quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Monoarborização: Espécies exóticas e bioinvasão sob o terrível domínio dos Lacerdinhas

Por: José Cícero*



Fotos: Insetos Lacedinhas, JC e plantas infestadas.
Uma consideração à guisa de artigo, como Alerta sobre o princípio de invasão biológica e ataque de Lacedinhas às espécies que compõem a monoarborização da cidade de Aurora e outras localidades da região.
Bioinvasão! O termo de tão estranho e inusitado mais parece um palavrão em meio a tantos outros conceitos ecochatos, agora que falar de ecologia e meio ambiente virou moda até mesmo entre aqueles que não estão nem ai para o problema. No entanto, a enxurrada de neologismos que a cada dia são criados parecem povoar todo o universo vocabular pós-moderno. Mas digamos ser esta a melhor das terminologias já inventadas no sentido de plasmar com todas as letras o que de fato vem ocorrendo diante da chamada monoarborização urbana. De quebra pela utilização de espécies “alienígenas”, exóticas, estranhas ao bioma nordestino. Uma verdadeira invasão biológica vem silenciosamente se disseminando pelo país afora. Uma praga. Esta é designação que mais se aproxima da verdadeira tragédia que ora está só começando. E o que é pior, tudo no mais das vezes patrocinado pelo dinheiro público. A forma pela qual regiões inteiras vêm se arborizando representa uma prática altamente danosa ao meio ambiente e por consequência, a própria sustentabilidade de espécies nativas importantes do bioma da caatinga e do semiárido sertanejo.
Além de utilizarem espécies invasoras como o Ficus e o Nim indiano, ambos originários do continente Asiático, alguns municípios vem ampliando o raio de atuação e abrangência desta intervenção altamente contrária ao equilíbrio biológico regional. São plantas com um poder de propagação extremamente rápida, assim como de adaptabilidade, tanto ao clima quanto ao solo das mais diferentes regiões do Brasil, em especial do Nordeste. Esta alta adaptação, somada ao um curtíssimo ciclo de crescimento tem levado a população a preferir tais espécimens em desfavor de outras próprias da região. O que só tem priorado a situação dos nossos exemplares, muitos dos quais já em estágio elevado de destruição e/ou correndo sérios riscos de extinção total. Tudo isso, sob os beneplácitos e a indifernça dos poderes públicos.
Espécies tradicionais e edêmicas do Nordeste como a velha Algaroba, Juazeiro, Sabiá, Oiti, Castanhola, Ipê, Jatobá, Aroeira, Camaru, Violeta, Pau d’arco, entre outras, já começam a desaparecer do nosso dia a dia, esquecidas que estão pela geração atual.
Portanto, sem a devida atenção o perigo vem sendo multiplicado como um aliado de todo processo sistemático de agressão de toda sorte que vem sendo praticado contra a natureza e os recussos naturais. A propagação de espécies estanhas vem ajudando a destruir nossa biodiversidade, comprometendo diversas espécies animais e vegetais do nosso Cariri. Portanto, as cidades que optaram pelas plantas exóticas já começam a colher os primeiros frutos desta interferência nas coisas naturais, ou seja, os primeiros sinais do equívoco ecológico que empreenderam contra si mesmos. Daqui a pouco começarão a pagar um alto preço por esta opção desastrosa de priorizar plantas estranhas em detrimento daquelas comuns às nossas matas, cerras e planícies.
A arborização empreeendida por uma única espécie e ainda por cima, exótica, representa uma prática absurda e totalmente contrária à natureza. A ordem natural através da qual a mãe natureza sempre renova e se recompõe. Assim, podemos afirmar sem medo de errar que toda e qualquer forma de monocultura é uma agressão das mais perigosas à biodiversidade, principalmente porque seus resultados se voltarão contra todos nós. A biodiversidade planetária não suportará mais esta intervenção antrópica e irracional den tamanha envergadura.
Malefícios gerados pela utilização de espécies exóticas:
Dentre os malefícios ocasionados por está prática verde equivocada podemos citar: o próprio desequilíbrio dos ecossitemas naturais, a partir da quebra dos antigos habitats naturais de diversas espécies animais que dependem exclusivamente destes vegetais para viverem e se reproduzirem. A monoarborização favorece a invasão e, portanto, a prevalência de uma espécie única e sem concorrência natural sobre as demais. De modo que, compromete sensivelmente os ecossistemas regionais, bem como as cadeias alimentares de insetos polinizadores, aves entre outros animais, gerando desequilíbrios... Compromete a polinização por pássaros e por sua vez coloca em risco a perpetuação natural de fauna e flora, o que termina por comprometer num futuro próximo a própria sobrevivência das pessoas. A não variabilidade da flora destrói significativamente parte importante da nossa fauna, o que por sua vez, favorece a propagação de pragas e verdadeiras epidemias de doenças provocadas por fungos, protozários e outros agente patogênicos miscrocópicos - que atacam vegetais, animais assim como o próprio homem. O processo de evapotranspiração também ficará prejudicado o que ajuda a diminuir a umidade relativa do ar e, por via de consequência, contribui para a elevação da temperatura. Os chamados microclimas formados pelos aglomerados de plantas diversas também será afetado.
A infestação do Lacerdinha à arborização aurorense:
Aqui mesmo em Aurora, por conta da presença exagerada de espécies estranhas,(plantadas pela Prefeitura na gestão passada) tais como: o Nim Indiano e o ficus da Bolívia, já é possível observar alguns problemas importantes. A começar pela ausência de animais e aves se abrigando nestas árvores. O crescimento descontrolado de tais vegetais, visto que não possuem predadores naturais à guisa de concorrência, estas plantas começam a povoar todos os ambientes urbanos da maioria das cidades interioranas.
Agravado pela ausência de barreiras naturais os Ficus que pululam a cidade de Aurora por exemplo já começam a evidenciar os primeiros sintomas de um ataque mortal. Provocado por uma praga das mais difíceis de combater. Trata-se de uma verdadeira epidemia de Lacerdinha que se abateu por mais de 90% das árvores que se espalham pelas ruas da cidade.
A plantas atacadas começam a amarelar perdendo suas principais característica, que é o verde escuro das folhagens e o crescimento rápido. A copa de tais plantas começam a apresentar agora um visual meio que amarelado(quando não seco) como muitas folhas erolando para dentro, se transformando num espaço ideal para que o inseto Lacerdinha possa colocar seus ovos se multiplicando numa velocidade estonteante. Parasitando a seiva elaborada das plantas os lacerdinhas conseguem se reproduzir rapidamente em dezenas e dezebas de milhares, fazendo assim uma ataque sintemático e em cadeia. Alimentado-se portanto da seiva orgãnica da plantas hospedeiras estes insetos também exótico, acabam complemedento a saúde natural de espécies vegetais autoctones levando-os à morte.
O ataque às àrvores aurorenses só está começando... No entanto, devido a deficuldade de combate, tal infestação poderá ser fatal, caso nada seja feito em regime de urgência. O fechamento das folhas das plantas atacadas, além de favorecer o habitat para os insetos parasitas, difuculta por seu turno, o uso adequado de agrotóxicos, posto que o parasita permanece protegido no interior das folhas novas. Some-se também a isso, a formação de insetros resistentes(com o tempo), além dos possíveis perigos que estes agentes químicos poderiam provocar à saúde da população, caso não seja tomadas as devidas precauções. A infestação por lacerdinha em Aurora já começa a se transformar numa infeliz realidade. Basta darmos uma olhada nas nossa arborização urbana.
Em alguns locais não está sendo mais possível a permanecência sob as àrvores, posto que o grande números de insetos que atacam as pessaos, principalmente se estiverem vestidndo roupa de cor amarelada, a preferida desta praga que em outros tempos infernizaram a vida de populações inteiras a exemplo da cidade do Crato e Mossoró quando centenários Benjamins foram sacrificados como única maneira de se acabar com tais insetos.
Outra situação desagradável é quando o insento cai dentro do olho das pessoas. A dor é lancinante. É preciso que se faça um rápido levantamento especializado e estudo científico como forma de se tentar pelos menos amenizar/combater o problema antes que seja demasiadamente tarde, isto é, antes que o problema se agrave e a praga possa se alastrar sem controle pelo resto do município. Todas as cidades deverão desde já começar a se preocupara com esta questão, sob pena de se ter que conviver com um problema ainda maior, caso nada venha ser feito. Tal problemática não envolve apenas a infestação de Lacerdidnha, mas de toda um desequeilíbrio a se abater sobre a rica biodiversidade nordestina e aurorense. Quem sabe, agora, possamos pelos menos tentar comeprender que a natureza é um organismo vivo e sempre consegue se vingar de as agressões que a impomos pela história a fora.
Acerca da bioinvasão:
A bioinvasão é apenas uma pequena fagulha diante do quadro que já começa a se desenhar no horizonte regional, como uma evidente resposta da própria natureza para conosco. A fúria da natureza é imperdoável. Tudo está claro, somente os insensatos da irracionalidade não conseguem perceber este alerta gritante. Ademais, estão entretidos demais como suas aspirações de ganhar dinheiro e embebidos pelos desejo de poder – que são a mais autêntica e grave degradação e desrespeito cometidos contra à biodiversidade planetária e aos recursos naturais – verdadeira expressão de Deus na Terra...
(*) José Cícero - Professor de biologia e química.
Escritor, Pesquisador e Poeta.
Aurora-CE.






























