domingo, 31 de maio de 2009

Uma pequena reflexão acerca do que escreveu o professor Luiz Domingos

O professor Luiz Domingos de Luna que por sinal é nosso velho companheiro e artífice na difícil empreitada que foi a publicação da nossa memorável e pioneira “Revista Aurora”, que aliás, praza Deus haveremos de em breve, lançarmos mais um número já prestes a entrar no prelo.
Ele, o Domingos enviara-me e-mail sob a epígrafe de Comentário para este Blog e que ora tomo a liberdade de republicá-lo aqui(no rosto da página) como forma de referendar o que escrevo agora à guisa de reflexão necessária acerca do que expôs o nobre amigo De Luna. No tocante ao que lamenta o professor, por sinal coberto de razão: quero a propósito perguntar, que tipo de coisa poderia mais incomodar um verdadeiro mestre que não fosse a aversão da sociedade ao hábito da leitura? O que de algum modo se correlaciona com a produção literária via online justamente nesses tempos de modernidade tecnológica. Naquilo que se convencionou chamar de sociedade da informação? Convêm assegurar que a internet, graças a Deus, não é mais nenhum bicho papão, coisa somente ao alcance das elites como se constatava com tristeza até pouco tempo. Não, agora mesmo a sua popularização já é um fato consumado, inclusive na nossa bela Aurora. Não é à toa que o Brasil é campeão no mundo em acesso a Internet e na aquisição de computadores domiciliares e até no número de Lan House. Então, convenhamos, o que escreve o Domingos é assaz pertinente. Creio que envolve toda uma questão de Leitura, cultura e educação, enquanto ingredientes formadores de novos cidadãos, críticos, reflexivos, conscientes e leitores em potenciais. Tudo está ligado e é preciso estarmos atentos para este fato. Tanto a produção de conhecimento, quanto o acesso a informação e aos meios midiáticos ficaram muito mais fáceis e acessíveis a partir desta "invenção" fantástica que foi a internet com seus sítios, blogs, correios eletrônicos etc.
Nada pode incomodar tanto um educador que o contrário de tudo aquilo que se propõe para melhorar a educação da população. Temos que estar sempre aprendendo o tempo todo e cada dia mais e mais...A internet com os seus macanismos on-line são deveras indispensáveis para este desiderato. Que pode mais incomodar um professor do que os baixos índices de aprendizagem, O desregramento, a indisciplina, o distanciamento ético, os baixos salários, o descompromisso com as questões capitais do globo e que estão diretamente relacionadas ao gênero humano e a vida do planeta, a biodiversidade sem o viés educacional? Que outra coisa poderia incomodar e entristecer mais o verdadeiro professor que não o descaso, o fisiologismo, a mentira, o faz-de-conta para com tudo aquilo que deveria ser feito de um outro jeito, de uma outra maneira... quando mais e mais se distancia dos princípios educacionais, sobretudo aqueles defendidos até mesmo com a própria vida por figuras do naipe de Anísio Teixeira, Calmon, Paulo Freire, Darcy Ribeiro dentre outros?
Quero dizer que a preocupação do meu amigo Luiz Domingos é algo extremante necessário. Muito mais que incômodo e preocupação, diria que, urge que nos indignamos todos. Ou será que já se perdeu até mesmo esta capacidade do homo sapiens?! De modo que, diria ainda ao professor Luiz, que mais grave é saber que aqueles que têm por missão difundir o hábito da leitura não o fazem, não o tomam para si próprios como algo prático, fundamental e necessário como mais uma crucial ferramenta de crescimento e aprimoramento do seu ofício cotidiano. Diria que para tudo, muito mais que o discurso e a mera letra morta do papel, vale o exemplo. Do contrário nada, ou quase nada evoluirá de verdade. E isto é sintomático quando se analisa os resultados referentes à educação do país como um todo. E digamos que no que se refere ao aspecto da leitura, sobretudo e principalmente, tudo que fala o mestre é algo por demais preocupante e, portanto, merece sem mais delonga uma reflexão das mais profundas. Caso queiramos ainda encontra uma saída com tempo.
Por fim, direi que o computador não produz leitores e, tampouco escritores. Ele apenas auxilia, facilita as coisas... abre caminhos, novos horizontes, clarea novas perspectivas. No cotidiano da sala de aula e também fora dela, nas visitas às bibliotecas, na receptividade do livro como algo corriqueiro, quem sabe, produto da cesta básica é que se formamos verdadeiros leitores. E a consequência lógica disso tudo será: apego a produção textual sob as mais diferentes formas. O hábito da leitura também é um déficit dos mais gritantes e vergonhosos por entre os "catedráticos".
José Cícero
Da redação
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Disse/escreveu o professor Luiz Domingos:
"Grande amigo e irmão,
Fiquei muito feliz e agradecido pelo seu brilhante comentário no blog do juazeiro, penso que nós estamos dando a visibilidade a terra do menino Deus a altura da potencialide histórica , artística , cultural (...) que brota da terra do sol nascente. Fico triste, quando vejo que Aurora existe hoje centenas de computadores plugados na internet, porém quando faço um rotativo nO mundo on-line, vejo somente artigos do José Cicero, Dr Arimatéia e Luiz Domingos.
Creio que a nossa juventude deveria, se o artigo ainda é algo distante, pelo menos comentários. Não entendo ainda o porquê de tão poucos comentários nos artigos dos colaboradores de Aurora. Creio que, ou a juventude está plugada em orkut, ou outros sites, e não no essencial que é a integração entre o elo Juventude Aurora, Aurora juventude on-line, penso que nós deveríamos, em oportuno, fazer um artigo versando sobre esta situação, vejo que os meus humildes artigos, a mais das vezes, com exceção de você: JOSÉ CICERO DA SILVA - o pioneiro da Globalização de Aurora no mundo on-line, os comentários de meus textos são de pessoas que eu mesmo, nem as conheço, é sempre uma situação vexatória para mim, Como retribuir comentários de quem eu nem conheço? Enquanto que a turma do universo on-line de Aurora continua muda, calada, omissa.
Irmão fico triste com isto,
Penso que é o momento de colocar esta meninada no mundo on-line,
Concorda?"
Luiz Domingos de Luna
Aurora, 30 de maio,2009

quinta-feira, 28 de maio de 2009

População de AURORA participa da campanha do Dia do Desafio 2009 - driblando a inatividade




