domingo, 17 de janeiro de 2010

E a educação brasileira como vai?

Por José Cícero*
Sobre a necessidade imperiosa de uma política de melhoria no atual sistema educacional brasileiro há mais que uma simples unanimidade. Há um verdadeiro clamor nacional, talvez, instigados que somos, pelos discursos às vezes inflamados de políticos, teóricos e profissionais. Ou ainda quem sabe, pela simples ilusão de que o fazer educacional pode sofrer uma transformação, assim de modo quase revolucionário, de maneira passiva, do dia para a noite. Sem que a própria sociedade tenha que igualmente passar por este verdadeiro estado de transmutação no conjunto da sua própria visão paradigmática da realidade em que se encontra mergulhada. Mas não; qualquer mudança efetiva da educação terá necessariamente que passar por nosso coletivo social no sentido do seu amadurecimento reflexivo e de consciência cidadã.
Antes de qualquer projeto político, a pavimentação para a tão sonhada educação de qualidade aconteça terá que e concretizar no seio da sociedade. Mas neste aspecto é que reside a grande contradição: Ou seja, como uma sociedade na sua maioria “deseducada” poderá despertar para esta necessidade?
Como uma sociedade na sua grande maioria, não dada à reflexão do seu papel e com pouquíssima consciência de si mesma poderá contribuir para um novo estágio avançado da educação brasileira? Há uma herança negativa, para não dizer maldita, que a sociedade hodierna carrega a duras penas sobre suas costas. Enquanto esse peso morto não foi amenizado, muito pouco poderá ser feito. As mudanças as quais o sistema educacional reivindica não pode ser apenas um protocolo de intenções. Como também não poderão ser feitas e tampouco conferidas os seus resultados, assim, num toque de mágica, do dia para noite.
Educação impreterivelmente é um investimento no futuro. Querer cobrar resultados imediatistas na questão educacional é um erro. Mais do que isso; como se diz: é malhar em ferro frio. O desejo político de fazer da educação não uma bandeira acenada para o porvir, mas uma colheitadeira de votos tem dado nisso: um fiasco com fortes e senssíveis prejuízos para o povo e o país.
Não sou daqueles que acreditam que a sociedade atual não tem mais jeito. É preciso acreditar nos sonhos assim como nas utopias, porque isso é que tem animado a humanidade na sua caminhada histórica. Isso é que alimenta as nossas esperanças e nos instiga a lutar pelos nossos ideais. Temos que cuidar da gente do agora para que a do futuro possa ser salva das trevas da ignorância e do caos. Os rumos do futuro, precisam ter por mira o conhecimento, a sabedoria e a solidariedade calcada na valorização e no respeito da pessoa humana: o cidadão, como sujeito construtor da sua própria história.
Qual o respeito que a sociedade tem hoje pela figura e pela importância do professor? E que respeito o governo quer que tenhamos diante da forma como os mestres são tratados? Que investimento está sendo feito no aprimoramento intelectual de cada um, senão por eles mesmos. E que também representa um percentual extremante irrisório?
A liberdade também é um aspecto a ser observado. Posto que nenhum professor poderá produzir de modo manietado pelo conservadorismo direcional de algumas das instituições assim como da própria estrutura do sistema. O 'novo' tem que ser o farol da nossa educação que sonhamos e temos que defender e construir com unhas e dentes. Muito mais do que os discursos e as letras mortas que os políticos costumam colocar no papel. E, mais: todo professor só pode ser chamado como tal quando se dispõr a doação, isto é, ir a lutar... contribuindo com suas idéias, esforços e conhecimentos no ambiente na sala de aula. E não fora dela, por trás de um birô sob o frio climatizado dos arcondicionados... Creio que é preciso educar a própria educação.
Não podemos acreditar no professor(ou em qualquer ser humano que almeja crescer) ou na revolução da educação como uma mera profissão de fé. Não podemos acreditar nos resultados de um profissional que não se capacita por meio da leitura, que não dispõe de tempo sequer para o descanso, o lazer cultural, bem como que não têm acesso as outras ferramentas fundamentais para o seu crescimento interior. Ainda, que não dispões do estimulo necessário para executar tão nobre tarefa como um ato dos mais prazerosos e satisfatórios. Assim como não pensa e nem coloca no papel suas idéias. Tudo isso associado a uma remuneração decente, digna e baseada no respeito como instrumentos de valorização e resgate de uma profissão das mais importantes já “criadas” pelo gênero humano. Uma política de estado voltada para a educação tem que ter o homem(e mulher) como seu objetivo principal.
Sem esta política de valorização, prestígio e entendimento humanista do ato de ensinar, a cátedra daqui a pouco será um espaço fatalmente procurado não mais pelos melhores como foi no passado e, como ainda o é, na maioria dos países que conseguiram promover grandes conquistas educacionais, a exemplo do Japão, França, Alemanha, Cuba, Coréia, Finlândia dentre outros... Sem estes pré-requisitos, o Brasil ficará na marcha-ré da história diante de todo o seu déficit social, aliado a pobreza, corrupção e o analfabetismo, inclusive funcional.
Por fim, a educação terá que ser encarada como uma prioridade nacional. Uma cruzada pela qual todos os cidadãos deveriam se engajar, dar a sua parcela de contribuição. Esta revolução pelo conhecimento é que precisa ser feita, articulada de modo ousado e agressivo pelas hostes governamentais e pelo empresariado brasileiro(as elites que tanto já lucraram com o atraso popular). Do contrário, o futuro do país estará comprometido e a convivência social insustentável.
Ilustração:http://media.photobucket.com/image

Nenhum comentário: