terça-feira, 30 de março de 2010

Um poema metafísico*

Por José Cícero*
Ontem à meia noite e meia fiz o meu poema mais bonito. Uma verdadeira ode ao silêncio quando me senti perdido em meio a solidão de mim mesmo e de tudo o mais que existe. Como alguém tremendo de frio abraçado aos seus tormentos sorvendo os efeitos do seu próprio medo.
Meu poema mais bonito continha todo o lirismo possível que a poética do mundo poderia conceber.
Um poema arbusto, rasteiro com gosto de terra e cheiro de verdade. Um poema surreal como um peditório consagrado à perfeição dos gestos e dos sentimentos mais altaneiros da fauna humana como um mero atributo dos bichos brutos. Um poema de louvor e estranhamento como uma carta ousada adolescente escrita às escondidas sob a sombra dos antigos arvoredos.
À meia noite e meia de ontem embevecido pela solidão do mundo conclui o meu poema mais bonito, prenhe de encanto e de desvelo. Debaixo de um céu de chumbo queimando meu crânio e os meus neurônios entre seus mistérios e seus segredos.
Um poema novo e diferente reacendendo em todos, o fogo da confiança nas coisas possíveis.
Um poema sensível cheio de verdades. Uma oração inteiramente dedicada às utopias e aos sonhos dos que, tocados pela fortaleza dos deuses, ainda não perderam por completo as esperanças no amanhã e a vontade de viver, assim como a coragem de acreditar na possibilidade de um futuro de felicidade.
Um poema sensível, quase inocente como uma canção de ninar a embalar as criancinhas ainda agora, por entre nós, pensando pelos homens adultos entretidos, contando seus metais ao redor do fogareiro demoníaco.
E, quando enfim me dei conta, vi que meu poema estava repleto de grandes olhos. Era como um ser estranho, um alienígena, olhando para mim como um promotor que interroga de modo irascível um criminoso.
Aquele olhar era penetrante ao ponto de eu também me ver ali, por meio daquela ótica ensandecida. Era enfim, a minha luneta mágica através da qual eu procurarava psicologicamente enxergar pelo seu lado oposto, tudo que até então eu ainda não tinha conhecimento.
Vi-me por dentro. Estava em frangalhos. Enxerguei pela ótica bizarra daquele poema toda a dimensão dos meus erros cometidos por todos estes anos. Estava ali, diante de mim mesmo, como quem realiza um acerto de contas com seu Eu profundo. Na tentativa desesperada de consertar a tempo, meus equívocos e meus defeitos. Tanto por fora quanto por dentro, eu era um estrago no sentido mais lato do termo.
Por meio do meu poema mais bonito pude finalmente enxergar a nudez absoluta do meu ser, ante a mais cruel de todas as misérias que já se abatera por sobre o mundo.
Aquele poema de alguma maneira conseguiu tocar a minha alma como espinhos furando sem dó nem piedade a minha carne. Quem sabe para que eu pudesse me dá conta que ainda estava vivo.
Ou ainda para que eu pudesse enfim, despertar para o novo mundo que se avizinhava bem a minha frente, em meio as divagações daqueles versos esquistos. Um despertar para os meus sacrilégios recorrentemente dissolvidos nos meus gestos cotidianos.
Através do meu poema, percebi que a beleza, assim como a miséria do mundo tinham muito a ver comigo. Também era da minha conta, vez que compunha o meu universo entrínseco. E eu chorei copiosamente como um menino em abandono chorando sua sorte, sua desventura e seus desejos não realizados. Senti como ninguém jamais poderia toda a solidão que existe neste mundo...
O excesso de verdade contido no meu poema era como faca peixeira nas mãos de exímios açougueiros retalhando a minha carne fraca em desvario intenso.
E eu sofri em demasia naquela noite, até o nascer do dia, como quem sofre eternamente as dores mais fortes do mundo inteiro.
Quando enfim, o sol surgiu no azimute mundano; o meu poema mais bonito encheu a minha vida de esperanças e de outras utopias impossíveis.
Com o meu poema novo morri e ressuscitei tantas vezes precisei e, sempre quando carreguei nos meus próprios ombros o fardo pesado do tempo ido jogado sobre a minha vida inteira por todos os gigantes do mundo.
O meu poema mais bonito em definitivo, é agora o meu espelho. A minha outra face. A verdade que carrego pela vida afora e que escolhi para mim mesmo.
(*) José Cícero
Prof. Poeta e Escritor
Secretário Mun. de Cultura
Aurora - CE.
In Fragtais Imensos(Inédito/2010)
Foto: da Internet
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segunda-feira, 29 de março de 2010

