domingo, 21 de junho de 2009

Meio Ambiente: Como por milagre antigo Olho d'Água de Vinô ressuscitou

Por: José Cícero



Flagrantes da nascente do bairro Araçá: JC e Dil André
No finalzinho de 2007 acompanhado do amigo Luiz Domingos estive em visita ao chamado 'Olho d’água de Seu Vinô'. Naquela ocasião colhíamos material para o segundo número da Revista Aurora.O estado do manancial era de intensa e evidente degradação. O princípio do fim de um recurso natural dos mais significativos para os sertanejos. Uma das últimas nascentes num raio de quase 50 km, senão um dos derradeiros de todo o município. Com certeza o único espécime concentrado dentro de uma área urbana de toda a região.
Estávamos diante de um verdadeiro crime ecológico agravado pelo total descaso e a indiferença da maioria das pessoas. O que forçosamente nos fez elencar como matéria para a reportagem-denúncia sob o título: “olho d’água de Vinô – Pequeno grande sinal de uma morte anunciada”... De lá para cá, o problema da degradação e do desprezo ainda permanece. Porém, a natureza como por milagre fez a sua parte. Mas as ações antrópicas ainda são por assim dizer, assustadoras - uma constante em desfavor de uma convivência sustentável entre homem e natureza.
Preste a completar dois anos daquela primeira reportagem, a Revista Aurora retornou neste domingo(21 de junho) ao local, desta feita, acompanhado de um antigo morador das imediações, o artesão Dil André, que mantêm uma relação de proximidade quase afetiva com aquele recurso natural, localizado no alto Araçá, ao Norte daquele populoso bairro. “Parte da minha infância passei brincando ao lado do olho d’água”, disse o artesão com um misto de tristeza e saudade. "Carregávamos água de beber deste lugar, assim como quase todos os moradores do Araçá", completou.
A Surpresa pela renovação:Como por puro espanto, fui pego agora de surpresa ao contemplar a pequena nascente. Uma sensação de felicidade e contentamento tomou conta de mim ao constatar que pelo menos ali, a natureza se recompôs de maneira maravilhosa. Um prodígio, quando comparamos as imagens feitas há dois anos com as de agora. Era como uma grande ferida tivesse quase totalmente cicatrizada. Sim, quase. Por que o perigo infelizmente ainda continua a rondar o ambiente. Em parte pela velocidade com que se processa a urbanização. Quase. Porque embora a mata tenha voltado a cobrir de verde o local, há grandes sinais de poluição deixada pelos que ali comparecem todos os dias para retirar água, banhar-se e até(pasmem) lavar roupa etc... Muito lixo: Peças de roupas íntimas, plásticos, restos de produtos químicos(sabonete, sabão, água sanitária e alvejante), garrafas pet, dentre outros dejetos encontram-se espalhados ao redor da nascente misturados a relva que nos inverno, são arrastados para o açude um pouco mais embaixo.
Pura renovação ecológica:
Mas, incrivelmente o Olho d’água, parece ter voltado a vida. Um filete de água límpida como nos velhos tempos escorre lentamente córrego abaixo em direção ao açude e de lá para o Salgado. A relva vivaz ao seu redor, parece colorir o ambiente como por um pincel dos deuses na mão mágica de um grande artista a la Monet.
A beleza espalhada pelo ambiente da nascente:As moitas sombreiam quase por completo o pequeno espaço arredondado formando um buraco geométrico onde a maior porção de água se concentra represada por uma terra escura do barranco do morro. Um duro massapé, pedregulhos e barro, adornado pelo juremal a se estende como um tapete intransponível por todos os lados. O olho d’água de seu Vinô, retorna a vida como alguém que desistiu da morte para enfrentar de peito aberto as grandes agruras da vida. Um retorno cuja vitória a partir de agora dependerá muito mais de nós os aurorenses citadinos do que da própria natureza que como se percebe está cumprindo o seu papel. Eis aí, uma dádiva da natureza a contrariar a falta de consciência, assim como a disposição dos homens contemporâneos em conviver harmonicamente com a biodiversidade e os recursos naturais.
