", diz o poeta.
Elizângela Santos
Repórter
CLIENTELA FIEL
Loja é um empório da saudade
A loja do colecionador, para o professor e poeta José Cícero,(Aurora-CE) pode ser considerada um lugar romântico, tradicional à moda antiga...
Aurora: O professor e poeta, José Cícero, é um frequentador assíduo da "discoteca" de Zé Baixim. Escreveu artigo em que classifica o vendedor como o "último dos moicanos" do Cariri. Ele consegue descrever características do vendedor, o tipo sorridente, boa praça. Disposto mesmo a fazer diversas vezes ao dia uma viagem no tempo musical. E são histórias que se acumulam, a cada cliente que chega.
Ele vê o espaço simples de Zé Baixim, com romantismo. "É lugar nobre para uma atividade comercial quase extinta nos dias atuais diante da avalanche da modernidade tecnológica. Um verdadeiro empório da saudade, onde os amantes da música tradicional à moda antiga, podem adquirir vinis por preços irrisórios e até mesmo pechinchar", diz o poeta, que classifica a coleção como "verdadeiras raridades do cancioneiro musical de todos os tempos".
José Cícero é também colecionador de raridades há vários anos. Tem para mais de 2oo discos. E lá em Baixim os seus olhos brilham, diante de uma mina, em que vale a pesquisa musical para se chegar a grandes descobertas musicais. Ou encontrar o que nem se sonha mais existir no mercado. "Há quem ainda o denomine simplesmente de sebo dos discos. Um clássico quartinho, estreito com duas portas no estilo rústico e antigo, repleto de velhos LPs, compacto discos pelas paredes e caixas de papelão. Além de pôsteres de artistas, como nos velhos tempos, espalhados por todos os lados", descreve.
O escritor também ressalta a boa qualidade dos discos de Baixim. Ele constata em alguns vinis um estado de conservação que impressiona. Mas há os que não valem tanto a pena nesse quesito. "Mas que no fundo representam um verdadeiro ato de resistência contra a chamada tecnologia digital. Discos usados, muitos deles com manuscritas mensagens de amor; dedicatórias dos seus antigos donos aos seus entes queridos. Presentes afetivos, cuja lembrança nos toca tanto quanto as canções que preservam nos seus riscados sonoros", observa.
O que José Cícero se admira é da memória de Zé Baixim, de saber todos os nomes dos artistas e a localização exata do disco solicitado pelo cliente em meio a tantas pilhas de discos. "Pedi um Bob Dylan, Amália Rodrigues, João do Vale e Rod Stuart. E depois, Trio Nortista, Charles Aznavour, Beatles, Maurício Reis, Nat King´ Cole", dentre outros. E ele foi direto ao ponto". E é lá, nesse espaço pequeno e simples, que se encontra Zé Baixim dos discos.
Público jovem
E não são só os adultos, gente da velha guarda, que visitam a loja de LPs. São adolescentes, crianças que frequentemente viajam nas pilhas de discos, bem organizadas, de Zé Baixim. A forma como tudo é arrumado é conforme o gênero musical. É da MPB, pop rock, internacional, aos ´hits parede´ de décadas pretéritas. "Os jovens conseguem diferenciar a sonoridade, a qualidade do som do CD para o LP. Tenho clientes assíduos nessa faixa etária", afirma. E têm até clientes especiais que chegaram até sua loja para adquirir raridades. O cantor e compositor Bartô Galeno é um deles.
E a paixão pela música é grande. "O povo fala que vendo sonho. O maior prazer de minha vida é poder negociar com música. Isso aqui é minha vida". É assim que o comerciante Zé Baixim defende o mundo que criou em torno de si, trabalhando a memória musical.
MAIS INFORMAÇÕES
Zé Baixim dos Discos
Rua 24 de Março, 03
Bairro Franciscanos
Juazeiro do Norte - CE
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Publicado em 17 de janeiro de 2010 no DN
FONTE: http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=720944.
LEIA TAMBÉM: http://vermelho.org.br/ce/noticia.php?id_noticia=122504&id_secao=61
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ARTIGO: Zé Baixim, o último dos Moicanos do Cariri -
Por José Cícero*
Quem disse que o comércio de vinil está em crise? Para o juazeirense 'Zé Baixim dos discos', tudo isso não passa de intriga da concorrência...
Foto José Cícero
Foto José Cícero
Um minúsculo estabelecimento de duas portas, “espremido” entre os modernos comércios que hoje tomam conta do centro comercial e adjacências de Juazeiro do Norte. Assim é o negócio do simpático e sempre sorridente senhor juazeirense, popularmente conhecido por uma alcunha das mais sugestivas diante do ofício que exerce por mais de três décadas - ‘Zé Baixim dos discos’.
Seu espaço comercial fica situados pras bandas da “caixa d’água” bem ao lado da Biblioteca Pública. Diria que um espaço nobre para uma atividade comercial quase extinta nos dias atuais diante da avalanche da modernidade tecnológica. Um verdadeiro empório da saudade, onde os amantes da música tradicional à moda antiga podem adquirir vinis (Compact e LP) por preços irrisórios e até mesmo pechinchar com o agradável vendeiro. São por assim dizer verdadeiras raridades do cancioneiro musical de todos os tempos.
Há quem ainda o denomine simplesmente de sebo dos discos. Um clássico quartinho, estreito com duas portas no estilo rústico e antigo, repleto de velhos discos pelas paredes e caixas de papelão. Além de pôsteres de artistas, como nos velhos tempos, espalhados por todos os lados. Alguns dos vinis em tão bom estado de conservação que impressiona. Outros nem tanto. Mas que no fundo representam um verdadeiro ato de resistência contra a chamada tecnologia digital. Discos usados, muitos deles com manuscritas mensagens de amor; dedicatórias dos seus antigos donos aos seus entes queridos. Presentes afetivos, cuja lembrança nos toca tanto quanto as canções que preservam nos seus riscados sonoros.
Estar ali apertado entre discos é como um mergulhos no túnel do tempo...
Tantos são os exemplares enfileirados nas prateleiras improvisadas e pelo chão que quase não é possível dar-se mais que cinco passos pelo ambiente em meio a tantas peças. Verdadeiras raridades da música popular brasileira podem ser encontradas no empório do Zé Baixim a preços módicos e até experimentadas no velho aparelho (radiola) faixa por faixa. Como ele mesmo diz: “a preço de banana”. Grandes clássicos de todos os mais variados gêneros e estilos musicais poderão ser encontrados no local, sem esquecer o hit internacional de todos os tempos. Sem esquecer ainda: brega, MPB, Rock, grandes nomes da música caipira (tomada de assalto hoje por uma pseudosertaneja), forró verdadeiro e de raiz, trilhas das grandes novelas, jovem e velha guarda, assim como os maiores nomes da música mundial. Tudo, sem nenhum exagero de expressão, poderá ser encontrado ali, a um passo da mão do 'Zé Baixim dos discos'.
As grandes raridades em vinis estão separadas para reprodução e colecionadores a preços que não ultrapassam os dez reais, enquanto que os discos de menores expressões podem ser adquiridos por até dois reais.
Como a música durante muito tempo tem sido a forma através da qual as pessoas aprenderam a eternizar uma época ou mesmo um momento feliz com toda a sua carga de sentimentos e emoções, o sebo de Zé Baixim tem se transformado por seu turno num verdadeiro flash back como se fosse uma ponte a nos ligar ao tempo pretérito. Uma oportunidade que muitos dos saudosistas utilizam para, por meio desta linguagem universal que é a música, matar saudade e reaver mentalmente grandes emoções dos anos idos e de outros inesquecíveis acontecimentos de outrora.
“Há mais de 30 anos que luto com a venda de discos”, afirma com entusiasmo o proprietário do empório. “Comecei vendendo meus disquinhos pelas calçadas do Juazeiro, com novos e usados. E também fita cassete. Na época a gente disputava com as grandes lojas. Hoje a disputa é com a própria tecnologia dos CDs, mas não vou desistir porque gosto do que faço e faço com amor e dedicação”, disse o vendedor, um dos últimos representantes deste ramo de atividade do Cariri e de todo o estado.
O mais incrível é que o 'Zé Baixim' sabe de cor e salteado todos os nomes dos artistas e a localização exata do disco solicitado pelo cliente em meio a tantas pilhas de discos. Pedi-lhe um Bob Dylan, Amália Rodrigues, João do Vale e Rod Stuart. E depois, Trio Nortista, Charles Aznavour, Beatles, Maurício Reis, Nat King Cole, dentre outros. E ele foi direto ao ponto. Ora, quem engorda o boi é mesmo o olho do dono...
Sempre que vou ao Juazeiro e disponho de tempo dou uma esticadinha até a venda do seu 'Zé Baixim' para trocar algumas ideias sobre discos, as histórias do seu ofício e, claro, vislumbrar o seu material, como se estivesse dando um mergulho no passado. Posto que todas aquelas pérolas raras funcionam ainda agora como grandes novidades, muito mais do que como antigamente (no tempo do bumba) quando foram lançadas. O comércio de discos antigos do 'Zé Baixim' é, sem sombra de dúvida, o mais autêntico baú ou museu das novidades. Uma feliz reminiscência daquilo que ouvimos-dançamos-vivenciamos de melhor, eternizado nas nossas mentes e corações por meio da música, a boa música, diga-se de passagem.