Armando Nogueira: A poesia imorredoura do Futebol e da Notícia

Por José Cícero
Existem pessoas que mesmo não sendo nada da gente quando morrem produzem em nosso íntimo a mais das absolutas sensações de perda. Um sentimento de vazio extremo. Uma profunda saudade a nos invadir, como avalanche, a nossa própria alma como se estivéssemos em sobressalto constante.
Pelos menos é assim que acontece comigo.
Quem sabe o afloramento natural das nossas raízes ancestrais psicocógicas, sei lá... Como resquícios remanescentes das nossas mais latentes e intrínsecas ligações holísticas, espirituais, supra físicas como o cosmos, o universo em toda sua plenitude.... Comigo pelos menos é assim que ocorre.
Foi assim, por exemplo, quando fiquei sabendo pela TV do desencarne do renomado jornalista e comentárista esportivo Armando Nogueira.
Assim como tem acontecido com várias outras figuras, não apenas do Brasil que com seu talento quer seja intelectual, humanístico ou do beletrismo artístico de algum modo especial contribuem para o progresso humano e, por conseqüência para o melhoramento afirmativo do mundo.
São nestes momentos de perdas profundas, que a reflexão sobre a nossa existência e o mistério da morte reacendem em nós pobres mortais a necessidade de um melhor direcionamento das nossas ações em favor da vida e do próximo. Ocasião que os sentimentos de fraternidade e de solidariedade tocam fundo a nossa alma, coração e mente.
Ante a presença implacável da morte enxergamos nossa pequenez em sua dimensão mais forte e verdadeira. Porque é com a morte, como em vídeo-tape, que tentamos rever e reavaliar nossos momentos, nossas ações e hesitações, durante a nossa efêmera passagem pelo palco sombrio da vida; assim como toda a transitoriedade do nosso verdadeiro sentimento de se estar no mundo.
Porque é assim que verdadeiramente acontecer comigo. Isto é fato. E fato sendo reflito com a ligeira sensação de que estou igualmente à beira do meu momento findo. Porque todos os dias para nós, devem ser o último...
A notícia do falecimento de Armando Nogueira me tocara com aquela sensação estranha e lúgubre só experimentada pelos que de fato, perderam algo importante. Contudo, figuras como a de Armando Nogueira, não deveriam morrem nunca. Isso porque, de algum modo contribuíram efetivamente para o aprimoramento necessário do gênero humano.
Quem sabe por isso Guimarães Rosas sempre dissera que os grandes homens nunca morrem de verdade, eles apenas se encantam. Tomara que o mestre Armando não tenha morrido, mas apenas se encantado. Porque do meu lado, posso dizer que sempre me encantei assaz deslumbrado diante dos seus escritos poéticos e suas crônicas futebolísticas das mais inteligentes.
Muitas foram as vezes que me deliciei na minha adolescência quando o lia ou quando o via na TV. Tive o raro prazer de vê-lo ainda na Manchete, assim como suas tiradas na Placar.
Armando Nogueira foi um dos maiores redatores que este país já produziu. Talvez o último. Filho da distante Xapuri-AC, que ficou famosa através da luta e morte de Chico Mendes. Armando veio para o Rio ainda em tenra idade para ganhar a vida. E a ganhou na medida em que se transformou no maior e mais conceituado jornalista esportivo do Brasil. Com atuação na revista Cruzeiro, Manchete, Bandeirantes e na TV Globo, onde foi inclusive um dos mentores do jornal nacional. Como enviado, cobriu várias Copas do Mundo assim como as Olímpiadas. Foi um daqueles comentaristas em extinção, cujos comentários nos enchiam de prazer e conhecimento.
Há anos que não o vi mais na telinha ou no impresso. Quem sabe pela opção idiota que a mídia atual tem feito em favor dos rostinhos jovens e engraçados em detrimento do talento, da ética e da inteligência de tantos, que como Armando, foram pioneiros ajudando, inclusive, a moldar os alicerces fundamentais do jornalismo brasileiros.
Vítima de câncer no cérebro, Armando Nogueira faleceu nesta segunda-feira(29) no Rio de Janeiro aos 83 anos.
Com o desaparecimento de Armando, o jornalismo esportivo autêntico, assim como a notícia diferenciada e a crônica poética do cotidiano saem de cena, dando lugar ao shownalismo marrom, negro, feio e fedorento.
Uma pena, que os nossos filhos nunca poderão conhecer a lavra e o talento de Armando Nogueira. Simplesmente porque ele será para sempre insubstituível. Mesmo assim fiquemos torcendo para que Armando não tenha morrido, porém apenas se encantado, oxalá em mais uma daqueles suas belas e encantadoras crônicas do nosso futebol arte. Porque Armando foi e para o todo e sempre o será aquilo que podemos classificar como: Um Gol de Placa.
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ARTIGO: Ibiapina: O Homem*