O Araçá em particular e a cidade em geral mantêm uma dívida impagável como este pequeno manancial. É chegado o momento de fazermos a nossa parte. Do contrário, talvez a história não mais nos absolverá.
A Entrevista:Em entrevista que fizemos como o professor Moacir Leite, um dos herdeiros da fazenda onde a nascente está localizada, o mesmo na época nos falava sobre a história daquela nascente. Um pouco de crendices, misticismo e religiosidade que no seu conjunto mais geral era simplesmente cativante. Tempos depois o professor falecera e a matéria não saíra por completo na revista.
Disse nos ele, que outras vezes a tal nascente secou, raptada que foi por alguém que a queria em outras terras. E para que a tivesse de volta o professor Moacir teve de recorrer a divindade, portanto, com a ajuda de um rezador foi feito todo um ritual para que o manancial retornasse ao seu lugar de origem. O que aconteceu na manhã seguinte...
Idas e vindas de algum modo como se ver, parece ter sido até hoje o destino da velha nascente do alto Araçá. Que ela permaneça para o todo e sempre. Um sinal de que a natureza benfazeja como é estará de novo de bem com os homens na sua missão divina de irrigar a terra, matando a fome e a sede da humanidade.
A Biodiversidade: Fauna e flora.
Até a estrada que mandaram abrir nas proximidades foi de novo engolida pela mata composta de arbustos rasteiros, mas essenciais ao equilíbrio daquele bioma da caatinga dos nossos sertões. Pássaros e outros bichos de pequenos portes já são possíveis de serem vistos dando alegria e vitalidade aquele ecossistema exclusivamente nordestino.
Contudo, o olho da água continua precisando dos nossos cuidados imediatos e permanentes. A natureza fez a sua parte. Façamos a gora a nossa. A indiferença é pura conivência. O tempo urge! A vida não pode parar...
Na nossa visita deste domingo nos deparamos com várias crianças retirando lenha(pequenos gravetos) para as fogueiras de São João. Um fato que bem comprova a velha interatividade do local com a comunidade araçaense. Sentimos inclusive, a ausência de antigas árvores que havíamos fotografado havia dois anos. Mas não diga que foi pela necessidade. Isso não. Simplesmente, porque não se queima mandacaru pelos menos por necessidade. Estas cactáceas enormes em que debaixo das mesmas(naquela ocasião) pousamos para as fotos. Agora todas desapareceram da paisagem. Mais uma prova de que o homem é mesmo um fazedor de desertos quando não consegue compreender, e tampouco dá o devido valor a fauna e a flora da nossa caatinga da Aurora.
JC/Revista Aurora

sábado, 20 de junho de 2009

Avança Cariri!

A Região do cariri cearense sempre foi um núcleo muito coeso, tendo inclusive, inúmeras manifestestações artísticas, culturais, religiosas (...) que permeiam no tabuleiro histórico pontos firmes de identidade, muitas vezes, beirando ao bairrismo: porém sempre dentro de uma linha afirmativa de desenvolvimento nuclealizado que irradia luz para todas as cidades que formam este espaço geográfico, já, devidamente revestido de uma cultura bem consolidada no espaço tempo. A Criação da Região Metropolitana do Cariri é sem dúvidas um renascimento muito afirmativo para “no vislumbre de um mundo globalizado” a necessidade de canais legalizados, onde os recursos possam fluir naturalmente, no processo interativo de desenvolvimento global do cariri, porém aí, é, que de fato reside o perigo. Explico: O Bairrismo de forma afetada, forma uma ideologia, mais do que isto, uma bandeira, mais do que isto, uma doutrina , às vezes até uma xenofobia emocional direcionada, o pior é quando a xenofobia é direcionada a uma cidade, a política, a economia, a razão de ser do conjunto, o eixo, a sagração do trono do rei, o ponto máximo; O Poder concentrado e diluído em uma única cidade, porém, vejo que a Região Metropolitana do Cariri é um ponto de difusão de desenvolvimento para todas as cidades satélites que formam a região do cariri cearense, ou seja, do seu núcleo são irradiadas todas as formas afirmativas de desenvolvimento para o bem comum de todo o conjunto caririense, pois, com certeza é o que pensa, presumo, todas as cidades satélites desta linda região no sul cearense, porém, não poderia haver algo de mais danoso do que o pensamento mesquinho e egoísta de que é preciso fazer uma metrópole implodindo as demais cidades, com um raciocínio medíocre de que o cariri não comporta mais de uma metrópole, quem pensa assim, conspira contra o cariri, contra a globalização e, por fim, contra o pulsar de crescimento econômico na querida região do cariri cearense.
Por: Luiz Domingos
Aurora-CE.

AURORA: Prefeito Adailton promove Governo Itinerante em Ingazeiras




A prefeitura de AURORA realizou no último dia 14(domingo) a Comitiva da Cidadania no distrito de Ingazeiras. A abertura oficial do evento aconteceu às 8 h com a solenidade de instalação do governo na comunidade. A programação seguiu das 8 às 16 h culminando com um festa dançante no Clubre Recreativo Ingazeirense(CRI).
"Um acontecimento exitoso e pioneiro", afirmou o chefe do executivo aurorense, Adailton Macêdo
Domingo dia 14 o distrito de Ingazeiras em Aurora vivenciou um acontecimento simplesmente pioneiro. Denominado de “A Comitiva da Cidadania: A Prefeitura indo até você”. Trata-se de uma espécie de governo municipal itinerante onde o prefeito e o vice com todo o seu cast de secretários e assessores visitam durante todo dia um determinado distrito e ou um bairro. Ocasião em que coletivamente é debatido todos os principais problemas por que passa a comunidade.
Na oportunidade o prefeito Adailton Macedo juntamente com todo seu secretariado despachou das 9 às 16 h no colégio Padre Cícero da localidade. No mesmo local todas as secretarias promovem algum tipo de ação voltada para a comunidade. Foram desenvolvidas uma série de ações junto a população desde atividades médicas até a prestação de serviços sociais, de entretenimento, educação, cultura, esporte, agricultura e de lazer dentre outros.
“Foi um dia para ficar na nossa história. Nunca vi por aqui um dia tão animado e alegre” disse o jovem Arnaldo da Silva, artista plástico e morador do distrito. O prefeito Adailton ao lado da sua comitiva não escondeu seu contentamento diante da forma participativa e exitosa com que toda programação transcorreu durante o dia.
Palestras educativas, encontros com desportistas e artesãos, distribuição de mudas frutíferas, cortes de cabelos, manicure, serviços de fotografia 3x4 e emissão de documentos pessoais e xérox, atendimento médico e odontológico, psicólogo, informações da bolsa escolar, encontro com funcionários e pequenos produtores, exposição fotográfica, apresentação de repentistas populares, recital de poesias, contação de estórias infantil, apresentações circenses, parque infantil, torneio de futsal masculino e feminino, sorteios de premios para as mães da comunidade, instalão de uma academia de educação física, teatro, distribuição de cestas básicas, higiene bucal com aplicação de flúor, show musical com Índios dos teclados e banda; foram algumas das diversas atividades ocorridas durante o evento. O Sesc Cariri também participou efetivamente de todas a programação através do projeto "Sesc Solidário" e "mesa-Brasil" sendo representado pelo coordenador da iniciativa Paulo Damasceno e pela Srª Ediene.
Na próxima semana o prefeito estará se reunindo com todo o seu secretariado para discutir o agendamento da próxima Comitiva da Cidadania.
Redação do blog do JC e da Aurora.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Comunidade católica de AURORA participa de Procissão de Corpus Christi




A comunidade católica de Aurora comemorou na noite desta quinta-feira, 11 a passagem do Dia de Corpus Christi com uma missa na igreja matriz do Senhor Menino Deus tendo como oficiante o padre Cícero Leandro, vigário local, seguida da tradicional procissão que percorreu as principais ruas da cidade em direção a capela de São Francisco no Araçá.
A secretaria de Cultura do município ornamentou toda a avenida Antonio Ricardo no centro da cidade com um extenso tapete construído com pó de madeira, casca de arroz, flores, pedrinhas do rio salgado e coloridas pinturas de paisagens bíblicas. Tudo para receber os fiéis participantes da procissão. Moradores das ruas por onde o cortejo passou também enfeitaram as suas residências em especial os da rua Dr. Guedes Martins e Bela vista que construíram igualmente um grande tapete para receber os devotos.
A procissão terminou com um evento religioso na capela de São Francisco no Araçá, o bairro mais populoso de Aurora. Foi um acontecimento dos mais animados e participativos já promovido pela paróquia aurorense.
Comemorações Juninas:
Durante todo este mês de junho, o município viverá uma extensa programação voltada para Santo Antonio, São João e São Pedro – as chamadas festas juninas que tradicionalmente acontecem em toda região. A prefeitura por intermédia da Seculte-Aurora realiza, por exemplo, o São João no dia 24, na praça do Monsenhor com as bandas Forró Lapada e Forró Sacanear, E no dia 29 o grande São Pedro com o 1º Festal Junino – Festival de Quadrilhas Juninas sob a animação das bandas: Forró na Veia e Eclipse do Forró. Vários outros eventos acontecem ainda este mês, tanto na sede quanto em diversas localidades da zona rural. Toda a comunidade está sendo convidada.
Da Redação do Blog d'Aurora

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Reflexões sobre a Guerrilha!*



Há uma passagem no “Mini-Manual do Guerrilheiro Urbano”, escrito por Marighella, que certamente tenha tido sua base nas observações de Che, em seu livro “A Guerra de Guerrilhas”, que, aliás, é interessante do ponto de vista estratégico, segundo as experiências de Guevara na revolução cubana.Discorre sobre como provocar uma ditadura até que ela monte um extenso aparato de repressão sobre a sociedade, a fim de que esta se volte contra o governo por se sentir alijada de garantias fundamentais. Assim, como afirma Che, a ditadura se desmascara, mostra-se como ela é. O que vem a gerar um descontentamento popular que poderia auxiliar as operações da guerrilha.O general Médici, que, conforme muge o cabo Anselmo, era um “bonachão”, teve a perspicácia de manter a violência e, ao mesmo tempo, acelerar o desenvolvimento dependente e antinacionalista da economia, baseado na oferta de bens de consumo duráveis. Com a copa de 70, estava tudo perfeito. A anestesia para o povo foi daquela de deixá-lo praticamente em coma.Durante a guerrilha urbana, ninguém da favela se levantou, preferindo a malandragem do samba na esquina, onde até uma caixinha de fósforos servia de percussão. O proletário estava com sono.A classe média queria dirigir um Maverick e ver TV a cores.E pronto.Com a mídia amarrada, o governo lançou uma campanha terrível e eficiente de aniquilação moral da esquerda armada. Enquanto isto, braços paramilitares do Poder Executivo cometiam crimes tão brutais quanto as SS nazistas.Não vivi aquele tempo, embora tenha nascido durante os eventos mais dramáticos, mas me arrisco a um palpite.Talvez se, a partir de 1970, toda a guerrilha urbana se desmobilizasse das cidades para se infiltrar nas selvas do país, poderia formar um corpo muito maior e mais coeso do que o composto dentro das cidades, onde a luta era mais difícil e compartimentada.Por outro lado, a guerrilha não dispunha de armamento de longo alcance. Para combate em selva, o fuzil é imprescindível. Um bom fuzil. Onde estava a Mãe Rússia que não mandou para os guerrilheiros do Brasil seus maravilhosos Kalashnikovs? Que conspiração comunista era essa afinal, em que os supostos principais interessados na posse do Brasil, que seriam os soviéticos, segundo a acusação de muitos na época, não se moviam um centímetro?Dentro da cidade, eu concordo com o que disse Marighella sobre o uso de pistolas, revólveres e pequenas metralhadoras, enfim, armas curtas para ações rápidas.Seria preciso assaltar pelo menos uns 20 quartéis no país para levar a fuzilaria toda, granadas, morteiros etc. Isso estava fora de cogitação, ainda mais depois que Lamarca deu um chão no arsenal de um regimento em Osasco. A vigilância se tornou implacável.O pessoal da rede urbana talvez não tivesse condições para empreender longas marchas dentro das selvas, movimentar-se com rapidez. Talvez não tivéssemos a astúcia dos vietnamitas, por exemplo, que colocavam a resistência total como o princípio básico da sobrevivência dentro das matas, numa desenvoltura impressionante que tornou lendária a tática de guerras daquele povo.Sei lá. Provavelmente, as Forças Armadas utilizariam bombas de fragmentação e NAPALM à larga se todas as guerrilhas fossem concentradas na Amazônia, sobretudo se Lamarca estivesse por lá, treinando militantes e camponeses que quisessem engajamento.Segundo a tática maoísta, as cidades deveriam ser esmagadas por um cinturão formado pela guerrilha popular, sufocando, estrangulando, atacando os meios de comunicação. No Brasil não tinha gente o bastante para isto. Como arrebanhar da noite para o dia um jeca-tatu que está lá nos rincões fumando a palhinha dele, com as unhas pretas de terra e as mãos grossas como lixas?A teimosia e a lamentável mania que a esquerda tinha de acusar outros grupos disto ou daquilo, fazendo juízos entre certos e errados, de modo dogmático, atomizavam seu aparato ideológico e militar. Havia vários raciocínios para um só objetivo, que nunca é alcançado quando um raciocínio se ocupa da destruição de um outro.Imagino outra hipótese: a da participação armada dos trotskistas, se estivessem a fim mesmo. Na verdade, eles se abstiveram. Como seria a relação entre a linha de frente treinada em Cuba e o pessoal de Trotsky?Eu quase tenho certeza de que, no final, os trotskistas seriam acusados pela derrota da esquerda e terminariam mortos como fizeram os comunistas contra os anarquistas na guerra contra Franco. Um banho de sangue entre as Brigadas Internacionais em uma das mais belas páginas da história da humanidade. Que desgraça!Ramon Mercader, bandido stalinista que rachou a cabeça do velho judeu no México, por ordem do crapuloso Big Brother, terminou seus dias na ilha, sob a égide de Fidel. Provavelmente, trotskista não seria gente bem-vinda para o combate, de tal forma que esta facção se limitou a lutar através de jornais clandestinos, até criticando quem estava no combate aberto.Alguns acusavam a ALN, por exemplo, de cair num tipo de terrorismo vulgar, de desvinculação das massas trabalhadoras, de lutar sem elas etc.[Por falar na ALN, recordo-me da entrevista do infame cabo Anselmo que defende a tese segundo a qual o grupo de Marighella nada mais era do que o braço armado do PCB; que o Partidão não tinha ficado “neutro” na luta e que o rompimento de Marighella com o partido através daquela famosa carta era tudo farsa para que o PCB ficasse intacto e a ALN pudesse descer a madeira...]Não há como intuir sobre o passado.Ninguém sabe que rumo tomaria a luta armada se ela fosse essencialmente rural, sem braços nas cidades, onde ninguém quis se levantar para aderir.De minha parte, eu não sei como procederia se vivo fosse naquelas condições. Acredito que não teria a energia [nervosa] necessária para enfrentar aquele aparato todo. Tenho respeito por aqueles que tiveram essa energia e morreram.Reflito sobre a possibilidade de revolução, que acho ser remota aqui no Brasil, quase impossível, mesmo via eleições. Não sei até que ponto um companheiro meu não estaria disposto a me matar somente porque discordei de alguns questionamentos que foram lançados. Não sei até que ponto estaria seguro ao lado de alguém que só seria meu amigo enquanto pensasse politicamente como eu.Eu sou comunista, não cultivo valores absolutos do stalinismo nem do trotskismo, e entendo ser melhor morrer ao lado de homens que são justos do que tomar um chão pela injustiça de um camarada de armas.É uma honra aceitar esse tipo de morte. Porque, a rigor, a luta só é justa enquanto der combate às injustiças.Os danos psicológicos do passado permanecem até hoje, para nossa desgraça.
Escrito por Luiz Aparecido

terça-feira, 2 de junho de 2009

Trabalhadores de Aurora tentarão a sorte nos canaviais paulistas


Por: José Cícero
A Saga dos homens sertanejos se aventurando no além-fronteira
Todo ano a situação se repete. Empurrados pela necessidade cada vez mais crescente de emprego na luta pela sobrevivência, grandes levas de jovens trabalhadores rurais de Aurora são obrigados a deixar a sua terra natal para se aventurarem na agricultura canavieira do interior de São Paulo. Esta realidade é hoje uma constante na vida de um grande número de jovens trabalhadores espalhados por diversos pequenos municípios do interior do Nordeste.
É quase uma diáspora dos tempos modernos, uma vez que diversas famílias são separadas dos seus entes queridos por forças das contingências sociais, ou seja, na busca de melhores dias.
Esta migração anual vem virando rotina na vida de centenas e centenas de famílias de várias cidades do Cariri e do Nordeste como um todo. Uma prova de que o Brasil ainda não conseguiu resolver as suas mais gritantes contradições agrárias e, tampouco o grande sofrimento conferido ao trabalhador rural da chamada agricultura familiar ou de subsistência.
Nos anos de estiagem prolongada ou de seca verde como agora, o problema se agrava. Nestes períodos de verdadeiras calamidades, o número de pessoas que resolvem abandonar temporariamente sua terra é algo por demais considerável. Uma verdade quase incoveniente...
A falta de uma reforma agrária efetiva, aliada ao desemprego estrutural se expressa cada vez mais nestes verdadeiros movimentos migratórios que anualmente se repetem de forma intensa e no alto salgado do Cariri Cearense.
Um fato no mais das vezes lamentável quando se leva em consideração as condições produtivas das terras nordestinas e do vale do Cariri. Há ainda, por outro lado, um verdadeiro corte familiar quando muitos são quase que forçados a deixar para trás famílias inteiras. Este incrível acontecimento carrega no seu bojo, uma constatação: a de que o Brasil necessita com urgência de uma reforma agrária séria voltada para, entre outras coisas, garantir a fixação do homem na sua própria terra.
Existe hoje em todo o Nordeste um notório esvaziamento e abandono do campo. De modo que é possível constatar também o processo cada vez mais intenso do êxodo rural. O abandono do campo é hoje, uma realidade das mais preocupantes. Algo que está a ocorrer em todos os recantos rurais do Ceará e do Cariri com especialidade. Nossa zona rural, por outro lado, está virando um deserto. O clima de abandono é quase total. A produção algodoeira e canavieira agora é quase inexpressiva. Um acontecimento que, ao que tudo indica começa a se perder de vez nas brumas de um passado recente. Os antigos engenhos de rapadura, por exemplo, que antes eram a marca do Cariri e do Nordeste; hoje praticamente não existem mais. Causando assim um grande baque na base da principal economia dos nossos sertões. Os velhos engenhos hoje no Ceará não passam de um símbolo remoto de uma saudade que nunca passa. A solidão e o abandono são hoje duas faces de uma mesma moeda quando se trata da zona rural como lugar antes aprazível de moradia, produção e fonte de renda.
