domingo, 24 de janeiro de 2010

Leitura do dia-a-dia: Afinal, para quem e para que se escreve?

Por José Cícero*
Ler e escrever, elementos importantes para a formação do cidadão.
O ato de escrever é por excelência, um ofício dos mais solitários que existe. E isto, diria que é fundamental para que possamos viajar no universo particular das idéias e ilações outras que juntas compõem o imaginário criativo, assim como a aguçada observação do escritor.
Diria até que esta solidão é a mais produtiva e salutar de todas as solidões que existem, através da qual o homem consegue plasmar o mundo em sua volta por meio de palavras, símbolos e signos. Coisas absolutamente necessárias à devida compreensão e aquisição dos valores e das impressões do mundo real e das idéias.
Um pressuposto através do qual o homem(em especial o escritor) consegue, por força do seu subjetivismo pensamental vestir-se de Deus e, deste modo ousado e encantador criar o mundo que deseja e imagina ideal, às vezes até metafísico. Uma maneira surreal de substituição da vida monótona, segundo a bula dos seus ideários imaginativos e semiótico. Ou ainda, consegue dar uma feição diferente ao sentido pragmático das coisas e das pessoas. Enfim, divinizar ou profanar a seu bel-prazer ante sua pena, toda a matéria existencial por meio da palavra escrita perante a contextura da linguagem.
Como também até romantizar as relações humanas e as situações interpessoais pela energia sinérgica da poesia, da tessitura do verbo fazendo da linguagem escrita um instrumento de melhoramento e de progresso humano através dos tempos, desde a prodigiosa invenção da escrita.
A Produção escrita e a falta do público-leitor:
Mas digamos também que não existe algo mais angustiante do que escrever para si mesmo. Ou seja, a constatação da falta de um público-leitor que possa receber de bom grado a produção escrita das suas idéias. A poética sensorial do seu esforço mental no sentido de colocar no papel ou na tela do computador suas impressões subjetivas sobre o mundo, a vida, o espectro comportamental das pessoas, as utopias, os sonhos, as contradições históricas do homem, a fenomenologia das nossas próprias concepções mais incríveis. Enfim, o próprio mundo nas suas mais diferentes variáveis e versões psicológicas.
Esta percepção da falta de leitores é um fato, mesmo hoje quando existe uma série fantástica de facilidades de acesso às ferramentas de conhecimento e informação; ambas baseadas na leitura como instrumento de valoração e construtora do conhecimento e do saber.
Há, por assim dizer, uma dicotomia absurda entre o que se produz na chamada(agora) sociedade da informação, do ponto de vista literário-informativo e o que se consome no aspecto do público-leitor. O que faz dos brasileiros, um dos povos que menos lêem nas Américas.
Então, onde se situa a função social da escola e, sobremaneira o seu papel de produzir leitores, pesquisadores e escritores? Enfim, os agentes da cidadania. Que sociedade conseguirá superar o seu atraso sem a busca incessante do conhecimento e sem o apego espontâneo ao hábito da leitura?
Literatura e pedagogia dois elementos cruciais à produção do conhecimento:
Malgrado todo o discurso governamental fazendo coro com o aparato escolar, o hábito da leitura da nossa população, sobretudo estudantil é uma falácia. Um projeto posto no papel como forma de camuflar a dura realidade na ânsia de se agradar os tecnocratas do poder e do sistema educacional.
A preocupação agora é apenas evitar a evasão, a reprovação no sentido de atender os índices técnicos assim como os números frios das estatísticas destoantes do real a pedido dos governos. De fato, no papel tudo é diferente. Um mar de rosas rubras. Um céu de brigadeiro. Na prática a realidade é diametralmente oposta. Um despreparo que beira quase o impossível... Razão do baixo índice de aproveitamento educacional dos estudantes brasileiros. Ocupamos a 88ª posição no IDE mundial, (pasmem) atrás de Paraguay, Equador e Bolívia. Então o que fazer? Continuar simulando os resultados? Não elegendo a leitura e a produção escrita como uma prioridade?
E agora(como no passado) não vale mais a desculpa evasiva de que a inexistência de bibliotecas é o xis da questão, assim como a falta de aporte financeiro. Porque não o é.
Por que a leitura não é levada a sério no Brasil?
Não vale igualmente a velha desculpa como resposta esfarrapada: - “não disponho de tempo para a leitura”... Por que neste caso caberá a pergunta: - “E para a TV você tem tempo?”. Dividamos o tempo dedicado a TV pela metade e aí com certeza teria muito tempo para os livros. Esta é uma equação simplória. E tem mais: muitos só vêem o que há de pior na TV brasileira – as novelas, o BBB, e os Faustãos da vida. Também a quem ensina, o ato de aprender é algo primordial. De tal sorte que o livro e a leitura são coisas absolutamente imprescindíveis. Do contrário, toda a nossa educação estará de vez comprometida.
O cerne da questão, portanto, é a maneira quase deletéria, falsificadora e descompromissada com que muitos notadamente os que secularmente geriram o aparelho governamental, educacional, midiático; os senhores das elites(os donos do poder) e, a burguesia que conjuntamente têm tratado as nossas massas como se ainda estivessem no sistema escravocrata. Onde o acesso ao conhecimento pelo povo tinha que ser negado a todo custo.
A ignorância sedimentaria o caminho fácil para a exploração. A miséria, inclusive, intelectual, seria um forte instrumento de opressão utilizado a granel pelas elites senhoriais. De certa maneira, há ainda hoje no nosso sistema, resquícios consideráveis remanescentes daquela velha realidade/estrutural como que impregnada no nosso imaginário coletivo.
Eis a razão do nosso déficit na leitura e na produção textual. Eis a razão da nossa incompetência história, clamorosa em relação ao livro. Eis o nosso fiasco educacional.
Depois, a falta de um projeto literário-pedagógico que tenha como mira a leitura com um item fomentador e construtor de novos cidadãos, críticos, reflexivos e conscientes do seu importante papel a desempenhar na construção social da sua própria história.
Não adianta mentir: a falta do hábito da leitura não é uma realidade exclusiva apenas dos estudantes. A quase ojeriza ao livro e a ausência da leitura como um hábito cotidiano é também um fato evidente, presente na maioria esmagadora dos nossos professores. Por isso é preciso reafirmar: mais do que o discurso autoritário no quadrilátero da sala, urge dá-se o exemplo. E mais: chega de impor obras macarrônicas para os nossos jovens estudantes. O despertar para a leitura não acontece por imposições implacáveis e, tampouco por cobranças estéreis. O necessário e mais importante é fazermos com que a criança/adolescente possa por si mesma construir esta ponte com a leitura. E deste modo, poderá nascer uma verdadeira relação de apego ao livro como uma coisa prazerosa.
A leitura precisa virar de vez uma mania nacional assim como é o futebol e, infelizmente agora por todo o Nordeste, as chamadas bandas de forró – que estão produzindo um verdadeiro câncer social, sobretudo na nossa juventude. Sem esquecer os viciados nas telenovelas...
Um livro difícil inadequado para a faixa etária assim como para o grau de leitura já experimentado pelo aluno, ao contrário do que se espera, poderá criar-lhe para sempre uma barreira psicológica de aversão e medo a qualquer tipo de leitura. De modo que o livro será a representação tácita de um instrumento opressor. Creio que isso, dentre outras coisas, tem sido uma das causas do problema. Afinal não existe algo mais contraproducente do que o professor indicar como tarefa a leitura de uma obra(por exemplo) do chamado romantismo para os que não estão minimamente preparados para este tipo de leitura. E isso é algo corriqueira no nosso sistema educacional, desde o seu nascedouro. Obras que muitas vezes sequer o próprio professor se dera o trabalho de lê-la. Porque o problema da leitura(ou a falta dela) também diz respeito ao professor, tanto no passado quanto no presente. Então, de que adianta tanto fisiologismo? Tanto faz-de-conta para quê? Falsear a dura realidade relacionada ao baixo índice de aproveitamento educacional da nossa gente é não compreender que a falta de leitura, assim como de um projeto ousado no âmbito da pedagogia, está contribuído para esta situação de verdadeiro descalabro por que passa a nossa educação.
Portanto, o hábito da leitura ou a falta dele é algo que está diretamente ligado ao progresso da ciência, da cultura, do saber e da cidadania de um povo. De modo que, sem este instrumental a sociedade tende com o tempo a regredir intelectualmente e por via de conseqüência, todos os seus principais valores desmoronam.
Ler, um exercício que precisa virar de vez uma mania nacional, tanto quanto as novelas globais, o futebol e o BBB:
Investir no hábito da leitura, a começar pelos que se dizem fazedores da educação, é um ato de grandeza necessária para que se possa tirar o país do verdadeiro caos em que está beirando. Para tanto é preciso dá-se ao exemplo. Afinal de contas, por que tanto medo e até preconceito em relação ao livro? Por que muitos adoram dizer que leu tanto, apenas na lábia? Por que quando muitos compram alguma obra literária, preferem as que estão na mídia propagadística, como um verdadeiro estado de auto-afirmação, a exemplo das de Paulo Coelho, Dan Brouwn entre outras que apenas servem aos lucros das editoras? Por que não lêem de verdade e, principalmente material de qualidade?
Por que desconsideram tanto o jornal escrito, o teatro e arte visual(o cinema) como ferramentas auxiliares no processo da aprendizagem? Por que hoje não existe público para a poesia? Será por que a poética muito mais do que a prosa, exige um alto grau de entendimento, conhecimento, que não dispomos? Ou pela simplesmente pela preguiça mental ou dificuldade de nos abstrair um pouco do convencionalismo cotidiano marcado pela mesmice e ócio em relação ao sabe? Refletir sobre tudo isso procuraando mudar nossos velhos paradigmas diria que é dá-se ao exemplo, a começar pela opção da verdade.
Aliás, o nível das nossas redações é algo deprimente. Porém, digamos que isso é o óbvio: quem não ler bem, não escreve, não escuta e nem fala adequadamente, do ponto de vista gramatical, como bem prega a boa norma culta/erudita e do vernáculo. Desde modo, a forma como acontece a invasão da nossa língua pelo estrageirismo alienante é no mínimo, algo vergonhoso. Para uma nação que já teve figuras como Machado de Assis, Rui Barbosa, José de Alencar dentre outros literatos. Um problema, inclusive que a escola deveria está preparada para defender...
Quando chegamos à residência rural de um agricultor é óbvio que iremos encontrar seus instrumentos de trabalho: foice, enxada, machado etc. Agora, o curioso é chegarmos à casa de um professor e não encontrarmos livros. Uma clara evidência de que muita coisa está errada nesta questão. Uma clássica inversão de valores.
Por fim, quero apenas dizer neste debate quase infinito acerca da importância do papel construtor da leitura e do livro para a sociedade contemporânea que, também os nossos escritores, sobretudo os que se consideram da literatura marginal – os que escrevem para si mesmos – tudo isso é por demais angustiante. Conquanto, sem leitores a própria produção literária do país se esvai e perece. E como diria Lobato: Uma nação se faz com homens e livros.
Viva a leitura viva, porque dela dependerá também o cidadão do futuro.
(*) José Cícero
Prof. Poeta e Escritor
Secretário de Cultura e Esporte
Aurora - CE.
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sábado, 23 de janeiro de 2010

Como nossos pais: Que música nossos filhos irão sentir saudade?

Por José Cícero*








A música é de fato a mais universal das linguagens. A música impregna a nossa vida de imagens, memórias, lembranças, saudades. Uma cocha de retalhos tecida de várias recordações dos momentos idos. Além de uma sensação das mais românticas emoldurada por poesia e sonoridade. Instantes se fizeram eternos nas nossas lembranças por força da música. A música nas suas mais diversas variáveis e manifestações.
Muito do nosso passado carregamos ainda hoje, onde quer que estejamos como uma lembrança congelada para sempre no nosso subconsciente. Guardado no âmbar das nossas melhores emoções e outras memórias afetivas. Como diria Érico Veríssimo: “o tempo como um vento passou tão depressa. Será que venta na eternidade?”.
Se há vento sequer passageiro na eternidade, não sabemos ao certo, entretanto, os momento eternos nos são garantidos pela música marcante de toda uma época áurea (anos dourados ou de chumbo?) em que todos os ventos e tempestades ventaram sim, a favor da nossa juventude que ansiava mudar o mundo.
Por isso hoje podemos falar ainda de felicidade e das fantasias possíveis que ousamos um dia experimentar. Talvez por capricho ou por pretexto. O importante é que as vivemos como a mais absoluta das intensidades. Como se o amanhã não fosse chegar nunca. Mas, um dia sem que percebamos, ele chegou, quem sabe no mesmo vento que nos falou Veríssimo. E pela janela da vida bateu no nosso rosto não mais atormentado pela espinhas. Mas, agora pelas rugas. Como um mapa múndi que o tempo se encarregou de desenhar na nossa face. Um claro sinal de que não éramos mais os mesmos.
A música nos dava esta sensação gostosa e ilusória da eterna juventude e liberdade. A música não nos deixava envelhecer por dentro como sofrem hoje os hodiernos vazios de cultura, auto-estima e cidadania. Naqueles anos nosso espírito era imaculado...Diria que as belas canções que nos embalava eram o nosso escudo contra as maledicências da vida e da história.
A música hoje, de algum modo quase inexplicável é ainda, uma ponte que nos liga aos inesquecíveis momentos da nossa mocidade. Quem acaso não sente sequer uma pontinha de saudade do passado, por meio da música, certamente não gozou sua juventude como devia. Não foi feliz. Não é feliz nem nunca será. Porque, desgraçadamente faltou-lhe até hoje, como ontem, a sensibilidade necessária para puder ter esperança e assim continuar acreditando na felicidade construída, segundo a nossa vontade e nossa capacidade de sonhar, amar, ousar, meter a cara... Cair e, em seguida se levantar... Seguir os rumos da venta, sem lenço e sem documento. Porque “quem sabe faz a hora, não espera acontecer”.
A música é por tudo isso, o que podemos denominar de instante eterno da nossa existência. Algo que grosso modo, não deixou que nossa vida passasse em brancas nuvens. Porque vivemos tudo ao extremo das nossas emoções e sentimentos. Malgrado as dificuldades, tudo era mais gostoso e qualitativo: o rádio-Am, os alto-falantes das difusoras, dos parques de diversão e dos circos. A radiola do velho bar da esquina, da casa do ricaço, da tertúlia, da tela pálida e suja do cinema, do cabaré no escuro proibido da periferia. Do clube aos domingos, do velho rádio de pilha e válvula. Das serenatas das antigas madrugadas. Das lojas de discos tocando os sucessos mais recentes. Do vinil brilhando em folha esperando o passeio da agulha. Da vitrola do doutor exposta no canto da sala como um troféu. Um objeto de poder e de auto-afirmação. Tudo isso dava um romantismo incomensurável a nossa boa música, desde a velha guarda, à bossa nova, da jovem guarda, ao carimbó, do brega, ao forró de raiz, do Rock, do hit parade internacional à musical castelhana. Enfim à música como expressão artística de toda uma geração e manifestação sonora de Deus tentando agradar o espírito dos homens e mulheres(pobres mortais).

A música que enchia a vida social de sensibilidade e até de esperança, fazendo-se democrática, romântica, lúdica e espirituosa. A música enchia nossa vida de fantasia e assim, o fardo das nossas agruras não se faziam tão pesados.
Tudo como de resto era sensacional, posto que tocava fundo a alma posto que mexia com o sentimento mais profundo da nossa gente. Provando que, antes éramos muito mais humanos do que somos hoje.
As canções do passado tinham o poder de encher nossos olhos de brilho, fogo e lágrimas. Assim como nossos corações afoitos de entusiasmos e paixões desmedidas. Os discos de vinil eram por seu turno, um presente dos mais apreciáveis pelas pessoas. Porque tinham o mesmo valor de um elogio, uma declaração de amor e de afeto. Um espaço nobre para a mensagem escrita à mão como dedicatória aos apaixonados ou admiradores...
Mas, o que será dos nossos filhos e, de toda esta geração do agora e do porvir, quando no presente e tanto quanto no futuro não terão sequer a oportunidade de poder experimentar o doce prazer de sentir saudade. Dado que hoje, com raríssima exceção, a música no sentido lato da palavra, não existe. Que crueldade, estão fazendo com nossa juventude, filhos e netos!
Que motivos e que atributos musical-psicológicos, emocionais terão talvez nossos filhos e a juventude em geral, para eternizar na mente e corações os seus raros momentos de alegria e felicidade plena. Seus amores extremos, paixões alucinantes, desvarios utópicos, sofreguidão da ousadia, liberdade boêmica e quem sabe, o que ainda resta do antigo romantismo? Em que lugar ficará salvo do capitalismo e da ignorância sem vergonha; a nossa verdadeira e nobre identidade cultura?
Sim, porque hoje não temos mais música. Temos ruídos, barulhos, som estridente, plena inexistência poética. Mentira, palavrão, agouro, estelionato, crime de lesa-pátria... Mau gosto somado à esperteza dos malandros lucrando com a ignorância dos passivos; analfabetos musical-funcionais ante o cinismo de todo o resto que os representam na corte dos atuais poderes apodrecidos. Uma afronta à inteligência dos que não se entregam a eles, isto é, dos que ainda cultivam o bom-gosto cultural em relação ao que o Brasil possui de melhor e que atualmente não encontram espaço sequer na mídia marrom.
Nossa música do passado: uma saudade eterna que nos soa quase como uma inscrição tristonha e medonha na lápide das nossas lembranças. Como se escritas fossem inda agora pelas nossas próprias mãos.
A propósito que mal lhe pergunte - Que música você ouviu hoje?

1 e 2: JC e Dil André no ateliê e discoteca cultural da Seculte-Aurora
Ilustração acima: Capas de vinis antigos, acervo do autor e de Dil André
(*) Prof. José Cícero
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A Redação





















sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

A Resposta de Cristóvam: O verdadeiro "cutucar" o cão com vara curta...

Nocaute do Cristovam Buarque na prepotência Ianque em pleno solo americano:
Anos atrás durante um debate em uma universidade dos Estados Unidos, o ex-governador do DF, ex-ministro da educação(por sinal - pasmem- demitido por telefone pelo Lulinha paz e amor quem sabe, a pedido dos mercantilistas da educação) e atual senador do PDT - CRISTÓVAM BUARQUE, foi questionado sobre o que pensava acerca da internacionalização da Amazônia; um antigo sonho invasor e expansionista dos norte-americanos.
Tal indagação capciosa e com segundas intenções foi formulada por um jovem americano que, lá pelas tantas dizia que esperava a resposta de um Humanista e não de um brasileiro.
Então foi esta a grande e inteligentíssima resposta do Sr. Cristóvam Buarque:
"De fato, como brasileiro eu simplesmente falaria contra a internacionalização da Amazônia. Por mais que nossos governos não tenham o devido cuidado com esse patrimônio, ele é nosso.
"Como humanista, sentindo o risco da degradação ambiental que sofre a Amazônia, posso imaginar a sua internacionalização, como também de tudo o mais que tem importância para a humanidade.
"Se a Amazônia, sob uma ética humanista, deve ser internacionalizada, internacionalizemos também as reservas de petróleo do mundo inteiro. O petróleo é tão importante para o bem-estar da humanidade quanto a Amazônia para o nosso futuro. Apesar disso, os donos das reservas sentem-se no direito de aumentar ou diminuir a extração de petróleo e subir ou não o seu preço.""Da mesma forma, o capital financeiro dos países ricos deveria ser internacionalizado. Se a Amazônia é uma reserva para todos os seres humanos, ela não pode ser queimada pela vontade de um dono, ou de um país.
Queimar a Amazônia é tão grave quanto o desemprego provocado pelas decisões arbitrárias dos especuladores globais. Não podemos deixar que as reservas financeiras sirvam para queimar países inteiros na volúpia da especulação. "Antes mesmo da Amazônia, eu gostaria de ver a internacionalização de todos os grandes museus do mundo. O Louvre não deve pertencer apenas à França.
Cada museu do mundo é guardião das mais belas peças produzidas pelo gênio humano. Não se pode deixar esse patrimônio cultural, como o patrimônio natural Amazônico, seja manipulado e instruído pelo gosto de um proprietário ou de um país. Não faz muito, um milionário japonês,decidiu enterrar com ele, um quadro de um grande mestre. Antes disso, aquele quadro deveria ter sido internacionalizado.
"Durante este encontro, as Nações Unidas estão realizando o Fórum do Milênio, mas alguns presidentes de países tiveram dificuldades em comparecer por constrangimentos na fronteira dos EUA. Por isso, eu acho que Nova York, como sede das Nações Unidas, deve ser internacionalizada. Pelo menos Manhatan deveria pertencer a toda a humanidade. Assim como Paris, Veneza, Roma, Londres, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, cada cidade, com sua beleza específica, sua historia do mundo, deveria pertencer ao mundo inteiro.
"Se os EUA querem internacionalizar a Amazônia, pelo risco de deixá-la nas mãos de brasileiros, internacionalizemos todos os arsenais nucleares dos EUA. Até porque eles já demonstraram que são capazes de usar essas armas, provocando uma destruição milhares de vezes maiores do que as lamentáveis queimadas feitas nas florestas do Brasil.
"Defendo a idéia de internacionalizar as reservas florestais do mundo em troca da dívida. Comecemos usando essa dívida para garantir que cada criança do Mundo tenha possibilidade de COMER e de ir à escola. Internacionalizemos as crianças tratando-as, todas elas, não importando o país onde nasceram, como patrimônio que merece cuidados do mundo inteiro.
"Como humanista, aceito defender a internacionalização do mundo. Mas, enquanto o mundo me tratar como brasileiro, lutarei para que a Amazônia seja nossa. Só nossa!"

* DIZEM QUE ESTA MATÉRIA NÃO FOI PUBLICADA, POR RAZÕES ÓBVIAS. AJUDE A DIVULGÁ-LA, SE POSSÍVEL FAÇA TRADUÇÃO PARA OUTRAS LÍNGUAS QUE DOMINAR.
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Fonte: da Internet e Blog do Juazeiro

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Congraçamento festivo marcará a posse dos diretores da Associação dos Filhos e Amigos de Aurora residentes em Fortaleza

Dia 30 de janeiro a partir das 20 h no bairro da Maraponga em Fortaleza acontece a Solenidade de fundação e posse dos aurorenses eleitos para compor a primeira diretoria da Associação dos Filhos e amigos e Aurora residente na capital cearense.
O congraçamento festivo acontece na chácara do ilustre filhos de Aurora José Wilson( na Maraponga) ocasião em que também será realizada uma bela festa dançante com uma banda surpresa aos moldes dos anos de ouro da música brasileira.
Além da presença do prefeito Adailton Macêdo, a secretaria de Cultura está articulando junto aos organizadores do evento a realização de uma exposição Artística e Cultural com obras de talentos da terra.
O convite oficial foi feito na manhã da última terça-feira, pelo professor Tarcisio Leite, presidente e co-fundador da entidade que esteve visitando a sede da Seculte para formalizar o convite ao secretário José Cícero, juntamente com a senhora Regina Célia, diretora de comunicação daquele profícuo sodalício.
Há alguns anos atrás, também foi criada na capital da república a AFA-Brasília, uma entidade assemelhada que aglutina os aurorenses que residem na corte do poder. A AFA brasiliense é hoje comandada pelo Sr. Vicente Magalhães, Vicente Landim de Macedo, Hamilton Leite Cruz, Hélvia Leite Cruz, dentre outros filhos da terra do Menino Deus.
Diretores da Associação dos Filhos e Amigos de AURORA residente em Fortaleza-CE.:
ASSOCIAÇÃO DOS FILHOS E AMIGOS DE AURORA – AFA
Composição dos órgão da Administração
DIRETORIA EXECUTIVA Francisco Tarciso Leite - Presidente
Francisco Nomésio Ramalho – Vice-presidente
Francisco Pereira Torres – 1º Secretário
Paulo Henrique Leite – 2º Secretário
Sebastião Pereira Maciel – 1º Tesoureiro
Imaculada Gonçalves – 2 Tesoureiro
Francisco Roberto Leite Campos – Diretor Administrativo
Regina Célia Pinheiro de Sousa Maciel – Diretora de Comunicação e Marketing
Joaquim Guedes Ceará – Diretor Técnico
José Wilton Fernandes – Diretor Social
Silvino Neves – Diretor de Relações Públicas
CONSELHO FISCAL Margarida Maria Santos – Presidente
Denise Macedo Pinto – ConselheiraMaria Leite de Araújo – Conselheira
Josefa Celi de O. Pinto – Conselheira
Claudia Maria Maciel Lopes – Conselheira
CONSELHO SUPERIOR DE ÉTICA
Paulo Quezado – Presidente
Moacir Soares Pinto – 1º Vice-presidente
Ruy Ceará – 2º Vice-presidente
Evaldo Gonçalves – 3º Vice-presidente
Des. Maria Nailde Pinheiro Nogueira – 4º Vice-presidente
Pe. Sóstenes Luna – Secretário-geral
José Juracy de Macedo – Diretor Social e Relações Públicas
Presidente da AFA – Membro.

domingo, 17 de janeiro de 2010

E a educação brasileira como vai?

Por José Cícero*
Sobre a necessidade imperiosa de uma política de melhoria no atual sistema educacional brasileiro há mais que uma simples unanimidade. Há um verdadeiro clamor nacional, talvez, instigados que somos, pelos discursos às vezes inflamados de políticos, teóricos e profissionais. Ou ainda quem sabe, pela simples ilusão de que o fazer educacional pode sofrer uma transformação, assim de modo quase revolucionário, de maneira passiva, do dia para a noite. Sem que a própria sociedade tenha que igualmente passar por este verdadeiro estado de transmutação no conjunto da sua própria visão paradigmática da realidade em que se encontra mergulhada. Mas não; qualquer mudança efetiva da educação terá necessariamente que passar por nosso coletivo social no sentido do seu amadurecimento reflexivo e de consciência cidadã.
Antes de qualquer projeto político, a pavimentação para a tão sonhada educação de qualidade aconteça terá que e concretizar no seio da sociedade. Mas neste aspecto é que reside a grande contradição: Ou seja, como uma sociedade na sua maioria “deseducada” poderá despertar para esta necessidade?
Como uma sociedade na sua grande maioria, não dada à reflexão do seu papel e com pouquíssima consciência de si mesma poderá contribuir para um novo estágio avançado da educação brasileira? Há uma herança negativa, para não dizer maldita, que a sociedade hodierna carrega a duras penas sobre suas costas. Enquanto esse peso morto não foi amenizado, muito pouco poderá ser feito. As mudanças as quais o sistema educacional reivindica não pode ser apenas um protocolo de intenções. Como também não poderão ser feitas e tampouco conferidas os seus resultados, assim, num toque de mágica, do dia para noite.
Educação impreterivelmente é um investimento no futuro. Querer cobrar resultados imediatistas na questão educacional é um erro. Mais do que isso; como se diz: é malhar em ferro frio. O desejo político de fazer da educação não uma bandeira acenada para o porvir, mas uma colheitadeira de votos tem dado nisso: um fiasco com fortes e senssíveis prejuízos para o povo e o país.
Não sou daqueles que acreditam que a sociedade atual não tem mais jeito. É preciso acreditar nos sonhos assim como nas utopias, porque isso é que tem animado a humanidade na sua caminhada histórica. Isso é que alimenta as nossas esperanças e nos instiga a lutar pelos nossos ideais. Temos que cuidar da gente do agora para que a do futuro possa ser salva das trevas da ignorância e do caos. Os rumos do futuro, precisam ter por mira o conhecimento, a sabedoria e a solidariedade calcada na valorização e no respeito da pessoa humana: o cidadão, como sujeito construtor da sua própria história.
Qual o respeito que a sociedade tem hoje pela figura e pela importância do professor? E que respeito o governo quer que tenhamos diante da forma como os mestres são tratados? Que investimento está sendo feito no aprimoramento intelectual de cada um, senão por eles mesmos. E que também representa um percentual extremante irrisório?
A liberdade também é um aspecto a ser observado. Posto que nenhum professor poderá produzir de modo manietado pelo conservadorismo direcional de algumas das instituições assim como da própria estrutura do sistema. O 'novo' tem que ser o farol da nossa educação que sonhamos e temos que defender e construir com unhas e dentes. Muito mais do que os discursos e as letras mortas que os políticos costumam colocar no papel. E, mais: todo professor só pode ser chamado como tal quando se dispõr a doação, isto é, ir a lutar... contribuindo com suas idéias, esforços e conhecimentos no ambiente na sala de aula. E não fora dela, por trás de um birô sob o frio climatizado dos arcondicionados... Creio que é preciso educar a própria educação.
Não podemos acreditar no professor(ou em qualquer ser humano que almeja crescer) ou na revolução da educação como uma mera profissão de fé. Não podemos acreditar nos resultados de um profissional que não se capacita por meio da leitura, que não dispõe de tempo sequer para o descanso, o lazer cultural, bem como que não têm acesso as outras ferramentas fundamentais para o seu crescimento interior. Ainda, que não dispões do estimulo necessário para executar tão nobre tarefa como um ato dos mais prazerosos e satisfatórios. Assim como não pensa e nem coloca no papel suas idéias. Tudo isso associado a uma remuneração decente, digna e baseada no respeito como instrumentos de valorização e resgate de uma profissão das mais importantes já “criadas” pelo gênero humano. Uma política de estado voltada para a educação tem que ter o homem(e mulher) como seu objetivo principal.
Sem esta política de valorização, prestígio e entendimento humanista do ato de ensinar, a cátedra daqui a pouco será um espaço fatalmente procurado não mais pelos melhores como foi no passado e, como ainda o é, na maioria dos países que conseguiram promover grandes conquistas educacionais, a exemplo do Japão, França, Alemanha, Cuba, Coréia, Finlândia dentre outros... Sem estes pré-requisitos, o Brasil ficará na marcha-ré da história diante de todo o seu déficit social, aliado a pobreza, corrupção e o analfabetismo, inclusive funcional.
Por fim, a educação terá que ser encarada como uma prioridade nacional. Uma cruzada pela qual todos os cidadãos deveriam se engajar, dar a sua parcela de contribuição. Esta revolução pelo conhecimento é que precisa ser feita, articulada de modo ousado e agressivo pelas hostes governamentais e pelo empresariado brasileiro(as elites que tanto já lucraram com o atraso popular). Do contrário, o futuro do país estará comprometido e a convivência social insustentável.
Ilustração:http://media.photobucket.com/image