Padre José Antonio de Maria Ibiapina, assim assinava aquele que o povo chamava de mestre Ibiapina, o maior missionário do Nordeste. Cujo centenário se celebrou em 1983. Hoje em dia ele está quase totalmente esquecido, mesmo no Nordeste, salvo em algumas comunidades rurais muito tradicionais em que se mantêm algumas devoções recomendadas por ele ou nas imediações de Santa Fé, perto de Arara, na Paraíba, onde foi sepultado. Cada ano em Santa Fé no dia 19 de fevereiro uma piedosa romaria reúne os últimos os últimos devotos do Padre Mestre.
Nada mais injusto do que o esquecimento em que caiu o grande missionário do sertão do Nordeste. Se tivesse tido continuadores, a face da igreja no Nordeste e no Brasil teria podido ser diferente. Mas a circunstância histórica não lhe foi favorável. Depois do Vaticano I, no Brasil a igreja entrou nos rumos da romanização e do ultramontanismo. Os bispos pediram a ajuda de religiosos europeus formados na mais estrita observância do Ultramontanismo.
A Herança pastoral autóctona foi abandonada. Em torno à figura do maior e dos mais originais dos missionários do Nordeste, criou-se um silêncio de quase reprovação.Ibiapina nasceu em 1806 numa fazenda perto de Sobral, no Ceará. O Seu pai era escrivão o público. Seu pai teve parte ativa na revolução de 1824, conhecida como confederação do Equador, e foi fuzilado. O Seu irmão mais velho. Pela mesma razão. Foi preso na ilha de Fernando de Noronha onde morreu misteriosamente. Estudou dois anos no seminário de Olinda de 1823 a 1825. Mas não se entrosou e saiu. Entrou na faculdade de direito recém fundada e formou-se aos 26 anos, assumindo imediatamente a cadeira de direito natural na escola de direito.
No ano seguinte, aos 27 anos, ele é juiz de direito e chefe da polícia em Quixeramobim. Aos 28 é eleito deputado federal na constituinte de 1834. (...) Em 1855, dois anos depois da ordenação, deixa o Recife definitivamente para buscar a sua vocação no sertão. Deixa a igreja instalada da capital pernambucana que a ninguém para buscar o povo de Deus perdido nesse interior interessa. Então começa a sua vida missionária. Os últimos 28 anos de sua vida vão fazer uma extraordinária carreira de missionário.
De 1860 a 1876 foram os anos da vida itinerante. A partir de 1876, Ibiapina, paralisado, instala-se em Santa Fé, continuando a dirigir asa suas fundações à distância. Aí morre em 1883.
_________________
Prof. Luiz Domingos de Luna -
É mestre de Ordem, Ordem Santa Cruz, - Penitentes - Forania do Aurora no Estado do Ceará, aos 28 dias do mês de março, 2009.
Bibliografia:Ibiapina José Antonio de Maria, 1805 – 1883
Instruções espirituais do Padre Ibiapina/ José Comblin {organizador} – São Paulo: Ed. Paulinas, 1984.
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quarta-feira, 24 de março de 2010

PC do B – 88 anos de socialismo: Justo, forte e renovado. *

Por José Cícero
Um tributo ao aniversário dos 88 anos de existência do PC do B.
______________
Um sonho antigo
Que ainda não se esmaeceu por completo
No horizonte do mundo.
[Socialismo.
PC do B – fortalecido: 88 anos.
Um bastião de jovens valentes.
Próspera semente.
Plantada no solo fértil
Dos horizontes altissonantes.
Esperança que a cada dia
Se renova,
Nos nossos braços fortes
Corações e mentes;
Como glicose aplicada
Nas nossas veias.
[Socialismo.
Busca incessante
da coletiva felicidade
que acreditamos.
Enormes utopias do gênero humano.
PC do B – timoneiro: 88 anos.
Glória de toda uma história
Travada em favor do bem.
Combate pela igualdade
esperanças conjugadas
Em seu próprio Norte.
[Socialismo.
Sonho convicto dos homens
E das mulheres conscientes,
Juntos edificando,
Em pleno uníssono
Os alicerces
Inquebrantáveis do futuro.
[Socialismo.
PC do B – Araguaia: 88 anos.
Utopia em favor da paz.
Sociedade libertária.
Mansuetude do mundo.
Comunhão dos que não têm medo
idéias iluminadas,
Sol do futuro.
Desprendimento.
Dias alvissareiros
Revolução.
Democracia Popular
Garantida ao mundo inteiro.
[Socialismo.
PC do B – heroísmo: 88 anos.
Farol de um novo tempo.
Luta da memória dos anos
Contra o fantasma do esquecimento.
João Amazonas e tantos outros
Magnos combatentes;
Ainda hoje a segurar conosco,
- Os contemporâneos,
a foice e o martelo
Como instrumentos de uma construção
Diária, necessária.
Rubra rosa, vermelha bandeira
Fogueira a iluminar os guetos
do Brasil e os jardins floridos do planeta.
Pavimentando de determinismo revolucionário
os novos caminhos do futuro.
[Socialismo.
PC do B – jovialidade de idéia: 88 anos.
Perspectiva de tudo o mais que é novo.
Luta dos povos
Em favor dos que ainda não se deram por vencidos.
[Socialismo,
PC do B – combativo: 88 anos
Juventude, experiência e compromisso.
Socialismo, socialismo, socialismo!...
_______________________
José Cícero
Professor, pesquisador e poeta
Dirigente municipal do PC do B
Secretário de Cultura

segunda-feira, 22 de março de 2010

Água: Hoje é seu dia, você sabia?..

Por José Cícero*
Quase ninguém está nem aí para o dia internacional da água. Até porque quase ninguém sabe que este 22 de março é o dia da água. Aliás, até tenho minhas dúvidas se os esquecidos e desavisados da ecologia têm de fato algum tipo de preocupação quanto a atual situação da água no planeta.
Hoje é o dia internacional consagrado às águas. Uma niciativa instituída anos atrás pela Organização das Nações Unidas (ONU), à guisa de declaração universal dos direitos da água, cujo documento contém uma série de medidas, sugestões e outras informações que no seu conjunto visam despertar a opinião pública mundial para à problemática da água no planeta.
Desde muito é notória a necessidade urgente de uma consciência ecológica de todos os seres humanos em escala global no sentido da promoção de uma nova mentalidade e relacionamento das pessoas com a água, assim como todos os mananciais da biosfera.
Não é preciso ser biólogo ou ambientalista para que percebamos o quão complicado está se tornando o meio ambiente no seu contexto mais geral. O crescimento populacional em todo o mundo e por gravidade o aumento absurdo do consumo aos recursos naturais, a poluição, a destruição dos ecossistemas terrestres, a extinção de espécies, a degradação da natureza na sua versão mais cruel, são indicativos de que o planeta já está beirando os limites da sua exaustão total. E neste contexto, a água como um recurso vital para a vida na terra, encontra-se igualmente num patamar de imensa precariedade, dada a situação em que se encontra.
Por conseguinte, este 22 de março precisa ser encarado por todos os seres humanos do globo como um momento de profunda reflexão acerca de todas estas questões envolvendo à água e os seus desdobramentos ambientais.
Uma pena que o dia dedicado a água – um bem tão precioso e vital para a sobrevivência do planeta – possa passar literalmente esquecido por boa parte das pessoas, sobretudo pelos brasileiros, quando se sabe que 12% da água de todo o mundo encontra-se no Brasil. É de lamentar, que a opinião pública, os formadores de opinião, os intelectuais, professores, estudantes e a sociedade de um modo geral não esteja nem aí para este dia. No fundo, esta indiferença é um claro indicativo de que a água, assim como os demais problemas relacionados ao meio ambiente e os recursos n aturais, parecem não fazer parte da agenda das preocupações cotidianas da população e, tampouco das prioridades governamentais
Este dia, portanto, deveria está sendo problematizado, debatido, discutido, refletido, pensado, lembrado em todos os estabelecimentos de ensino do nosso país e, por extensão em todo o mundo. Do contrário, não podemos continuar acreditando que a sociedade esteja sequer minimamente preocupada e, por assim dizer, consciente da gravidade do problema. Como se percebe a ignorância humana no tocante não apenas a questão da água no planeta, vem se configurando como algo igualmente grave. Posto que não ajuda muito na possibilidade de uma mudança efetiva no que tange a relação predatória das pessoas com a natureza.
De modo que toda a crise por que passa os recursos naturais do planeta é decorrente das atividades antrópicas, ou seja, da maneira desregradas, ignorante e desrespeitosa com que a espécie humana tem se comportado ao longo da história.
Os nordestinos, por exemplo, são testemunham e vítimas também do desequilíbrio climático, agora como mais uma estiagem... E o que dizer dos últimos acontecimentos catastróficos ocorridos ultimamente pelo mundo afora? Diríamos que a dura realidade relacionada a água no planeta é apenas a ponta do grande iceberg que ainda está por aparecer na sua totalidade.
O que falta mesmo, não apenas neste dia dedicado a água, é muito mais que apenas consciência. Faltam, inclusive, conhecimento, humanismo e solidariedade sobretudo com o tipo de planeta que haveremos de deixar para a geração do futuro...
Trocando em miúdos, neste dia internacional da água, o que haveremos de comemorar mesmo?!
José Cícero
Professor, Pesquisador
Aurora - CE.
Foto ilustração: Internet
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quinta-feira, 18 de março de 2010

Devassa? Coisa nenhuma*

Por Ferreira Fernandes
Espantou-me a notícia brasileira sobre censura a anúncio da nova cerveja Devassa. Belo nome para um anúncio que desilude. A Devassa contratou Paris Hilton para, em terra de mulatas, ousar menear-se lascivamente com uma lata da cerveja. Ora esses gestos de tédio e vídeo foram proibidos por serem desrespeitosos. Deixem-me relembrar: no Brasil! No Brasil da marchinha Chiquita Bacana: "Não usa vestido/ Não usa calção...", diziam os versos nesse Carnaval de 1951.
No Brasil de Chico Buarque, autor desta frase: "Não existe pecado do lado de baixo do Equador." De Vinicius de Moraes: "Nádega é importantíssimo." No Brasil colonizado pelo padre Manuel da Nóbrega, jesuíta, que se incomodou por os índios comerem até "mulheres bonitas, em vez de as utilizar para mister mais selecto". Do poeta Carlos Drummond de Andrade: "Oh, sejamos pornográficos/ (Docemente pornográficos)..." Do Brasil todo virado para aí: "Você é o seu sexo.
Todo o seu corpo é um órgão sexual, com excepção, talvez, das clavículas" (Luís Fernando Veríssimo). E da desbunda, como dizia o jornalista Zózimo Barrozo do Amaral: "Antes à tarde do que nunca." E é nesse Brasil abençoado pela falta de pudor, que uma lambisgóia americana, loira e de fórmica, causa furor. "Progresso", diz a bandeira brasileira. Mas estão a regredir.
Fonte:http://dn.sapo.pt/inicio/opiniao/interior. In blog alagoinhaimpaumirim
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domingo, 14 de março de 2010