Casebres e até os velhos casarões dos antigos coronéis/latifundiários estão hoje em completo estado de abandono. Uma situação que bem denuncia também o grau do desprezo em que estiveram(e ainda hoje) continuam submetidas populações inteiras do nosso interior. Estes que estão como que obrigados a deixar suas terras para trás, em busca da ilusão de melhores dias nas cidades e até mesmo em outras regiões desenvolvidas do país. O que só agrava ainda mais a péssima situação vivida pelas grandes metrópoles brasileiras.
A Partida:
A partida do ônibus é uma tristeza. Mães, esposas, namoradas, filhos e parentes todos ficam com o semblante cortado pelo choro e os olhos mergulhados em lágrimas. As ruas que contornam a pracinha com a estátua do Padre Cícero ao centro, parece ainda mais pequena diante do grande número de pessoas que testemunham mais um triste espetáculo na vida da juventude sertaneja.Uma agrura que a partir daquele momento se fará como que inenarrável o cotidiana a partir de então. O clima de despedida parece entristecer a todos, tanto os que partem quanto os que ficam. Todos ali parecem apostar na perspectiva de um futuro melhor. O apostar no futuro é a tônica de cada um dos que parte deixando seu torrão para trás. Todos têm que acreditar. A fé, assim como a ousadia e a coragem são ingredientes que lhes fortalecem o ânimo para a batalha que agora está só começando...
O eterno devir
Para muitos deles, este acreditar logo se transformará em ilusão. A vida difícil também os acompanha até o corte da cana no interior paulista. Alguns, segundo confidenciam, conseguem juntar algumas economias, outros na sua maioria, sequer conseguem o dinheiro suficente para o retorno no tempo marcado. Quando outros não voltam nunca mais, vítimas que são dos seus 'gatos', do trabalho escravo, ou mesmo de algumas das várias enfermidade que os acometem nas terras do Sul.
A lida é árdua mas a saudade de casa, é no mais das vezes, um fardo muito mais pesado do que o trabalho braçal empreendido no corte do canavial. A fé assim como a vontade de voltar para o seio da sua gente os anima. De tal modo que os dão muitas vezes, a energia necessária para agüentar aquele martírio com a mesma bravura somente conferida aos verdadeiros heróis. E eles partes como deserdados de uma nação distante e desalmada, querendo uma nova chance de abraçar a liberdade, tanto quanto o sonho de grandeza, que os animará até o retorno no final do ano. O ônibus parte. Acenos de mãos dos dois lados se repetem como um espetáculo especialmente ensaiado para o instante da partida. Abraços de despedidas, beijos de até breve, aperto de mão, palavras de boa sorte e 'vai com Deus'. Frases curtas mas que na repetição quase desenfreada da mutidão funcionam como afagos aos olhos e o coração de todos aqueles homens, jovens, que se entregam ao sabor da sorte e do destino como autênticos Prometeu do sertão do oco do mundo. Sempre acreditando que o amanhã será quase sempre possível a partir de uma construção coletiva com as forças dos seus braços e a energia das suas mãos, coração e mentes. Eles não esperam que o futuro aconteça por si mesmo(ou por mero acaso da sorte simplesmente), como muitos o fazem. Eles vão lá e o constrói com seu esforço, coragem e disposição de luta. Acreditando em Deus, toda a divindade parece está do lado deles. O padre Cícero no alto da praça também parece insinuar uma benção para todos. E eles todos acreditam neste mistério ao passo que repetem o gesto na direção do que eles próprios chamam de "o santo do Nordeste". E assim seguem crentes no acontecimento de um grande milagre. Talvez aquele que mesmo sonhado há anos, nunca ocorrera por estas bandas. Porém o governador perpétuo do Sertão os promete. E eles acreditam piamente nesta assertiva. A esperança é tudo que lhes restam depois daqueles momento eterno onde as sensações mais latentes se misturam as suas emoções. E eles se agarram a ela(a esperança) como se fosse o mandacaru do sertão, confiando sempre na segurança máxima dos seus espinhos. Uma carnaúba desfolhada, como gente esquelética com as mãos para o alto pedindo, implorando água e bonaça aos céus. O céu de brigadeiro está em São Paulo, imaginam todos eles. Irmãos da sorte ou das desventura... Fica uma saudade tão forte ao ponto de dissipar o próprio sofrimento do sertão sem oportunidade.