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Aurora Pretérita: Um quadro: Um passado no futuro do presente...De Arnaldo da Ingazeiras

Por José Cícero Quadro: "Aurora Pretérita" de Arnaldo da Ingazeiras - 2010.
Você já tentou imaginar como nasceu a cidade de Aurora?
A antiga Venda... Afinal foi no bairro da Aurora Velha(hoje São Benedito) ou será que foi no chamado quadro da matriz?
Ora, mas a matriz foi construída depois da capela de São Benedito, edificada pelos esforços e a determinação ousada do Preto Benedito(um ex-escravo alforriado oriundo da Bahia) que teve a coragem de chegar até o imperador para pedir in situ ajuda para a construção da sua promessa(a capela) a margem do Salgado quase em frente a hospedaria(sic) da célebre Dona Aurora.
Mas será que o nome da tal mulher era Aurora mesmo? O que o poeta Serra Azul tem a ver com este topônimo?
Como se ver são tantas e infinitas as dúvidas, as interrogações, as incertezas históricas, as versões e as invencionices. Que a qualquer um fica difícil, para não dizer impossível aquilatar o que há de verdadeiro ou de mentiroso, irreal, ilusório neste enredo em que os fatos históricos parecem brincar de enconde-esconde com nós, os contemporâneos.
Pensando em tudo isso, foi que desafiei o amigo, o artista plástico: Arnaldo da Ingazeiras, o mesmo que a nosso pedido pintou o quadro: “Aurora Iconográfica” que aliás utilizamos para a criação do Selo Postal comemorativo à passagem dos 126 anos de Aurora. Uma iniciativa pioneira e que foi recebida com muito entusiasmo pelos aurorense daqui e do além-fornteira.
Desta feita, instiguei-o a pintar a versão que, ao meu juízo, mais se aproxima dos verdadeiros fatos acerca dos primórdios, isto é: de como nascera a antiga Venda, e hoje Aurora. Com base no que li e pesquisei exaustivamente. De tal sorte indiquei para o mesmo um pouco daquilo que os poucos livros descrevem acerca do espaço geográfico da velha Aurora.
Como se uma pista fosse. Quer seja: na margem do Salgado no lugarejo que ainda agora é denominado de “As Beatas” que por sinal também é uma pista para a existência da célebre capela do ex-escravo. Uma capela de traços avançados para época, mais imponente do que o oratório que dera origem a capela, a igreja e depois, a matriz. Por sinal estivemos lá, escavando os antigos alicerces que indicam as ruínas da tal capela.De costa para o rio, que chegou até nós pelas penas de um outro artista – Reis Veloso – que por aqui passou com Gonçalves Dias, na expedição científica enviada por Dom Pedro II em meados de 1800.Um pequeno cruzeiro dos penitentes à frente a guisa de adro. Muitas árvores. Mata ciliar do rio selvagem e carnaúbas... Quase de frente para o empório/hospedaria da histórica mulher. Ambas(capela e hospedaria) abrindo passagem para os caixeiros viajantes à estrada do almocreve que dava acesso dos sertões ao litoral. Um local de descanso e diversão de todos os viajantes. Um oásis. Uma parada obrigatória que ficara célebre assim como sua proprietária. O profano e o sagrado convivendo em paz e harmonia. Será? Que mistério envolverá todo esta história?
Então, desafiei o nosso confrade pintor das Ingazeiras. Dei-lhe as coordenadas histográficas. Como disse: Uma capela, uma casa em frente, um riacho a dividir tudo ao meio. Aurora Velha da fazenda logradouro. Uma fileira de casinha/casebres cobertos de palhas. Um caminho, árvores ma mais plena exuberância. Uma elevação do terreno apontando o Sul. Um céu iluminado pelo sol assim como pela solidão do mundo. Canto de pássaros livres... Poucas pessoas na lida sertaneja. Uma paz sem medo. Um sentimento de vida plena na mais pura acepção do termo.
Um rio em abundância de águas cristalinas... Um manancial perenizado pela natureza. Correndo por isso o ano todo. Fauna e flora fortalecidas e muito além dos homens. Uma evidência para o surgimento e colonização de todo o Cariri. A razão da vinda dos índios Kariri oriundos da Borborema acossados pela seca. A propósito: como a capela desapareceu ninguém sabe. Foi riscada da história, como dizem, varrida do mapa como num passo de mágica. Até onde pode nos levar o preconceito e a intolerância.... Ninguém sabe.
Com estes indicativos, portanto, o nosso Arnaldo da Ingazeiras criara mais uma das suas mais importantes obras – “Aurora pretérita”, cujas tintas e pinceladas no remete a pensar e repensar Aurora nos seus primórdios sem perder de vista a necessária reflexão no seu tempo presente. Tudo isso, quem sabe, como um verdadeiro esforço coletivo e psicológico através do qual toda arte verdadeira se expressa ganha vida e robustez no sentido de aumentar em nós, enquanto sociedade moderna, o espírito de amor e cidadania como tributos à história de todas às gerações que por aqui já passaram e, de algum modo deixaram a sua marca.
"Aurora Pretérita" - é por assim dizer no seu colorido verdejante, uma lembrança, uma recordação, uma saudade de um tempo que nos toca fundo, mesmo não o tendo vivido como seria comum às reminiscências. Mas toda saudade verdadeira e pungnte é assim mesmo: Não tem idade e mexe com a gente. Prestigiemos então, todo o talento do nosso Arnaldo da Ingazeiras - Um artista simples porque é do povo.
José Cícero
Professor, Poeta e Escritor
Secretário de Cultura
Aurora-CE.

domingo, 3 de janeiro de 2010

Um século de nascimento de Rachel de Queiroz: Esqueçamos o Big Brother!

Por José Cícero
Este ano o Ceará comemora um século de nascimento da sua romancista maior – Rachel de Queiroz. Nascida em Fortaleza em 17/11/1910, a menina Rachel ainda em tenra idade viajara com os pais por vários lugares, qual um verdadeiro Dom Quixote de saia. Mas apenas um município marcara profundamente o coração da escritora: Quixadá, lugar que ela mesma escolhera como sendo a sua terra natal. Porque a ninguém é dado o poder de escolher o torrão em que se nasce. Sua Quixadá que aliás ela fazia questão de dizer que a amava até mesmo no nome que escolhera para a sua fazenda de repouso e produção: “Não me deixes”.
Porém um dia foi Rachel que nos deixou em 04/11/2003 quando dormia em sua rede no Rio de Janeiro. Morreu como vivia na placidez da sua calma producente. Assim foi que partira para a eternidade dos altiplanos espirituais. Aqui conosco, a sua saudade também será eterna, assim como os seus livros. Isso porque as idéias com sua capacidade narrativa e criadora nunca morrerão em nós. Por isso Rachel não morreu, como diria o poeta, apenas se encantou, talvez por um instante eterno... Quem sabe na mais fantástica das histórias contadas e decantadas num dos seus próprios livros.
Lá, nas paragens quixadaenses a escritora adolesceu conhecendo toda a exuberância do bucolismo do interior cearense. Magníficas tintas com as quais a jovem Rachel deu todo um colorido especial a sua produção literária. Desta mistura de cores e situações inerentes ao cotidiano social de um sertão marcado pelo sofrimento, tanto quanto pelo isolamento e o abandono foi que nasceu sua obra-prima – O Quinze. O livro que a projetou na seara da literatura brasileira.
Dona de um estilo literário muito particular; um dos mais fortes e elegantes, Rachel de Queiroz mostrou-se de vez para o país, até então, avesso à lavra feminina e a leitura; um mundo quase desconhecido, também para o chamado povo do litoral; as elites, os donos do poder. Daí então, com sua visão perspicaz surgiu uma leva de obras referenciais que ajudaram a enriquecer a cultura literária brasileira como um todo. E que, a um só tempo, consagraram-na com uma das mais notáveis contista-escritora de todos os tempos.
Ao ponto de, depois do paraibano José Lins do Rego – supra sumo da literatura regionalista; a produção de Rachel foi a que mais se aproximou da realidade dos sertões nordestinos de uma época, posto que retratou com a mais absoluta fidelidade as verdadeiras nuances de um cotidiano marcado pelas agruras assim como pelo sofrimento de toda uma gente acostumada, quando possível, até mesmo a morrer calada. Como uma nação de esquecidos entregues a própria sorte, quase sempre 'ao Deus dará'. Assolados pelas secas intermitentes e a exploração dos coronéis...
Foi uma autêntica mulher do seu tempo, notadamente quando esteve inclusive além dele. Na sua juventude se tingiu de revolucionária comunista; atéia por convicção pela vida inteira e quase ufóloga, dada a expressiva curiosidade que tinha em relação ao cosmo, quando acreditava por exemplos nos extraterrestres e na pluralidade dos mundos habitáveis pela plagas siderais. A primeira mulher a ocupar uma cadeira na Academia Brasileira de Letras; vez que no coração do povo cearense ela já galgara o panteon da imortalidade.
Já no fim da vida, confidenciava a solidão psicológica pela sua condição de não ter fé. Morreu como viveu como a mais autêntica das figuras humanas que devotara à vida e aos amigos todo o amor e todo o afeto possível. Foi por tudo isso, uma mulher das mais extraordinárias, diferente e moderna na pura acepção da palavra. Numa época em que possuir estes atributos, era quase um sacrilégio.
Como mulher foi igualmente revolucionária e transgressora não somente no que escreveu, mas principalmente na sua vida prática cotidiana.
Que os seus conterrâneos do Ceará, do Nordeste e do Brasil esqueçam sequer por um instante, os pseudosvalores dos big Brothers da vida, das bandas de forró, das telenovelas, das bundas dançantes e das roedeiras apelidadas de música sertaneja... Para quem sabe, celebrarem junto esta data com um mínimo de cidadania do respeito, ética educativa e sabedoria cívica, como um legado histórico-cultural dos mais valiosos deixado como presente para toda uma geração do passado, do presente e do futuro.
O centenário de nascimento desta colossal escritora cearense, portanto, é uma dádiva que todos nós deveríamos comemorar com a mais alta das alegrias e dos entusiasmos.
Viva Rachel! A mais eterna imortal das cearenses de todos os tempos...
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