Por: Emerson Monteiro
Por volta das 12h do dia
09 de janeiro de 1922, se registrara em Lavras da Mangabeira, no pleno
centro da cidade, uma luta armada que redundaria na morte de Simplício
Augusto Leite, José Leite Filho e do major Eusébio Tomás de Aquino,
restando ferido o prefeito municipal coronel Raimundo Augusto Lima. Essa
data vincou a tradição do lugar como o dia do barulho, pela
monstruosidade e repercussão que produziu na política cearense, vistos
os detalhes a seguir consignados.
Eram as primeiras décadas do século XX e nas comunas do Nordeste
interior famílias de senhores feudais detinham o poderio de mando,
arrebanhando tropas de cabras armados de rifles, mosquetões, bacamartes e
fuzis, impondo, à força bruta, seus domínios. Em Lavras, as coisas não
se dariam de outro modo. A hegemonia política da localidade coubera a
dona Fideralina Augusto Lima, que mandara e desmandara, no sabor de seus
humores, até sua morte em 1919, cuja herança contemplou, sobretudo, aos
filhos, genros e outros parentes próximos.
O
prefeito Raimundo Augusto Lima, neto da matriarca, no dia aziago,
instigado pela agressividade de um irmão, Gentil, viu-se face a face com
os mentores principais da facção rival, de armas em punho. Por pouco
escapou de ser fulminado de morte nas escaramuças, recebendo balaço de
raspão no curso das costas ao crânio, em disparo de rifle, depois de
negacear o corpo ao contato do cano da arma adversária.
Dentre outros que participaram do tiroteio figuravam Anselmo, Dori e
Luiz Teixeira Férrer, vulgo Lela, este que depois contrairia núpcias com
Maria, filha de Gustavo Augusto e viúva de José Leite Filho, tombado no
conflito.
Apesar das perdas em vida registradas, o grande perdedor da refrega, no
entanto, seria, a posteriori, o coronel Gustavo Augusto Lima, filho de
Fideralina e pai dos dois envolvidos Raimundo e Gentil Augusto, então
deputado estadual e presidente da Assembléia Legislativa do Estado,
ausente da cidade naquele dia sangrento.
Devido à morte do major Eusébio Tomás de Aquino, seus filhos Roldão e
Raimundo Augusto de Aquino, vulgo Raimundo de Eusébio, juraram vingança
ainda sobre o corpo do pai. Escolhido por objeto da vindita, o coronel
Gustavo era também o padrinho de batismo de Roldão, um dos filhos de
Eusébio. Visto isso, restou a Raimundo o papel de perpetrar o ato
premeditado.
Passados, pois, um ano e dias do ocorrido no centro de Lavras, a 28 de
janeiro de 1923, em Fortaleza, na Praça do Ferreira, ocasião em que o
coronel Gustavo, ao lado de duas filhas, Luisinha e Maria Luísa, tomava
assento no bonde do Outeiro para se deslocar à sua residência na Avenida
Dom Manuel, e tombaria vítima de disparos de revólver deflagrados por
Raimundo de Eusébio.
A data lavraria greve golpe na família Augusto pelas sérias
consequências impostas ao mando político, abalo multiplicado logo
adiante na história com as ações desarmamentistas da Revolução de 30 e
outras providências de dissolução dos feudos estabelecidos desde os
primórdios da colonização.
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Fonte: http://blogdocrato.blogspot.com.br/
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