Pelo menos quando estou lá, não encontro nenhuma das ‘bombas’ que ora compõem as chamadas “bundas/bandas de forró”, que hoje promovem verdadeiro assassinato da autêntica música popular brasileira.
Como no passado, sempre que posso trago alguma raridade em forma de LP; doido para chegar em casa e ouvir com sofreguidão na minha “radiola”; apenas com medo de estragar a agulha porque me disseram que não existe mais à venda no mercado.
Na última vez que estive no empório dos discos fui surpreendido pelas presenças de dois alegres garotos procurando algo naquela montanha de discos. Não me contive a entabular algumas perguntas para eles. Achei estranho que duas verdadeiras crianças estivessem como eu interessadas naquilo que muitos “babacas cheio de si” costumam taxar; do alto dos seus preconceitos e falta de conhecimento, de ultrapassado e saudosismo, como se isso fosse uma vergonha, um demérito. Foi quando um dos garotos falou com muita sapiência e propriedade acerca da sonoridade particular dos discos de vinil, coisa que os CDs não proporcionam. Além da qualidade das músicas. Um de 13 anos e outro de 12 (fotos) frequentadores assíduos do local, ao que logo me dissera o proprietário. Procuravam e encontraram os primeiros trabalhos de Kid Abelha e os Abóboras Selvagens, além de Blitz e Cazuza. Perguntei-os se acaso eles preferiam o CD ao LP. E a resposta foi unânime: “O vinil é muito mais gostoso de ouvir!”. E acrescentou: "a batida e o som são diferentes. Bem mais agradáveis do que no CD", disseram.
Não sei por que carga d’águas... Mas a indústria fonográfica da Argentina, por exemplo, em respeito aos seus consumidores decidiu prosseguir com a fabricação dupla de CD’s e vinil. De modo que, qualquer lançamento musical do momento (e do passado) pode ser encontrado no mercado nos dois gêneros. Será que o Brasil não poderia fazer o mesmo?
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José CíceroSeu espaço comercial fica situados pras bandas da “caixa d’água” bem ao lado da Biblioteca Pública. Diria que um espaço nobre para uma atividade comercial quase extinta nos dias atuais diante da avalanche da modernidade tecnológica. Um verdadeiro empório da saudade, onde os amantes da música tradicional à moda antiga podem adquirir vinis (Compact e LP) por preços irrisórios e até mesmo pechinchar com o agradável vendeiro. São por assim dizer verdadeiras raridades do cancioneiro musical de todos os tempos.
Há quem ainda o denomine simplesmente de sebo dos discos. Um clássico quartinho, estreito com duas portas no estilo rústico e antigo, repleto de velhos discos pelas paredes e caixas de papelão. Além de pôsteres de artistas, como nos velhos tempos, espalhados por todos os lados. Alguns dos vinis em tão bom estado de conservação que impressiona. Outros nem tanto. Mas que no fundo representam um verdadeiro ato de resistência contra a chamada tecnologia digital. Discos usados, muitos deles com manuscritas mensagens de amor; dedicatórias dos seus antigos donos aos seus entes queridos. Presentes afetivos, cuja lembrança nos toca tanto quanto as canções que preservam nos seus riscados sonoros.
Estar ali apertado entre discos é como um mergulhos no túnel do tempo...
Tantos são os exemplares enfileirados nas prateleiras improvisadas e pelo chão que quase não é possível dar-se mais que cinco passos pelo ambiente em meio a tantas peças. Verdadeiras raridades da música popular brasileira podem ser encontradas no empório do Zé Baixim a preços módicos e até experimentadas no velho aparelho (radiola) faixa por faixa. Como ele mesmo diz: “a preço de banana”. Grandes clássicos de todos os mais variados gêneros e estilos musicais poderão ser encontrados no local, sem esquecer o hit internacional de todos os tempos. Sem esquecer ainda: brega, MPB, Rock, grandes nomes da música caipira (tomada de assalto hoje por uma pseudosertaneja), forró verdadeiro e de raiz, trilhas das grandes novelas, jovem e velha guarda, assim como os maiores nomes da música mundial. Tudo, sem nenhum exagero de expressão, poderá ser encontrado ali, a um passo da mão do 'Zé Baixim dos discos'.