Moradores de Aurora participaram na última quarta-feira, 27 das comemorações relativas ao Dia do Desafio 2009 driblando a inatividade. Trata-se de uma campanha mundial em favor das atividades físicas das pessoas. Um movimento promovido anualmente em favor da saúde, sobretudo no continente americano, em que cidades semelhantes de diferentes países entram em competição no sentido de se avaliar quem consegue colocar mais pessoas nas ruas com pelo menos 15 minutos de atividade.Este ano a cidade de Aurora na região do Cariri cearense disputara o score com a cidade mexicana de Ocampo.A participação maciça da população no dia do desafio deste ano superou todas as expectativas dos que integram a equipe da Seculte/Aurora, responsável pela organização do evento no município, segundo ressaltou o secretário de Cultura, José Cícero."Nesse dia, cidades do mesmo porte estabelecem uma competição para tentar envolver nas atividades a maior porcentagem de pessoas, em relação ao total de habitantes. É uma disputa amigável, que estimula a participação popular". No desafio, os vencedores são os cidadãos que, além do corpo, exercitam a integração, a criatividade, a liderança, o espírito comunitário e começam a compreender a importância de fazer da atividade física com um hábito diário, corriqueiro, explicou. "Atualmente em todo o mundo, a doença que mais mata é decorrente direta da obesidade, advinda do sedentarismo. Por isso a importância de uma campanha como esta, disse o secretário.
A programação do evento teve início às 7:40 h com a Saída em caminhada da Praça da Matriz em direção a quadra Poliesportiva no bairro Araçá o mais populoso da cidade. Seguido da realização de um ato público com as presenças do Vice prefeito Antonio Landim, dos secretários de Agricultura José Dácio, de saúde Petrúcya Frazão, de Cultura, Esporte e Turismo José Cícero e de Ação Social Socorro Macedo, de Administração Osasco Gonçalves, além de assessores do prefeito Adailton Macedo que na ocasião estava viajando a capital do estado, bem como de diretores das escolas participantes. Na seqüência teve início as competições esportivas com a presentação dos atletas da Arte Academia, e 8h – Futsal: Veteranos do Araçá versus veteranos do bairro São Benedito(Aurora Velha). Às9 h20min – Futsal Infantil entre bairros e atletas mirins que participam do projeto 'Esporte Cidadão' da Seculte. Às 10 h40min – Futsal Juvenil entre estudantes do colégio Paroquial versus Monsenhor Vicente Bezerra. Seguido de Futsal Feminino entre atletas da Seculte e intercolegiais. O poliesportivo se mostrou pequeno para o grande número de participantes. O encerramento ficou por conta da entrega de medalhas(premiação) às equipes vencedoras das competições.
A participação e contagem dos ativistas da campanha do Dia do Desafio 2009 em Aurora prosseguiu até às 18 h. O evento contou com a promoção e realização direta da Prefeitura através da Secretaria de Cultura, Turismo e Desporto, além do acompanhamento do Sesc-Juazeiro entre outros parceiros.Estiveram envolvidos na Programação:· Alunos Atletas infantis das escolinhas desenvolvidas pela SECULTGrupo de Convivência Social Amor e Paz (Secretaria de Ação Social)Ex-Atletas (Veteranos)CiclistasRepresentantes de todas as Secretarias Municipais, Assessoria e Departamentos.ProfessoresPessoas da população que fazem caminhadasConvidadosSecretários MunicipaisPastoral da Juventude.Pessoas da terceira idade assistida pela Secretaria de Ação Social e Casa da Família.Agentes de endemias(Funasa), atletas e ex-atletas, bem como da população de um modo geral.
Da: Redação do Blog da Aurora

sábado, 9 de maio de 2009

Antigo Casarão da Reffesa agora pertence ao município, afirma secretário de Cultura






Uma conquista das mais importantes. É com este sentimento de entusiasmo que todos os integrantes da Secretaria de Cultura, Turismo e Desporte(Seculte) do município de Aurora vêm avaliando a recente aquisição através da Prefeitura, de um verdadeiro monumento histórico de Aurora. Trata-se do antigo casarão da Reffesa, conhecida no passado como a ‘residência do agente’. Uma bela construção que bem relembra o período neoclássico, bem como a época áurea do município, quando Aurora era recordista na produção do "ouro branco" o algodão", diz o secretário da pasta José Cícero.
O velho casarão, agora completamente revitalizado irá abrigar a sede da Seculte e ainda servirá como um espaço cultural contendo sala de exposição, apresentações artísticas e oficinas de artes e ofícios.
Localizado estrategicamente no coração da cidade bem ao lado da estação ferroviária, o prédio do início dos anos 20 após as obras de reforma conferiu uma nova vida ao espaço urbanístico da cidade de Aldemir Martins e Serra Azul. “Estaremos trabalhando a partir de agora no processo de tombamento e aquisição do sobrado do fundador de Aurora - Cel. Xavier”. Uma construção ainda mais antiga, que remonta os idos de 1831, localizado ao lado da igreja matriz. Esta semana concluiremos a reforma da Estação Ferroviária que sediará a biblioteca central e Ilha digital, além de espaço para exposição temporária, museu, cine clube e um centro de gastronomia tradicional da terra. Um local de visitação pública, como no passado, enfatiza o secretário.
Dentro dos próximos dias a Prefeitura estará realizando a solenidade de inauguração dos novos empreendimentos culturais de Aurora. A instalação do museu do engenho de cana a céu aberto no entorno dos dois prédios, também é intenção da Seculte. O prefeito Adailton Macêdo assim como o seu vice Antonio Landim não escondem a vontade de promover uma política de cultura voltada para o incetivo e o resgate dos valores da terra. Na próxima semana o secretário estara viajando à Fortaleza quando juntamente com o Dr. Paulo Quezado e o próprio prefeito visitará alguns órgão estaduais no sentido de reivindicar novas conquistas para a Aurora nas áreas de cultura, turismo e esporte.
Da: Redação do blog: JC e de Aurora
In Revista Aurora

sexta-feira, 8 de maio de 2009

A Gripe A e o Desequilíbrio Ambiental

Por José Cícero
Por uma razão ainda desconhecida a natureza tem se apresentado em períodos distintos da história humana como um autêntico instrumento de contenção e controle, por assim dizer, do crescimento populacional, que no momento, beira a casa de pouco mais de 6 bilhões e meio de pessoas. Um número certamente preocupante se levarmos em conta os atuais padrões de consumo dos nossos recursos naturais. Por conta disso a natureza já começa a dá os primeiros sinais do seu iminente esgotamento progressivo.
De modo que, nunca é demais recordar os diversos tipos de tragédias e catástrofes naturais já ocorridas ao longo da história planetária. Das mais remotas, podemos citar o soterramento há mais de dois mil anos da cidade italiana de Pompéia pelo vulcão Vesúvio, o desaparecimento do continente de Atlântida engolida pelo mar revolto, segundo os relatos de Platão nos distantes primórdios da era cristã. Ainda, a misteriosa extinção dos dinossauros, bem como calamidades mais recentes como a 'peste negra', a gripe espanhola que no século XIX arrasaram populações inteiras em diferentes rincões do mundo, notadamente na Europa que teve ''um terço'' dos seus habitantes ceifados por esta pandemia mortífera. Tudo está profundamente ligado diretamente com a questão ambiental.
Agora no momento hodierno, assistimos fenômenos como o Tsunami asiático que deixou um rastro de morte e destruição no litoral da Indonésia e outros países da Ásia; o Furacão Catrina que varreu por completo a cidade de Nova Orleans nos EUA. Como também tufões e terremotos a se espalhar por várias partes do planeta, além de outros fenômenos inusitados decorrrentes do descontrole climático, tais como: secas em regiões tropicais historicamente sempre úmidas, como na região amazônica, pantanal e nos municípios gaúchos. Inudações destutivas de Norte a Nodeste do Brasil, além acontecimentos cada vez mais recorrentes, advindos do aquecimento global. A saber: o derretimento cada vez mais rápido das calotas polares elevando o nível do mar; o acirramento do efeito estufa, o aumento da desertificação, o célere processo da escassez de água doce em inúmeras partes do Globo, o assoreamento dos rios, a extinção acelerada de espécies animais e vegetais, tudo decorrente das várias formas de poluição do meio ambiente. Sem esquecermos o surgimento de novas doenças cada vez mais implacáveis contra os seres humanos, tais como a própria Aids, o vírus Ebola, a gripe aviária, a super bactéria, bem como a permanênicido do Cancêr(a desafiar a ciência dos homens) e a se multiplicar pelo mundo inteiro. Neste momento, a preocupação mais imediata é a chamada''gripe suína ou A'' causada pelo vírus H1N1, verificado pela primeira vez nos EUA e México que já começa a se expandir em escala planetária.
O mundo moderno agora é uma aldeia. É como vivessemos todos juntos num verdadeiro caldeirão, respirando o mesmo ar, compartilhando o mesmo espaço geográfico e, em contato com quase todas as realidades globais a um só tempor.
Médicos, infectologistas da própria Organização Mundial de Saúde(OMS) alertam para o perigo iminente de um surto pandêmico da influenza A que pode matar até 50 milhões de pessoas.
Uma pandemia talvez sem nenhum paralelo na história humana.
O avanço tecnológico tornara o mundo quase uma aldeia, de tal maneira que para o vírus mutante da influenza, irradiar para quase todo o planeta seria apenas uma questão de dias. Diferentemente de como ocorria no passado quando as populações eram mais estáveis. De resto é bom que se diga também, que nem sempre a comunidade cientifíca internacional pode nos dizer o real acerca de prognósticos como este. Assim, é absolutamente possível que apenas as meia-verdades estejam sendo ditas para nós no que se refere ao verdadeiro perigo potencial que representa tal gripe provocada pelo vírus da gripe suína H1N1.
Já no Brasil diante de um ministério da saúde no mais das vezes leniente, a população e o Governo precisam desde já, arregaçar as mangas e ir se preparando para o que pode vir por aí. Caso nada seja feito em tempo, tanto no aspecto educativo(conscientização) quanto no sentido da prevenção/preparação.
Por: José Cícero
Da Redação da Revista Aurora
Aurora-CE

quarta-feira, 6 de maio de 2009

AURORA: Prefeito Decreta Estado de Calamidade Pública



AURORA: Estragos provocados pelas chuvas levam prefeito Adailton Macedo decretar estado de calamidade pública.
Chuvas torrenciais. Açudes cheios, sangrando, alguns ao ponto de quase 'estourar'. O rio Salgado, maior atrativo natural do município, também recebendo uma das suas cheias mais consideráveis, visto ser ele, o principal manancial por cuja calha se dá toda a vazão das águas que ora estão banhando a extensa região do Cariri. Este é o atual perfil da quadra invernosa até agora já registrada em todo o município de Aurora e no seu entorno. A produção agrícola deste ano também já pode está comprometida pelo execesso de chuva. Esta, pelo menos é a opinião mais recorrente da maioria dos rurícolas locais.
Estragos nas estradas vicinais:
A grande quantidade das chuvas já registradas em Aurora vem provocando uma série de estragos em todas as estradas vicinais, além de sérios transtornos e prejuizos financeiros à população, notadamente da zona rural. O que praticamente inviabilizou o acesso de várias comunidades a sede municipal. Por conta disso, desde o dia 29 de abril que as aulas no município estão paralisadas até o 18 de maio, caso a incidência das chuvas diminuam o necessário para que a Prefeitura possa recuperar as estradas e o transporte estudantil deva ser normalizado. Do contrário, segundo a Secretaria de Educação, a questão ficará ainda mais complicada, visto que o estado das estradas que ligam a sede de Aurora aos distritos de Ingazeiras e Santa Vitória, assim como a Soledade, São Miguel, Terra Vermelha dentre outros estão a cada dia mais precários, ou seja, praticamente intransitável.
Difícil acesso das comunidades rurais a sede do município:
As chuvas também impossibilitaram o acesso aos vizinhos municípios de Missão Velha, Lavras da Mangabeira e Caririaçu. Pequenas pontes, pontilhões, barragens e passagens molhadas estão sendo destruídas pelas forças das enxurradas o que vem piorando ainda mais o tráfico natural de veículos e de pedestres. Além dos estudantes e agricultores, os aposentados também estão encontrando dificuldades para chegar a cidade e retirar seus proventos bancários.
Vítima fatal por afogamento:
Nos últimos dias a violência das águas dos riachos(afluentes do Salgado) foi tanta, que vitimou por afogamento o jovem agricultor Vicente Júnior, que ao tentar salvar uma das suas vacas acabou sendo carregando pela correnteza. Só vindo a ser encontrado dias depois, mesmo com a ajuda e os esforços de moradores e o corpo de bombeiros de Juazeiro do Norte.
Prefeito Adailton Macêdo Descreta Estado de Calamidade Pública:
Diante deste quadro, o prefeito Adailton Macedo decidiu decretar no último dia 04 ‘estado de calamidade pública e situação de emergência’ em todo o município. Por outro lado, a secretaria de Obras continua com máquinas e caminhões tentando minimizar o problema, mas a situação ainda mantêm incontrolável e imprevisível em face dentre outras coisas, da grande dimensão territorial do município, as poucas condições que a gestão pública possui para resolver o problema, como também a previsão de novas precipitações pluviométricas, afirma o secretário Antonio Macedo.
Decreto:
O prefeito Adailton, após assinar o Decreto viajou às pressas à capital cearense e de lá para Brasília no sentido de viabilizar recursos emergenciais para solucionar o quanto antes, a problemática porque passa o seu município. No entanto, conforme o secretário de Agricultura, José Dácio, até o momento cerca de 784,7 mm de chuva já foram registrados em todo o perímetro aurorense. Uma marca, segundo ele, muito significativa em comparação como o mesmo período dos anos anteriores. O mês de abril, foi de longe o mais chuvoso com cerca de 369,5 mm e as chuvas pelo jeito devem continuar em toda região caririense, conforme informações meteriológicas.
Temor da População:
A população do bairro São Benedito localizado às margens do rio Salgado, assim como os agricultores ribeirinhos estão apreensivos com a possibilidade de mais uma cheia. Todos ainda recordam os imensos estragos ocorridos em 2004, por sinal uma das mais graves cheias que o Salgado já sofrera deixando um rastro de destruição e desabrigando um grande número de pessoas em toda região, especialmente em Aurora(Ingazeiras), Icó e Lavras da Mangabeira. O açude Cachoeira, um dos maiores da região do alto Salgado, com capacidade de acumulação da ordem de 3,5 milhões de metros cúbicos de água já se encontra sangrando com uma lâmina de água bastante razoável.
Belezas e atrativos naturais do rio Salgado:
Mesmo diante de tantas preocupações, alguns lugares do rio tem sido motivo de visitação pública, a exemplo da ponte sobre o Salgado localizada na entrada da cidade. Durante todo o dia a população comparece ao local para contemplar a correnteza das águas vindas da suas nascentes na serra do Crato, assim como de toda a região correndo em direção ao Jaguaribe e de lá para o oceano. “É sem sombra de dúvida um atrativo dos mais deslumbrantes, assistirmos a natureza em toda a sua plenitude”, afirma o professor José Cícero, secretário de Cultura, Turismo e Desporto de Aurora. Prossegue ele, “cerca de 42 km do Salgado está situado dentro do território aurorense... Isso é uma grande dádiva da naturez".
"Poucos são os municípios do Brasil, como pouquíssimas são as cidades no mundo que dispõem deste verdadeiro privilégio ambiental. O rio é por assim dizer, um autêntico refrigério para nossa alma, nosso ar-condicionado natural, um colírio para nossos olhos, um caminho a nos apontar, tanto o céu, quando o mundo todo. Nosso cartão-portal... Penso que isso nos renova, nos impõe um momento de profunda reflexão, enquanto seres vivos e aumenta ainda mais o grau das nossas responsabilidades com a preservação ambiental, a biodiversidade, os recursos naturais e a vida como um todo”, finalizou.
Da redação do Blog da Aurora e do JC

terça-feira, 5 de maio de 2009

Crônica: Viagem de Trem...

Até meus vinte e poucos anos, se não me falha a memória, circulava no Ceará o trem de passageiros. Este percorria o trecho de Crato a Fortaleza, e vice- versa, passando por Aurora, minha cidade natal. Este percurso nós os fizemos por diversas ocasiões, principalmente quando da saída e do retorno das férias escolares, pois estudávamos em Fortaleza. E quando havia festa em Aurora era o nosso principal meio de transporte. Neste dia era lotação certa.
Os horários variavam muito. De início o trem saía pela madrugada, de Crato com destino à Capital Cearense. Depois mudou. Passou a pegar o trilho por volta das treze ou quatorze horas. Se eu não me engano, este foi o último horário estabelecido pela REFFESA para este percurso. Com certeza, também foi o melhor para nós que sempre nos deslocávamos para os festejos em Aurora. Daí, pegávamos o retorno pela madrugada, vindo de Fortaleza, por volta das cinco horas da manhã, já nos “finalmente” da festa.
De Crato até Aurora interpunham-se as estações de Juazeiro do Norte, Missão Velha e Ingazeiras. Dentre estas havia algumas paradas obrigatórias. Destas lembro-me somente da parada de Várzea Redonda, a qual fica entre Aurora e Ingazeiras, justamente porque embarquei lá por muitas vezes.
O transporte ferroviário era, naquele tempo, o mais em conta. Mesmo assim, para economizar e gastar no próprio refeitório do trem, em algumas ocasiões, driblávamos o cobrador, e não pagávamos a passagem, ou liquidávamos de uns e outros não, pois era muito fácil fazer isto. Noutra eu conto como fazíamos para despistá-lo. Além do mais a viagem era uma maravilha. Trafegávamos sempre em família e, freqüentemente íamos no restaurante tomando uma cervejinha, beliscando alguma coisa, conversando e, dependendo da sorte, “ficando” como se fala hoje em dia.
Este local chamado restaurante era um vagão preparado para este fim. Tinha garçom, geladeiras, cadeiras, etc., prontinho para curtirmos aquela aventura com tranqüilidade. Sacolejava muito e eventualmente tínhamos que nos agarrar ao que estava sobre a mesa. A gente já era tão conhecido, que tinha “cadeira cativa”. O bom é que, aqui e acolá, sobrava uma garota e a gente “lavava a égua”. Bebíamos e comíamos, ao mesmo tempo, até chegar à estação final.
Geralmente embarcávamos em Juazeiro do Norte. Outras vezes, em Aurora. A primeira estação, quando tomávamos o trem de ferro na Terra do Padre Cícero, era Missão Velha. Ali começávamos as comilanças. Saboreávamos a melhor macaxeira do Ceará. As pessoas comentavam que esta era cultivada dentro do cemitério local motivo daquele sabor inigualável.
Entre Missão Velha e Ingazeiras, já próximo desta, ocorria um fato curioso e pitoresco. Havia um garoto que, trajando-se de Chefe de Estação, a caráter mesmo, logo que notava a aproximação do comboio, vindo de qualquer direção e em qualquer horário, tocava um sino, semelhante ao que se fazia nas estações ferroviárias quando da partida e da chegada dos trens.
Outro fato que merece registro era o momento que o trem passava nas demais estações de seu percurso. Nas cidades pequenas como Cedro, Piquet Carneiro, Capistrano, Lavras da Mangabeira, e todas as demais do mesmo porte, esta ocasião era muito festejada. Todos se reuniam para prestigiar. Eu mesmo não perdia uma passagem de trem. Era muito divertida esta ocasião.
Este meio de transporte jamais deveria ter sido desativado no Nordeste Brasileiro. Era de baixo custo e de alto impacto sócio-econômico. Muitos o usavam para transportar pequenos animais, quantidades inexpressivas de mercadorias. Lembro-me que na estação de Juazeiro do Norte tinha até uma pequena feira livre nas chegadas e partidas dos trens de passageiros. Era um verdadeiro Mercado Persa. Ali se encontrava de tudo. Podia-se procurar que se encontrava até bainha prá foice. “Do penico à bomba atômica” esta seria e expressão mais apropriada para este evento.
No entra-e-sai, e desce e sobe das várias estações, fazíamos novas amizades e revíamos velhos amigos e companheiros. Além de alavancar o comércio com suas trocas e vendas de mercadorias as mais diversas e extravagantes possíveis, o trem de ferro sobre os trilhos de aço, num vai-e-vem apressado e impaciente, também construía muitos amores e paixões, e alavancava muitas esperanças e desilusões.
José Arimatéia de Macêdo -
Médico: (filho d'Aurora)
Gurupi-TO
2 comentários
José Cícero CE • Gostei imensamente do artigo em epígrafe abordando a viagem no velho Trem da nossa Aurora e Cariri que não volta mais. Ainda, pelo toque reminiscentista da matéria e, muito especialmente, por sê-lo de autoria de um aurorense de boa cepa. Parabéns e muito obrigado pelo texto a nos envolver em lirismo e recordações. Uma pena que os políticos que acabaram o nosso trem ainda estejam forte, na ativa e mantendo outros compromissos, que não o dos transportes por excelência popular com os ferroviários(sic).
Prof. José Cícero/Aurora - CE.
sheila SP • Muito interessnte este texto, mexe muito com minhas lembranças. tantas saudades, lembranças e historias para contar, mas é uma pena que hoje no estado de são paulo o trem de passageiro não circula mais. O trem me levava para a cidade de são paulo quando criança, me levou para marília no tempo de faculdade, mas hoje só as boas lembranças é que continuam a correr pelos trilhos na memória. Grande abraço, beijos!
Fonte: site Fava Contadas

segunda-feira, 4 de maio de 2009

A Globalização da Miséria*

A alta tecnologia de ponta vem devorando os postos de trabalho dos operários probos e honestos.
“As empresas estão investindo maciçamente na alta tecnologia de ponta, pois, assim, elas aumentam a margem de lucro, ao tempo em ficam mais enxutas e modernas para enfrentarem a globalização” Todo este palavreado não passa de um eufemismo enganador e cruel, o que está acontecendo de verdade é uma política empresarial globalizada norteada na concentração de capitais e na demissão involuntária, Os operários estão sendo colocados no olho da rua por conta de uma crueldade empresarial de cortar coração, pois senão vejamos: nas pranchetas dos construtores desta política excludente do capitalismo selvagem já estão programados os postos de trabalhos de hoje ou ontem? ocupados pelos trabalhadores e que serão substituídos ou tungados pelas novas tecnologias. Essa massa operária é jogada no olho da rua como animais, assim como os escravos na época do período colonial. E o pior, enquanto o operário pensa que seu posto de trabalho foi extinto por uma fatalidade, por uma evolução dos tempos, pela modernidade, outros milhares de trabalhadores já estão tendo nas mesmas “pranchetas” a exclusão premeditada da substituição do atual trabalhador pela alta tecnologia de ponta. Mas por que isto acontece ? - Porque vivemos no terminal de um capitalismo excludente, selvagem, opressor onde o capital se concentra na maioria da “minoria privilegiada” que não pensa no bem- estar social, na tecelagem humana, no bem estar da coletividade,mas apenas nas suas margens de lucro que devem aumentar diariamente, se a margem não aumenta, o corte de pessoal faz aumentar. É uma equação financeira que conspira contra o trabalhador, o operário honesto. De tanto trabalhar para a empresa, de tanto viver a empresa, coitado! esquece de si mesmo e quando for pensar em sua vida já está no olho da rua. O Que fazer com essa massa operária que está sendo expulsa dos seus postos de trabalho, simplesmente porque ele não existe ou deixará de existir em pouco tempo. O Estado tem uma política de integração de emprego para estes excluídos pela força bestial de um capitalismo devorador de operários probos e honestos? Ou se vai colocar a culpa na fatalidade? - Destino!?
Por: Luiz Domingos
Professor e poeta
Membro da Ordem Sta. Cruz (dos Penitentes)
Consultor da Revista Aurora

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sábado, 2 de maio de 2009

Gripe Suína: Os Vírus evoluem e nós os seres humanos?!


1- vírus da gripe espanhola, 2- Pessoas temerosas, 3- vírus da gripe suína
A
humanidade planetária encontra-se por demais apreensiva e em estado de alerta geral. E, digamos que tem razão de sobra para isso. Tudo por conta da possível ameaça cada dia mais iminente de uma pandemia mundial ocasionada pelo temível vírus mutante H1N1 da chamada gripe suína capaz de atingir seres humanos e se propagar de pessoa para pessoa. Segundo informações de especialistas o referido vírus sofrera mutação no organismo dos suínos, reaparecendo entre nós ainda mais forte e, até agora sem nenhum controle preventivo por parte da medicina.
Pandemia Planetária
Do ponto de vista histórico, este risco não está descartável, posto que muitas outras epidemias já ocorreram pela história afora deixando um rastro de destruição e calamidade das mais horrendas. Dentre estas verdadeiras catástrofes "naturais" registradas, podemos citar a da gripe espanhola que varreu a Europa após a 1ª grande guerra matando de 20 a 40 milhões de almas no velho continente, bem como em outras partes do mundo. Ocasião em que até mesmo um presidente brasileiro(Rodrigues Alves) também sucumbiu ao vírus da gripe espanhola de 1918.
Poder Mortífero dos vírus mutantes
Infectologistas e os próprios representantes da Organização Mundial de Saúde(OMS) alertam para o grande poder de mortandade do vírus da gripe suína(H1N1) que, potencializado pelos efeitos da modernidade tecnológica, da globalização e do intenso tráfico e mobilidade de pessoas ao redor do planeta poderá intensificar ainda mais seu poder de alastramento. Por tudo isso não é nenhuma retórica se afirmar que o mundo contemporâneo a cada dia se torna menor o que favorece e muito o aparecimento de organismos mutante e deletérios a saúde da humanidade e em escala de ataque pandêmico. Todo o intenso processo de deslocamento de pessoas, animais e mercadorias entre as mais diversas comunidades mundiais multiplica a possibilidade de uma pandemia. Vários vetores continuam abertos as transmissões virais; somando-se a isso os grandes aglomerados humanos espalhados pelas grandes metrópoles do globo. As manipulações quimicolaboratoriais de organismos, sobretudo dos alimentos/rações servidas aos animais têm servido ao surgimento de patologias provocadas por vírus e até enzimas modificadas. Quem sabe seja o alto preço que pagamos por queremos "brincar de Deus" e desrespeitar a natureza da terra.
As Pandemias na história
No passado, os riscos de pandemias eram um realidade, no entanto havia uma distância temporal entre um acontecimento e outro. Espaços que foram evoluindo à medida que o processo tecnológico e científico se aprimoravam, notadamente no setor de transporte e da genética, sem esquecer a questão do crescimento populacional que no momento beira já a casa dos sete bilhões.
Se a gripe espanhola levou pouco mais de 12 meses para se transformar numa pandemia, é provável que nos dias atuais não seja preciso mais de 3 meses. Em apenas 10 horas é provável que o vírus da gripe suína possa chegar do México ou dos Eua até nós, os brasileiros dado o incrível encurtamento das distâncias pela engenharia aéria.
O que podemos esperar?
Então, mesmo sem nenhum ranço de fatalismo, podemos assegurar que, tanto o surto pandêmico, quanto o risco de o Brasil vir ser também vítima da gripe suína, constituem uma possibilidade não menos remota. Para tanto, faz-se necessário o empenho das autoridades governamentais e um esforço de consciência da população como um todo, no sentido de se evitar que o pior aconteça.
Há quem diga que, desde o surgimento dos seres humanos no planeta, a natureza, tem-se encarregado de promover este verdadeiro “arrastão” seletivo da espécie humana por meio destes acontecimentos caóticos. Talvez mais uma evidência do primado de Charles Darwin. Para os que pesam deste modo, esta sucessão catastrófica se expressa desde os acontecimentos pandêmicos imemorriais até os fenômenos como secas, inundações, terremotos, furacões dentre outros. Neste aspecto de ilações diversas há que rememorar alguns registros que dão conta de Sodoma, Gomorra, Atlanta, Pompéia dentre vários outros povos que misteriosamente desapareceram da face da terra.
Visão Mística dos acontecimentos
Os mais místicos chamam tais fatos de verdadeira “ira de Deus” enviadas à humanidade para aplacar o pecado dos homens. No fundo, o problema existe como um desafio quase permanente aos seres racionais, posto que, de tempos em tempos retornam para, de uma forma ou de outra assolar a humanidade na sua caminhada evolutiva civilizatória. É preciso dizer, no entanto, que a forma pela qual temos tratados e nos relacionados com a natureza biológica, também tem influenciado boa parte destes tristes acontecimentos. Um aspecto que certamente nem o próprio Darwin se dera conta na sua devida perspectiva futurista...
Pelo jeito, ocorrências como esta não serão as primeiras e, tampouco as derradeira. Será o começo do fim? Difícil explicar sem passarmos a idéia do amedrotamento e do pânico. Quem sabe, a humanidade possa a partir de então, aprofundar suas reflexões mais necessárias e verdadeiras e, daí possa tirar novos ensinamentos para uma convivência harmoniosa, pacífica e mais racionalizada com todos os seres planetários.
A ciência, por seu lado, assim como o fez com o vírus da gripe aviária e tanto outos, também quem sabe possa dá sua parcela de contribuição à evolução holística e racional do homo sapiens no sentido de que nos tempos modernos uma nova pandemia a La gripe espanhola não possa de novo, atacar de modo mortal, parcelas significativas de seres humanos.
Por fim... o que se espera?
Creio, no entanto, que será preciso, além da ciência muito mais consciência e compromisso de responsabilidade compartilhada das pessoas em relação ao tipo de mundo que poderemos deixar aos nossos filhos e a posteridade em geral. É preciso que assumamos um novo paradigma de convivência baseado na ética e no respeito, inclusive e sobretudo para com a natureza e os recursos naturais.
Muitos vírus ainda estão por vir, o que importa a partir de agora, é saber como podemos mudar nossa velha forma de comportamento ante o enfrentamento e a escalada das calamidades que no futuro muito mais que hoje, haverão de castigar sem trégua e, em intervalos cada vez mais curtos a humanidade planetária, caso nada seja feito a partir deste instante. Já que estamos no ponto limite. Não há mais tempo para delongas ou vacilações...Ou mudamos ou teremos que forçosamente experimengtar o mesmo fim que tiveram os dinossauros. Estamos, por assim dizer a um passo da própria autodestruição.
Afinal de contas, será que para o resto dos seres vivos, diante de tanto mal que já causamos ao planeta e as outras espécies(e até a nós mesmos) ao longo da história, também não podemos ser encarados como vírus, invasores e destrutivos? Há razões de sobra igualmente para nos sentir assim, num comparativo direto de conhecimento de causa com todo os demais seres vivos da biosfera.
Prof. José Cícero
Aurora - CE.

Matéria Especial: Vírus, Ciências e Homens*



Nos últimos anos, a historiografia nacional foi farta em trabalhos sobre os efeitos da pandemia de gripe espanhola de 1918 nas principais cidades brasileiras.1 Vários autores debruçaram-se sobre diversos aspectos do evento, analisando as modificações cotidianas geradas pelo contexto epidêmico, as práticas dos profissionais do campo médico em relação à epidemia, a atuação dos serviços de saúde pública e, até mesmo, o conjunto de sentimentos da população no conturbado contexto que se apresentava. A americana Gina Kolata mostra que nos Estados Unidos foi diferente, explicando que em sua terra a literatura sobre o tema quase que se resume ao livro America's forgotten pandemic, de Alfred W. Crosby, e que essa escassez de literatura sobre o tema incentivou-a a escrever. Gina Kolata é jornalista científica, formada em microbiologia, e estudiosa de biologia molecular. Já escreveu vários textos sobre temas científicos, destacando-se o livro Clone: os caminhos para Dolly e as implicações éticas, espirituais e científicas (Rio de Janeiro, Campus, 1998), fruto de seu sistemático acompanhamento, para o New York Times, da trajetória que culminou com o nascimento da ovelha Dolly. Seu livro, Gripe, a história da pandemia de 1918, caracteriza-se como um abrangente relato dos esforços da ciência em busca de compreender as causas da doença e evitar o seu possível retorno. Na verdade, o título original da obra, Flu: the history of the great influenza pandemic of 1918 and the search for the vírus that caused it, revela muito mais do que a tradução nacional que, ao suprimir toda a parte do subtítulo, dá a entender tratar-se de um relato centrado nos eventos de 1918. Segundo a própria autora, trata-se de uma história de mistério envolvendo ciência, política, pesquisadores e um vírus assassino. História de acasos e surpresas que merecia ser contada, tanto pelo drama da narrativa, como por suas implicações, pois a solução do mistério poderia ajudar os cientistas a evitar uma possível volta do microscópico vilão.
Seu estudo inicia-se com uma resenha histórica sobre a pandemia, centrando-se na sua passagem pelos Estados Unidos, onde adentrou em Boston, no mês de setembro de 1918, espalhando-se pelos mais longínquos recantos do país. Vinte e cinco vezes mais letal do que a gripe comum — gripes comuns matam um em cada mil acometidos, a influenza tinha um índice de mortalidade de 2,5% —, a epidemia deixou um rastro de meio milhão de mortos, determinando a queda de 12 anos na expectativa de vida dos americanos. Seu surgimento no contexto dos enfrentamentos que levaram ao final da Primeira Guerra Mundial ampliou a apreensão geral, para a qual também contribuiu a inexistência de conhecimentos científicos capazes de deter ou evitar o mal, pois, embora a teoria microbiana das doenças já tivesse dado largos passos, o conhecimento sobre os vírus se resumia à possibilidade de sua filtrabilidade em meios físicos, não havendo maior compreensão sobre sua forma de atuação no organismo humano.
De forma semelhante às pesquisas relacionadas à história das doenças, Kolata apresenta a pandemia através de uma comparação com várias outras epidemias que desde tempos imemoriais devastaram diversas sociedades. Nesse aspecto, é salientado que, a partir do início do século XX, o desenvolvimento da medicina criava a expectativa de total controle das principais doenças epidêmicas. Retomando as idéias de Phillipe Ariès expressas em suas obras sobre a história da morte no Ocidente, a autora afirma que foi uma época em que a morte quase perdera o seu poder, se separando da vida cotidiana pela força dos milagres da medicina, que passou a ser cultuada por muitos como uma nova religião. Mas o surgimento da gripe, no fim da década de 1910, daria fim a essa situação. Também de forma análoga a diversos outros trabalhos, a passagem da pandemia pelos Estados Unidos é apresentada por meio do relato de suas violentas conseqüências: os horrendos sintomas, as terríveis formas de morte, a loucura coletiva que se apossava das cidades, a imputação de culpa a terceiros e vários outros aspectos conhecidos dos que se detiveram nos vários relatos sobre epidemias que se multiplicaram desde a publicação do Diário do ano da peste por Daniel Defoe, em 1665.
A possibilidade de desenvolvimento de uma vacina contra a doença, aliada à noção do possível retorno do vírus e de suas funestas conseqüências, são os fios condutores da obra de Kolata. A seu ver, até o presente momento não se sabe como produzir um remédio que seja o equivalente da penicilina para o processo gripal, no entanto, os conhecimentos no campo da virologia já são suficientes para possibilitar a elaboração de vacinas virais eficazes. Precisamente, em relação à gripe, há algum tempo os cientistas aprenderam a reconhecer seu vírus por meio do microscópio eletrônico; também já descobriram que ele é composto por apenas oito genes, cada um feito de RNA (ácido ribonucleico encontrado no núcleo da célula), e que não conseguem permanecer ativos se não puderem infectar nenhuma célula em questão de horas. Os especialistas também sabem como esses vírus se ligam uns aos outros através de uma membrana lipídica viscosa e como eles se alojam nas células. Sabem até que o vírus da gripe contamina principalmente os pulmões, porque lá estão as células compostas por uma enzima que ele necessita para romper uma de suas proteínas durante a elaboração de novas partículas virais. Tal manancial de conhecimentos está prestes a lhes permitir elaborar uma vacina que proteja grande parte da humanidade em caso de uma nova pandemia. Para tanto somente uma coisa é necessária: saber com que o vírus da gripe de 1918 se assemelhava.
É exatamente esse processo de conhecimento do vírus pelos cientistas que ocupa a maior parte da obra. Ele centra-se nos esforços de equipes distintas em encontrar o vírus em tecidos pulmonares de mortos pela epidemia através de técnicas diferenciadas. Um grupo fez uso de fragmentos de pulmões, de um soldado do exército, guardados no depósito de tecidos do Instituto de Patologia das Forças Armadas — instituição criada pelo próprio presidente Lincoln, para a guarda de tecidos de portadores de tumores ou outras doenças pouco conhecidas, examinados por médicos militares. Outras equipes saíram em busca de vilarejos isolados no Alasca e na Noruega, onde vítimas da doença foram enterradas em solo permanentemente congelado, o que permitia aos cientistas imaginar a possibilidade de reencontrar o vírus ainda preservado nos congelados tecidos de seus pulmões.
A primeira parte dessa epopéia foi a expedição do patologista sueco Johan V. Hultin ao Alasca, em 1951, objetivando encontrar corpos de habitantes mortos pela gripe, enterrados em locais permanentemente congelados, e deles extrair tecidos com vírus possíveis de serem ativados em cobaias. A expedição é narrada de forma instigante, principalmente pela precariedade de meios para executar sua empresa. Mas, a despeito de seu entusiasmo, ela não alcançou os objetivos esperados, pois ao retornar a seu laboratório, com os tecidos possivelmente infectados, com o vírus, Hultin não conseguiu reativá-los, nem pela injeção de fragmentos dos tecidos em ovos, nem por sua aplicação em animais de laboratório.
O desenvolvimento de novas técnicas de biologia molecular possibilitaria novas incursões em busca do vilão de 1918. A segunda delas ocorreu entre 1995 e 1997, e não implicou nenhuma viagem, e sim a utilização de tecidos guardados no Instituto de Patologia das Forças Armadas. O responsável pela empreitada foi Jeffrey Taubenberger, chefe de laboratório no referido instituto. A história começa quando ele se depara com um artigo, publicado na Science, que investigava a determinação genética do daltonismo do mitológico químico John Dalton — primeiro a propor a teoria atômica da matéria, ainda no século XVIII. Para isso eram utilizadas técnicas de engenharia genética, aplicadas aos tecidos de seus globos oculares, até hoje preservados. O artigo deixava no ar as diversas possibilidades abertas pela técnica do PCR — reação em cadeia da polimerase — e Taubenberger, rapidamente, viu a possibilidade de utilizá-las em uma pesquisa que lhe desse notoriedade. Depois de matutar por algum tempo, ele concluiu que deveria se voltar para a gripe epidêmica de 1918, e que o melhor caminho seria utilizar o banco de tecidos da instituição em que trabalhava para, a partir de pedaços de vírus encontrados em pulmões de mortos pela doença, procurar reconstruir o código genético do causador da epidemia.