O futuro:
Aurora agora começa a ficar para trás. O futuro é uma estrada longa quase sem volta, quase sem fim... Quem sabe uma condenação inexorável com o devir. Ninguém jamais pôde, por capricho ou opção, se livrar desta imposição cronológica do tempo sob o tacão e a mecânica natural das coisas. O destino lhes espera no além-flornteira ante os extensos canaviais paulistas. E assim eles se matêm conformados com o destino que a sorte escolhera para eles. O futuro que lhes fora confiado não haverá de os trair. Não, desta feita não. Simplesmente porque Deus e o padre Cícero não o desejam. Ninguém sabe ao certo o que lhes espera nos confins do mundo. Mas eles mesmo assim acreditam. Afinal, que outra opção haverá de escolher, senão acreditar até as últimas consequências das suas atitudes ousadas de célebres Dom Quixotes da caatinga? O desconhecido há muito passou a povoar o imaginário desta gente da Aurora: forte, destemida e sonhadora. Como de resto acreditam no velho ditado carcomido de que 'quem cedo madruga: Deus Ajuda'. Mas muitas vezes Deus parece está ocupado demais para testemunhar todo o drama e o sofrimento vivenciado pelos sertanejos canoeiros dos sertões de Aurora e do Nordeste inteiro, agora espalhados pelas terras estranhas. Lugar onde o sertanejo como sempre, é ainda hoje transformado, no que um dia Euclides da Cunha nominou de “hércules quasímodo”. Mas não. O homem caririense onde quer que esteja, ou é uma lenda ou um indelével sinônimo de valentia e consideração
- Vai como Deus meu filho! Meu padim padim ciço lhe proteja e guarde!
- A bença minha mãe! - Deus te abençoe meu filho!!
- Eu te amo meu amor! – Um cheiro minha Nega! Já já nós tá de volta...
As palavras de cuidado e de carinho começam a ficar inaudivéis, fracas, distantes, dando lugar ao gesto, ao meneio ao balançar rítmico das mãos espalmadas agora solta ao vento.
O ônibos aumenta a velocidade. Aurora agora é uma miragem. Uma lembrança a povoar muito mais o imaginário de todos aqueles que no interior do veículo começam a dirigir seus olhares e pensamentos para o que ficou para trás. Como também pelo mistérios das coisas e dos acontecimentos que os esperam na distância. Nas terras onde o desconhecido mais parece um fantasma horrendo. Uma visagem em carne e osso. Um pássaro agourento a atormentar seus ouvidos e sua paz. A partir deste instante cruel, os canavieiros da Aurora não têm mais escolha senão acreditar na esperança de que um novo amanhã será possível a partir das suas crenças e na feitura dos calos das suas mãos empreendidas a edificação da magia ou do milagre.
Uma ousadia em favor do sonho:
Uma história de coragem, luta e ousadia começa a ser escrita a partir de então. E os canavieiros d'Aurora agora são a um so tempo, testemunhas e personagens de uma saga. A náu agora navega no alto mar da ilusão. O desafio foi lançado. Os homens da Aurora agora têm a chance de promover pela primeira vez na sua história um acerto de contar do seu passado e presente com o futuro que eles mesmo poderão escolher e construir. O padre Cícero, sisudo e impávido permenece no centro da praça orando por todos eles, agora sozinho, assim como os trabalhadores aurorenses quando no meio dos canaviais das plagas bandeirantes.
Por José Cícero
Da Redação do blog do JC
Aurora-CE.