As grandes raridades em vinis estão separadas para reprodução e colecionadores a preços que não ultrapassam os dez reais, enquanto que os discos de menores expressões podem ser adquiridos por até dois reais.
Como a música durante muito tempo tem sido a forma através da qual as pessoas aprenderam a eternizar uma época ou mesmo um momento feliz com toda a sua carga de sentimentos e emoções, o sebo de Zé Baixim tem se transformado por seu turno num verdadeiro flash back como se fosse uma ponte a nos ligar ao tempo pretérito. Uma oportunidade que muitos dos saudosistas utilizam para, por meio desta linguagem universal que é a música, matar saudade e reaver mentalmente grandes emoções dos anos idos e de outros inesquecíveis acontecimentos de outrora.
“Há mais de 30 anos que luto com a venda de discos”, afirma com entusiasmo o proprietário do empório. “Comecei vendendo meus disquinhos pelas calçadas do Juazeiro, com novos e usados. E também fita cassete. Na época a gente disputava com as grandes lojas. Hoje a disputa é com a própria tecnologia dos CDs, mas não vou desistir porque gosto do que faço e faço com amor e dedicação”, disse o vendedor, um dos últimos representantes deste ramo de atividade do Cariri e de todo o estado.
O mais incrível é que o 'Zé Baixim' sabe de cor e salteado todos os nomes dos artistas e a localização exata do disco solicitado pelo cliente em meio a tantas pilhas de discos. Pedi-lhe um Bob Dylan, Amália Rodrigues, João do Vale e Rod Stuart. E depois, Trio Nortista, Charles Aznavour, Beatles, Maurício Reis, Nat King Cole, dentre outros. E ele foi direto ao ponto. Ora, quem engorda o boi é mesmo o olho do dono...
Sempre que vou ao Juazeiro e disponho de tempo dou uma esticadinha até a venda do seu 'Zé Baixim' para trocar algumas ideias sobre discos, as histórias do seu ofício e, claro, vislumbrar o seu material, como se estivesse dando um mergulho no passado. Posto que todas aquelas pérolas raras funcionam ainda agora como grandes novidades, muito mais do que como antigamente (no tempo do bumba) quando foram lançadas. O comércio de discos antigos do 'Zé Baixim' é, sem sombra de dúvida, o mais autêntico baú ou museu das novidades. Uma feliz reminiscência daquilo que ouvimos-dançamos-vivenciamos de melhor, eternizado nas nossas mentes e corações por meio da música, a boa música, diga-se de passagem.
Pelo menos quando estou lá, não encontro nenhuma das ‘bombas’ que ora compõem as chamadas “bundas/bandas de forró”, que hoje promovem verdadeiro assassinato da autêntica música popular brasileira.
Como no passado, sempre que posso trago alguma raridade em forma de LP; doido para chegar em casa e ouvir com sofreguidão na minha “radiola”; apenas com medo de estragar a agulha porque me disseram que não existe mais à venda no mercado.
Na última vez que estive no empório dos discos fui surpreendido pelas presenças de dois alegres garotos procurando algo naquela montanha de discos. Não me contive a entabular algumas perguntas para eles. Achei estranho que duas verdadeiras crianças estivessem como eu interessadas naquilo que muitos “babacas cheio de si” costumam taxar; do alto dos seus preconceitos e falta de conhecimento, de ultrapassado e saudosismo, como se isso fosse uma vergonha, um demérito. Foi quando um dos garotos falou com muita sapiência e propriedade acerca da sonoridade particular dos discos de vinil, coisa que os CDs não proporcionam. Além da qualidade das músicas. Um de 13 anos e outro de 12 (fotos) frequentadores assíduos do local, ao que logo me dissera o proprietário. Procuravam e encontraram os primeiros trabalhos de Kid Abelha e os Abóboras Selvagens, além de Blitz e Cazuza. Perguntei-os se acaso eles preferiam o CD ao LP. E a resposta foi unânime: “O vinil é muito mais gostoso de ouvir!”. E acrescentou: "a batida e o som são diferentes. Bem mais agradáveis do que no CD", disseram.
Não sei por que carga d’águas... Mas a indústria fonográfica da Argentina, por exemplo, em respeito aos seus consumidores decidiu prosseguir com a fabricação dupla de CD’s e vinil. De modo que, qualquer lançamento musical do momento (e do passado) pode ser encontrado no mercado nos dois gêneros. Será que o Brasil não poderia fazer o mesmo?
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É Professor, Poeta e Escritor.
Secretário de Cultura de Aurora-CE.
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Fonte: http://vermelho.org.br/ce/noticia.php?id_noticia=122504&id_secao=61
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