Um comentário:

João Tavares Calixto Júnior disse...

Grande Professor!!! Fiquei muito feliz ao ver esse texto que mostra de forma precisa um fato que trará problemas serísssimos em pouco tempo ao nosso ecossistema, se nada for feito. Estive recentemente no Congresso Nordestino de Enegenharia Florestal, em Campina Grande, onde assisti ao Dr. Leonaldo Andrade da UFPB de Areia, proferir palestra sobre os malefícios que exóticas invasoras coma a algaroba, o turco e mais recentemente o nim indiano trazem à caatinga. Mostrou-se preocupação antiga de outros países como os do centro-oeste africano em dizimar essas que são consideradas bombas biológicas por competirem com as nativas e diminuirem a biodiversidade local. Prezado professor, precisamos urgentemente desenvolver programas que diminuam a incidência do nim indiano principalmente, em nossas ruas e zona rural. É sim uma verdadeira bomba biológica pois invade rapidamente o ambiente rural, competindo com nossas nativas, diminuindo a biodiversidade vegetal e animal. Exclamo que Órgãos como a EMATER, por exemplo, deveriam desenvolver projetos que combatam a disseminação indiscriminada a dessa praga! O que é visto, caro professor, é um alastramento desordenado fomentado também por órgãos como o citado. A espécie apresenta sim, um potencial medicinal. Não nos esqueçamos que somos donos da maior biodiversidade vegetal do mundo e temos grande potencial medicinal em nossas nativas, que facilmente substituem as "funções benéficas" desta que é oriunda do outro lado do planeta. Por que não saudarmos a "entrada sem cerimônias" da Tabebuia aurea? A nossa craibeira que tão bem representa a lista das nativas potenciais à arborização?? Alerto também aqui em Lavras e na região do Sertão da Paraíba para a necessidade de uma melhor reflexão sobre o tema, tendo em vista o prejuízo que teremos se formos coniventes com tal situação. Recentemente foi publicado artigo sobre a arborização urbana da zona urbana de Lavras da Mangabeira, na Revista da Sociedade Brasileira de Arborização Urbana, da Esalq - USP (Segue abaixo o link). No trabalho nota-se grande homogeneidade de espécies exóticas, grande prevalência de apenas 3 espécies na flora urbana (Ficus benjamina, Senna siemea e Azadiractha indica)além do número insuficiente de árvores num contexto geral. É um problema coletivo, não só restrito à Aurora por esta arborização mal planejada recentemente, mas algo que é crítico em grande parte do país da Megadiversidade e todo o domínios das caatingas nordestinas.

João Tavares Calixto Júnior (professor - mestre em ciências florestais)

http://www.revsbau.esalq.usp.br/volume4numero32009/silvicultura_urbana.php