A bela e a Cidadezinha*

Por José Cícero*
A rua que era de pedra tosca
quase desértica,
se iluminava sempre,
toda vez que ela passava
com seus passos lentos e ritmados.
Uma cadência estética, sensual.
como se fosse uma marcha
cuidadosamente ensaiada.
Um passo de dança.
Uma autêntica Amazonas
Ousada e destemida, cavalgando
o dorso selvagem do seu cavalo

ao sabor do vento
roçando a sua face.
E a sua beleza era tanta
que quando ela passava
Tudo em sua volta parava.
Como que num passo de mágica.
E o riso tímido que ela carregava
Lindamente no canto da boca
Assim como a singularidade do seu corpo
para os conservadores
daquela cidadezinha
Era uma blasfêmia.
Um sacrilégio imenso.
Um acinte aos bons costumes.
Uma sedução imperdoável.
Roubando a paz das senhoras
de toda circunvizinhança.
Mas era tremenda a sua elegância.
Olhos de lince.
Lábios rubros aflorando o amor.
Cabelos longos em carambolice.
Tudo o mais que nela existisse
Era admirável.
Digno de aplausos e de louvor.
Deslumbramento de beijo em flor.
Seios pontiagudos como que querendo
Saltar fora da sua blusa provocante
de quando em vez, como de propósito,
dispensando o sutiã.
Seu dorso era uma invenção do Olimpo.
A compleição do seu rosto
Um desenho só permitido a Afrodite.
Suas mãos quando em concha,
seus dedos quando em riste.
Uma prece em favor do mundo.
Suas coxas exuberantes
profanavam nosso olhar.
Tudo do seu corpo em conjunto
beirava os limites da perfeição humana.
Ela era linda...
Uma deusa em forma de mulher.
Nova tentação de Adão.
Posta de novo para experiência,
capricho ou teimosia
no meio da gente.
Ou como presente.
Para ser amada, adorada e até odiada.
Uma graça tão sem nome...
Que só poderíamos chamá-la
de paixão danada.
Quando ela passava,
com seus passos estonteantes.
Tudo parava por um instante.
Brasa permanentemente acesa
a queimar nossas ousadias.
em pensamentos maliciosos.
A cidade era pequena.
Uma praça adornada por erva daninha
espalhada entre as pedras mal colocadas
no chão dos becos
e das vielas esburacadas.
Arbusto subindo por sobre os muros
de tijolos nus.
Como nua era a visão que tínhamos dela.
Velhas ruas que ela passava,
abrigando a penumbra e a preguiça cotidiana
daquele lugar esquecido e sem memória.
E ela pisava o mato do calçamento
Com tanta leveza e tanta classe...
Como se plumas fossem
as pedras toscas dos caminhos
por onde caminhava.
E asim desfilava sua beleza
a nos instigar loucuras
e outras fantasias excêntricas.
A cidadezinha toda se iluminava
quando ela passava
com o brilho que tinham seus olhos
e seus passos lentos
A suscitar desejos
e estranhamento.
Entre todos os que a viam
em seus paseios.
Ela mexia com a cidade.
E a nossa imaginação;
de mancebos sonhadores.
Ela passava rebolando
com seus trejeitos.
E a cidadezinha,
seduzida por seus encantos
Dizia-lhe – amém!
E as mulheres ante um misto
de inveja e azedume
chamavam-na pecadora!
A despeito de toda beleza
que os deuses deram-lhe em demasia.
Exagero de tudo que é belo
amenizando a feiúra do mundo,
o cansaço e a monotonia da vida.
Mas com o passar dos anos
a sua beleza pareceu maior
muito mais do que a cidadezinha
comportaria...
Tanto que num belo dia
sem ver nem porquê,
sorrateiramente,
ela partiu num trem noturno de domingo
para a cidade grande.
Desde então, ninguém jamais ficou sabendo
do seu destino.
Ou o que foi feito dela.
A mais linda mulher
Que já pisou a terra
segundo os olhos sobressaltados
de surpresa e de tristeza
dos que a adoravam.
E que ficaram para sempre
como que órfãos pela ausência dela.
Naquela cidadezinha desértica
esquecida desde então no oco do mundo.
E depois que ela partiu
a cidadezinha nunca mais foi a mesma.
O mato cobriu por inteiro a praça.
As pedras das ruas cobriram-se de ervas
Os velhos muros vieram abaixo
dando lugar aos espinhos do mata-pasto.
E o silêncio como de resto
cobriu de deserto,
de saudade e luto.
E tudo o mais que acaso restara
daquela cidadezinha provinciana
afogara-se no remorço
por conta de toda falta
que fizera a bela.
_____________
Por José Cícero
In Minhas Metáforas Cotidianas
Inédito - 2010
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www.aurora.ce.gov.br
www.seculteaurora.blogspot.com
Imagem Ilustrativa: Da Internet

quinta-feira, 11 de março de 2010

Poema à Estação d'Aurora


"Passado de pedra, antigas estações do trem..."
Por José Cícero*

O passado agora é uma pedra.
Um sólido fantástico.
Paralelepípedos imensos,
Concreto de reminiscências;
[ tempos idos,
blocos de pedras esquecidos,
abandonados.
Deitados, como que antigos passageiros.
[desmaiados,
embebidos em seus próprios sonhos.
A esperar o trem
Na pedra da estação-passado.
[Agora sem vida.
na rua desértica adormecida.
O passado agora é uma pedra.
Um bloco enorme
de granito pesado.
Como pastores diversos
[dia e noite a vigiar
a velha estação do trem,
na penumbra dos anos desprezada.
O passado agora é uma pedra.
Granito imenso
impregnando de recordação
as nossas vidas.
Uma rocha que não tem tamanho
Carrasco do tempo
Que se fez saudades.
[Fardo pesado
A esmagar nossas lembranças
Como se fossem
Moinhos de ventos.
[Espalhados
ao longo dos trilhos
da antiga estrada.
O passado agora é uma pedra.
Estrada de ferro
no mais completo abandono.
Antiga fonte de progresso
Que dantes alimentava o Cariri.
[Estação d’Aurora,
Missão Velha, Barbalha.
Ingazeiras, Lavras, Iborepi
Todas Ligadas agora,
por uma linha inexata
[Fantasmagórica,
imaginária.
A transportar o nada
para lugar nenhum.
O passado agora é de pedra.
Plena saudade.
[Uma rocha ilusória
Comboio de antigos vagões
[Abandonados
sobre a ferrugem dos trilhos,
e no silêncio dos anos.
Dormentes carcomidos.
Enterrados como gentes
no barro batido do chão.
[Esquecimento.
Velho trem de outrora.
Passado de metal
[Pedra da estação d'Aurora.
Recordação que nos persegue
anos afora,
Para o todo e sempre.
________
(*) José Cícero
Professor, Poeta e escritor.
Secretário de Cultura
Aurora/CE.
In Abstrações do Acaso
Inédito - 2009
Fotos ilustrativas: Estação de Auror/ jc
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domingo, 7 de março de 2010

MULHER...

Por José Cícero

Apogeu do ato criador de Deus.
Figura exultante,
Fonte exuberante
Do amor maior
que existe no mundo: Mulher!