Com a ajuda de Ann Reid, auxiliar muito experiente nas técnica da biologia molecular, Taubenberger começou a trabalhar com o tecido de um soldado falecido, encontrado no depósito do Instituto de Patologia em março de 1995. A primeira parte do trabalho consistia em separar os genes das células pulmonares, deixando-os prontos para a análise. Depois foram usadas as complicadas técnicas do PCR, com o objetivo de obter um material denominado gene matriz — pedaço do vírus que sofre poucas mutações com o tempo — para, a partir dele, fazer inúmeras cópias do fragmento de gene. A técnica fazia uso de outros genes matriz de gripe que serviriam como anzóis para capturar os genes específicos da gripe de 1918 contidos nos tecidos em estudo. Mas a experiência falhou pois nenhum pedaço do vírus foi encontrado. Depois de um ano sem obter sucesso, eles mudaram a rota de seus experimentos, tentando refazê-los a partir de amostras de tecidos de mortos em epidemias de gripe mais recentes. Obtiveram sucesso com vítimas da gripe de 1957, o que demonstrava a exeqüibilidade de seu método. Logo voltaram a se debruçar sobre a gripe de 1918 e finalmente conseguiram evidências da existência do gene da gripe de 1918 nos tecidos em que trabalhavam. Não conseguiram a seqüência completa de genes do vírus, mas obtiveram genes virais, o que possibilitava um conhecimento muito mais detalhado do vírus.
Nesse ponto da narrativa, salta aos olhos alguns aspectos da organização social da ciência. Um deles diz respeito à grande hierarquização desta atividade profissional. No processo observado anteriormente, a técnica Ann Reid teve atuação destacada porque, mais que seu coordenador J. Taubenberger, era ela quem conhecia as sofisticadas técnicas de PCR, fundamentais para a obtenção das pistas dos genes. No entanto, a autora mostra que ela não tinha reconhecimento profissional de seus pares por não ter título de doutora. Outro aspecto interessante é o fato de o artigo sobre a pesquisa ter sido primeiramente recusado pela Nature, sem mesmo ter tido parecer, com a justificativa de não ser suficientemente interessante para ser analisado. Enviado à Science, teria o mesmo destino. Somente algum tempo mais tarde seria publicado por esta última, depois de um tour de force de seus autores que conseguiram o apoio de influentes virologistas em favor da publicação. Aproximando-se das interpretações sociológicas do campo científico, os protagonistas desse evento creditam o desinteresse pelo seu trabalho ao fato deles não fazerem parte da "comunidade da gripe", caracterizando-se como pesquisadores desconhecidos, distante da elite da pesquisa nesse campo.
A busca pelo vírus da gripe se daria ainda por outros caminhos, que acabariam juntando personagens até então distantes. Antes mesmo dos trabalhos de J. Taubenberger e Ann Reid chegarem às primeiras conclusões, Kirsty Duncan, geógrafa da Universidade de Toronto, que estudava como as mudanças climáticas afetavam a saúde humana, ficou fascinada pelo tema da gripe de 1918 e se deslocou até a Noruega em busca de uma região congelada que pudesse abrigar corpos de mortos pela doença, passíveis de extração do vírus. Em pouco tempo, ela conseguiu respaldo da comunidade local e autorização das autoridades para remexer as tumbas da região. Vendo a possibilidade de sua idéia se concretizar, Duncan entrou em contato com os maiores especialistas em gripe e montou um megaprojeto de busca do vírus, sob a liderança científica do virologista inglês Jonh Oxford. Em 1997, ao buscar financiamento para o projeto junto ao governo americano, ela acabaria por encontrar Taubenberger. Numa reunião para discutir as verbas para o projeto de Duncan, ele mostrou já ter avançado bastante em relação às conclusões de seu trabalho, publicado na Science, imaginando que seu método pudesse chegar aos resultados necessários sem a necessidade de uma nova e perigosa tentativa de procurar o vírus em cadáveres congelados. No entanto, a perspectiva de procurar o vírus da gripe pelo método de Taubenberger foi desprezada, e Duncan obteve uma verba de 150 mil dólares do governo americano para dar início a sua empreitada. Os fatos que se seguiram à colocação em prática do megaprojeto de Duncan são dignos de uma história de suspense, relacionando-se a outros personagens e métodos pouco éticos de obtenção de sucesso científico. Narrá-los tiraria o interesse na história, mas alguns pontos devem ser ressaltados. Um deles diz respeito ao pouco cuidado com os perigos inerentes ao objeto estudado. É de deixar perplexo como em nenhum momento é colocado na balança se a perspectiva de obtenção do vírus é válida frente à real possibilidade deste agente infeccioso contaminar alguém, trazendo de volta a doença que os cientistas, pelo menos na justificativa de seus projetos, pretendiam evitar. Embora alguns destes personagens, em certos momentos, procurem se precaver desta possibilidade, através da utilização das mais variadas tecnologias de biossegurança, todos sabem que é impossível controlar os diversos aspectos e fases do trabalho. Outro ponto relevante diz respeito à importância dada à precedência da possível descoberta. Para chegar primeiro ao vírus, os pesquisadores se engalfinham numa luta que, muitas vezes, coloca em risco seu próprio trabalho e a segurança da população. Certamente, neste caso, chegar primeiro vale muito, é fundamental para assegurar a publicação, para a obtenção de verbas, para aparecer na mídia, enfim, para a ascensão no campo científico.
Mas não só a busca do vírus no corpo de cadáveres está presente na obra. Para seguir os passos do vírus, Kolata volta-se para diversos e, algumas vezes, desconexos caminhos. Um deles diz respeito à possibilidade de a epidemia de gripe se relacionar à gripe dos porcos. Essa história começa com os estudos de Richard E. Shope sobre a gripe suína, realizados a partir de 1928. Atento à informação de que milhares de porcos do meio-oeste americano morreram de gripe suína, em 1918, e a referências à possibilidade de a gripe humana ser a mesma doença observada nos porcos, ele empreendeu estudos visando encontrar essa possível identidade. Primeiro, tentou replicar a doença, gotejando muco e secreções brônquicas de porcos doentes no nariz de porcos sadios, mas suas experiências, inicialmente, não obtiveram êxitos e geraram novas questões sobre a possibilidade da associação de uma bactéria ao vírus ser necessária para originar a doença. Sabendo que um pesquisador da Fundação Rockefeller havia conseguido infectar furões com a gripe humana e também com a suína, e que os ingleses Wilson Smith, Christopher Andrews e P. Laidlaw tinham transmitido a gripe de furões doentes a ratos-brancos, Shope retornou a suas pesquisas, juntamente com estes ingleses, logo detectando a imunidade cruzada entre a gripe humana e a suína em experimentos com furões. A partir de então, o objetivo deles passou a ser o de saber, através de testes de imunidade entre as espécies, se a gripe suína e a gripe epidêmica de 1918 eram a mesma doença. Seus estudos voltaram-se para os sobreviventes da gripe de 1918, que deveriam ter em seu sangue o antígeno para a gripe suína. Os resultados mostraram que, tanto em Londres como nos Estados Unidos, os sobreviventes da gripe de 1918 tinham anticorpos que impediam a ação da gripe suína. Depois de testes comprobatórios, foi aceito o fato de existir uma conexão entre a gripe suína e a epidemia de 1918. Logo as cabeças começaram a pensar numa direção: possivelmente, pessoas doentes, de alguma maneira, transmitiram gripe aos porcos, os vírus permaneceram em estado latente nos animais, e depois, por algum motivo, voltaram a atacar as pessoas de forma selvagem. Assim, a permanência desse vírus nos suínos parecia ser uma constante ameaça de retorno de uma epidemia nos moldes da de 1918.
Segundo a autora, a descoberta da similitude entre a gripe suína e a humana foi o fator que levou ao maior programa de imunização em massa num curto espaço de tempo, realizado até então. O fato é assim narrado. Em fevereiro de 1976, em Nova Jersey, um soldado morreu de gripe, em meio a um surto que atingira seu regimento no mês anterior. Os laboratórios militares constataram tratar-se de um caso de gripe suína, o que fez acender uma luz vermelha em relação a uma possível epidemia de gripe de grande letalidade, visto o vírus da gripe suína ter sido considerado o mesmo agente da epidemia de 1918. Novos testes comprovaram a origem da gripe e sua disseminação por mais alguns soldados do regimento. Uma semana após a morte do militar, os especialistas do Centro de Controle de Doenças de Atlanta, analisando os relatórios dos virologistas que acompanharam o caso, concluíram que existia um perigo real de uma nova pandemia de gripe, e que a saída para o problema era promover a vacinação em massa dos americanos. Essa atitude foi logo ratificada por eminentes virologistas, entre eles, Ewin Kilbourne, diretor do Departamento de Microbiologia da Faculdade de Medicina Monte Sinai, em Nova York, que acreditava que, por motivos de mutações do vírus, as epidemias de gripe aconteciam num intervalo médio de 11 anos. Como a última acontecera em 1968, ele imaginava que em 1976 o mundo estaria sujeito a uma nova pandemia.
Em meio a uma grande apreensão, a idéia da vacinação em massa foi ganhando corpo, a despeito das dúvidas que rondavam o assunto, principalmente o fato de a gripe ter atacado somente quatro soldados, e de não se ter como provar que ela era a mesma que causara a pandemia de 1918. Logo a imprensa levou a público o problema, através de inquietantes artigos e entrevistas no New York Times e na NBC. Os cientistas do governo passaram a considerar imprescindível a campanha de vacinação. A imunização contra a gripe já era usual nos Estados Unidos, onde, anualmente, as autoridades médicas indicavam os vírus a serem combatidos, mas essa prática era restrita a idosos e portadores de doenças crônicas. Uma campanha de vacinação em massa traria problemas logísticos e orçamentários. Além disso, havia outras saídas, como estocar vacina, para ser aplicada somente em caso de confirmação de uma epidemia. Apesar dos entraves, venceu a opção pela vacinação. Em pouco tempo, a discussão foi subindo na hierarquia do governo americano, chegando às altas esferas federais. Simultaneamente o temor frente à possibilidade de uma epidemia catastrófica foi se transformando na certeza de uma tragédia iminente. Em março de 1976, depois de algumas reuniões com os mais eminentes cientistas americanos, o presidente Gerald Ford, ladeado pelos eméritos cientistas Jonas Salk e Albert Sabin — heróis americanos pelos papéis que desempenharam na erradicação da poliomielite com uso de vacina — anunciou que o governo pretendia pôr em prática um programa de vacinação em massa contra a gripe. O programa custaria 135 milhões de dólares, sendo a vacina licenciada pelos laboratórios do governo e produzida pelas indústrias farmacêuticas privadas.
A colocação em prática da colossal campanha acabou por gerar resultados imprevistos. Em pouco tempo, começaram a surgir na imprensa críticas ao programa. Muitas dessas críticas se voltavam para o fato de as poucas evidências da possibilidade de surgimento de uma epidemia não bastarem para se implementar uma campanha tão vultosa. Outros se prendiam à possibilidade de a vacina gerar alguma reação adversa, o que provocou uma enorme pendenga entre as indústrias farmacêuticas envolvidas no projeto e o governo americano sobre quem ficaria responsável por eventuais indenizações. Somente depois de o Estado aceitar essa incumbência, a vacina começou a ser acondicionada em embalagens para posterior distribuição, mas dez dias depois de iniciada a vacinação, a imprensa já começava a anunciar mortes e outros efeitos danosos causados pela vacina. Essas críticas já eram esperadas, pois certamente num coeficiente tão grande de vacinados haveria pessoas com problemas preexistentes que associariam o surgimento de seus males à vacinação. No entanto, observou-se que a vacina parecia favorecer o desenvolvimento de um distúrbio nervoso conhecido como síndrome de Guillain-Baré. Embora a maioria dos acometidos por essa doença se recupere totalmente, uma média de 10% adquire algum tipo de paralisia permanente, e 5% morre de problemas respiratórios. Com a ampliação do número de casos, houve uma enxurrada de processos contra o governo, e mesmo passado o acontecimento, permaneceram entre os especialistas opiniões discordantes sobre a vacinação ter causado uma epidemia de síndrome de Guillain-Baré. Em 1976, quarenta milhões de americanos foram vacinados, destes, algumas centenas desenvolveram a síndrome de Guillain-Baré, mas até hoje não existe evidência mais forte de que se estava à mercê de devastadora epidemia de gripe.
O episódio é narrado de forma bastante interessante, por mostrar o jogo de interesses profissionais que se esconde por trás do processo. Assim, os cientistas são vistos sob uma ótica que enquadra seus interesses nos diversos setores disciplinares ou institucionais do campo científico em que se inserem. Bem ao estilo do conceito de campo científico elaborado pelo sociólogo Pierre Bourdieu, Gina Kolata afirma que a urgência de prosseguir com o o projeto de vacinação ia além do objetivo de proteger o país da doença, traduzindo-se como um desejo de mostrar a importância do campo da saúde pública "numa época em que ela era vista como menos glamourosa e menos interessante que o domínio da biologia molecular, que então surgia com toda a força" (p. 174). De forma semelhante, a autora arremata o capítulo concluindo: "Se perguntarmos à maioria dos médicos, eles dirão que a vacina contra a gripe suína causou uma epidemia de síndrome de Guillan-Barré. Se perguntarmos aos especialistas em gripe, responderão que vacinas contra a gripe em geral causam a doença ... . E se perguntarmos a qualquer especialista médico que se preocupe com os risco de surgir uma gripe letal, ouviremos que o fiasco da gripe suína o faz hesitar" (p. 220). Apesar da sofisticação de sua análise, ficam de fora da narrativa alguns aspectos que certamente fazem parte do jogo de interesses posto em marcha com o projeto de vacinação. O principal diz respeito aos possíveis ganhos da indústria farmacêutica e outros envolvidos no processo de vacinação. Além disso, uma visão mais ampla do contexto político em que a resolução federal de vacinar toda a população foi tomada facilitaria uma melhor compreensão do acontecimento.
A obra de Kolata volta-se, ainda, para várias outras questões que norteiam as pesquisas relacionadas ao vírus da gripe epidêmica na atualidade: qual a sua origem geográfica? Como ele pode se tornar tão letal? Que organismos podem ser seus portadores? Como se dá a sua disseminação? Ela mostra que o esclarecimento destas e de outras questões está a cargo de uma respeitada rede de virologistas, que atuam nas mais diversas regiões do globo. Seus discursos mostram que compartilham a idéia de que é possível que uma mutação viral traga à tona uma nova pandemia, nos moldes da de 1918, por isso é necessário estar à alerta frente à possibilidade de retorno do perverso vilão. Também deixam entrever que imaginam já possuir armas suficientes para enfrentar um possível aparecimento do mal, impedindo que ele tome dimensões incontroláveis pela vacinação em massa e pelo uso de medicamentos que impeçam o surgimento de infecções oportunistas nos organismos já debilitados. A narrativa de suas pesquisas e de seus promissores resultados deixa o leitor algo confiante em que os acontecimentos de 1918 fazem parte de um passado que não corre o risco de se repetir. No entanto, a possibilidade hoje existente de que ataques de bioterrorismo gerem surtos de varíola — mal exterminado da face da Terra pela ciência e também por suas técnicas passível de retornar — deixa no ar uma certa inquietude.
Luiz Antonio Teixeira
Pesquisador da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz,
teixeira@coc.fiocruz.br
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