segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Ao aniversário de nascimento de DRUMMOND - Por José Cícero

Neste dia 31 de outubro é comemorado o aniversário do poeta Carlos Drummond de Andrade - Itabira-MG, 31 de outubro de 1902 — Rio de Janeiro, 17 de agosto de 1987 - .
E, para celebrar este dia com uma das marcas mais sensíveis do poeta mineiro nada melhor do que transcrevermos um dos seus poemas mais superlativos.

Confira a pérola a seguir:

MÃOS DADAS

"Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou carta de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente."
In Carlos Drummond de Andrade - In BiOterra

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Lá vou eu:
Resposta a Drummond:

O mundo agora é outro, velho Drummond.
De tão caduco como tu deixaste um dia,
Ele agora parece sucumbir de vez
à incomensurável dimensão da sua própria miséria e vergonha absoluta.
O mundo agora seu Drumond é todo um caos.
E nele, temos todos que sobreviver a duras penas.
O mundo agora é um inferno bem mais cruel que o de Dante.
Uma comédia trágico-cômica a nos encher os olhos e a consciência de insensatez.
Uma ópera-bufa montada sobre a tragédia
de uma civilização que não deu certo.
Uma vastidão de feiúra impregnando o céu de chumbo e de cansaço.
O irracional agora velho Drummond
é o oráculo do império.
A ignorância é moda, como um ladrão a nos força a porta.
Posto que está a bailar diante de nós
como uma prostituta presunçosa e oferecida .
Toda poesia que acaso ainda existe
é toda resistência que a tua lavra
nos proporcionou ainda hoje a sonhar por ela:
Utopias felizes da tua antiga poesia solta, livre e animadora.
O futuro agora é uma abstração gradiloquente
difícil de se imaginar
diante de todo o mal-estar de uma vida insossa
árida e vazia de qualquer sentimento poético e esperança.
De modo que qualquer perspectiva de futuro
é um cadáver apodrecendo sobre a terra
e que nenhum de nós tem a coragem de sepultar;
ante o cinismo que nos prende as mãos e cega nossos olhos de bom senso.
A falta de uma poesia ousada e sonhadora
perpetua o presente
numa versão piorada de todos os medos
que tua geração jamais imaginaria existir.
Um não-lugar é agora todo lugar que nos resta
nestre teatro do absurdo.
Toda a sensação dos nossos dias mais claros.
A tua canção agora é toda a nossa utopia.
O sonho que possuímos
é toda a poesia dura e concreta de Drummond
que ainda nos resta.
O romantismo que nos anima
é a lembrança do teu verbo forte e guerreiro.
A canção que cantaremos velho Drummond
está na tua escrita poética
que os imbecis não conseguiram destruir por completo
apenas escondê-la dos visionários.
A poética da tua voz nunca morrerá.
O teu verso é pura resistência.
Num tempo que eu prefiro chamar de 'Quando'.
Onde quer estejamos.
Um tempo de sonhos atemporais
que nos transporte
ao outros tempos inimagináveis,
utópicos, sonhadores, loucos e fantásticos.
Como bem pensaste um dia:
Ontem, hoje, amanhã e sempre.
Drummond vive!
Porque venceu o tempo.
E isso é tudo que nos importa agora.
Tudo o mais
é momento.
Instante efêmero
que prendemos nas mãos.
Lapsos de horas findas.
Pensamento.
Todo o eterno
que vivemos
e sentimos
Por nos mesmos.
Poesia de Drummond
que bebemos
como um vinho dos deuses
do Olimpo.
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Por: José Cícero
Secretário de Cultura
Aurora-CE.
In Versos e Reversos(Inédito-2010)

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