Semente dos céus
que o altíssimo
num dia de graças
Um tanto inspirado
semeou por entre os seus: Mulher!

Oração cotidiana
Levita-obreira
Infinita bondade
tão sem nome.
Joana, Maria, Zefa, Ana: Mulher!

Milagre a se renovar por entre os homens
para o todo e sempre.
Carinho e paz
Que nos redime;
Angelicalmente: Mulher.

Luz que ilumina a vida.
Na mais pura retidão que existe.
Mãe da humanidade.
Palavra eternizada
Por entre a gente
Mágica oblação de santa: mulher!

Sensibilidade edificada.
Justiça a que todos enxerga
Puro sentimento...
Na mais pura perfeição
Do que é certo
Oferta compartilhada: Mulher!

Humana criatura.
Beleza rara de toda criação.
Sinônimo de todo amor que existe.
Anjo da plenitude;
Plena louvação dos deuses: Mulher!

Tolerância que pacifica o mundo
Símbolo de luz.
Puro sentimento
de mancietude...
Farol que a todo guia
Angelical figura: Mulher!

Força que nos conduz
E nos impõe
a grandeza da aceitação
do amor como partilha.
Dádiva divina,
refrigério dos que sofrem.
mãe eternamente: Mulher!
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José Cícero
In Minhas Metáforas Codianas
Inédito - 2010
Fotos ilustrativas:(da Internet).
______




segunda-feira, 1 de março de 2010

Morreu em SP o maior Bibliófilo do Brasil - José Mindlin

Por José Cícero
Neste último domingo o Brasil perdeu aquele que atualmente era tido com o mais importante bibliófilo do país e por que não dizer da América Latina – José Mindlin, que aos 95 anos continuava sendo o mais apaixonado dos brasileiros pelos livros. Era também um dos maiores leitores dos grandes clássicos da literatura universal, fã de Marcel Proust e de Machado de Assis, apenas para citarmos alguns dos monstros sagrados da escrita mundial.
Acadêmico da ABL, Mindlin possuia a maior e mais importante biblioteca particular das Américas com pouco mais de 38 mil exemplares, alguns dos quais de reconhecido valor nacional, em face das verdadeiras raridades que representam. Obras no mais das vezes únicas no mundo. Antes de morrer José Mindlin havia doado todo o seu acervo para a USP.
Num país onde a cada dia o livro é colocado como objeto de segunda categoria e o hábito da leitura e da escrita um ofício dos mais distantes do cotidiano popular; o desaparecimento deste homem diferenciado representará uma grande e sentida perda para toda a nação. Muito especialmente para a intelectualidade e os amantes dos livros de um modo geral. Muitos por aqui lamentaram e choraram até a perda de figuras como a do M. Jackson no entanto, são poucos o que sequer já ouviriam falar em Mindlin. Simplesmente coisas do Brasil...
Fica agora o exemplo deste brasileiro que por toda a sua vida dedicara o melhor de si para o progresso cultural do Brasil. Começou a colecionar obras raras desde os 13 anos de idade. José Mindlin é um daqueles homens, que de tão singular nunca morre de verdade. Apenas se encanta.
O legado de Mindlin é um tesouro que todos os brasileiros deveriam se orgulhar e, mais que isso: devem defender e preservar para as gerações do futuro, como uma semente que caira em solo fértil e, que para tanto, necessita dos nossos cuidados.
Da Redação
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Serviços:
“O bibliófilo e empresário José Mindlin, de 95 anos, morreu na manhã deste domingo, em São Paulo. O membro da Academia Brasileira de Letras estava internado há cerca de um mês no Hospital Albert Einstein, na zona sul da capital paulista.
O velório aconteceu no próprio hospital e o enterro se deu as 15h no Cemitério Israelita, na Vila Mariana na capital Paulista.
José Mindlin era formado em Direito pela Universidade de São Paulo e um declarado apaixonado por livros. No ano passado, ele doou toda a sua coleção de livros para a Universidade de São Paulo, que mudou de nome para “Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin”.
Da: Internet.