segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Saudade sobre Quatro Rodas: Perto de completar 60 anos o Fusquinha ainda mexe com muita gente



A invenção da roda fez do homem um animal muito mais ágil e funcional. E desde então, a vida nunca mais foi a mesma. Tanto que, de lá para cá é possível se afirmar que, literalmente, o mundo tem sempre andado sobre rodas.
Foi a partir deste ponto zero, que muita coisa aconteceu e se aprimorou pela história a fora. Desde a ‘pedra rolante’, o carro-de-boi, até os automóveis cibernéticos dos nossos tempos hodiernos. Não é de agora que o veículo locomotor tem-se transformado numa verdadeira febre ao redor do mundo.
Hoje, no entanto, nem se fala... O automóvel vem se constituindo num autêntico estado de auto-afirmação social. Há quem prefira a posse de um automóvel a qualquer outro bem de família e, pasmem, até a saúde e o bem-estar da sua própria prole. No Brasil, por exemplo, onde o modismo tem sido sempre uma coqueluche sem igual, a compra do automóvel é disparada, o sonho de consumo da maioria esmagadora da população. E, quanto mais desinformada, mais este sonho é acirrado no quesito pessoal. Como tantas outras coisas, digamos supérfluas, muitos as vêem como uma forma de se destacar perante todo o resto da fauna humana. Apenas o Fusca fez jus a esta moda, posto que continua até hoje sendo nossa mais clássica unanimidade nacional
Por conta dele, a história do automóvel, às vezes se confunde com a própria história de cada brasileiro. Senão, quem haveria de esquecer do Ford Bigode, do antigo caminhão-Misto das feiras interioranas, do Gordini, da velha Jardineira, do Dkv, do aerowillis, do Jeep, do Marverick, da Ford Rural, da Variant, da Brasília, do Chevett, do Opala Comodoro, do velho corcel, do Fiat 147 e tantos outros, que marcaram profundamente a memória visual de um passado recente.
Faço esse comentário(à guisa de artigo) para colocar todo o grau de importância com que os automóveis(e em especial o fusquinha) ocuparam na história recente, em especial das gentes brasileiras.
A facilidade que se tem hoje para adquirir o carro, acabou tirando o antigo charme que era, vê-lo e senti-lo de uma certa distância. Digamos, das fímbrias do inalcançável, enquanto utopia...
O desejo era outro. Diferente, gostoso, sadio, muito mais conciliado com a condição humana e sociofinanceira de cada indivíduo. Um sonho que hoje, por mais que tentamos, não será o mesmo. Porque falta substância: o ingrediente da simplicidade com que se vivia e encaravarmos a vida de uma perspectiva possível porém dentro do seu limite. Quando a exacerbação dos desejos de consumo não ia além das nossas reais possibilidades. Não se desejava tanto o que não fosse absolutamente nosso. Roubo de carro? Que nada... isso era quase um sacrilégio. Atualmente o carro ou é uma extensão dos nossos membros superiores ou virou de vez um ente familiar. Nossas casas agora são construídas, projetadas com mais um quarto - a garagem, como que estivéssemos a esperar um novo filho.... Crescei e multiplicai!!..
Destarte, de todas as invenções automobilísticas, poucos modelos tal qual o Fusca conseguiram atravessar a história e permanecer para sempre na memória afetiva das pessoas. O "Volkis", o popular “fusquinha,” nome carinhoso com que os brasileiros apelidaram, este que foi, sem sombra de dúvidas, o carro mais apaixonante e querido do Brasil e, decerto, o mais vendido em todo o mundo. Chegando, inclusive, a protagonizar até filme de sucesso em hollywood - "Se meu fusquinha falasse".
Talvez o único presente 'do bem', que o insensato Adolf Hitler conseguiu deixar para a história humana, além da sua sanha de maldade e crimes. Ao solicitar ao engenheiro Ferdinad Porche um carro adaptado para guerra(que dentre outras coisas dispensaria o uso de água e fosse econômico) nascia ali o Volkswagen que em alemão significava: “carro do povo”. O curioso é que esta invenção virou de vez um carro popular, ganhou o mundo e, logo no pós-guerra recebera no Brasil o sugestivo epíteto de Fusca ou Volkis.
O fusquinha de fato mudou de vez os rumos da indústria automobilística mundial; com mais de 21 milhões de unidades produzidas, sem contar o que ainda hoje é 'fabricado' em diversas partes do mundo nos nossos quintais, fundo de garagens e oficinas. Um número ainda agora, bem razoável de fusquinhas continua trafegando tranquilamente por nossas estradas, sobretudo no interior do país. Como se o tempo não existisse. Como se os anos sempre lhes fossem favoráveis... O Fusca é como um indivíduo charmoso e arrogante que se prendeu tanto a sua juventude, ao ponto de não mais enxergar o óbvio, isto é, a inexorabilidade do tempo, agindo sobre sua mecânica-física. Um velho senhor de espírito jovem eternizado no imaginário coletivo de toda uma geração do passado. Alguns é bem verdade, em condições sofríveis, outros felizmente, ainda pousam e passeiam numa posição invejável de conservação e brio.
O fusca contribuiu certamente, para a construção da sonhada modernidade brasileira. De forma que, muito da nossa história nacional e pessoal(até) passara de algum modo no pequeno espaço interno de um fusca. Amores inesquecíveis, tragédias incuráveis, momentos eternos de felicidades e alegrias, como de resto, muito do nosso cotidiano de uma vida longa, duradoura. Como duradoura é a própria existência do fusquinha para todos nós os brasileiros. Muito mais ainda para os saudosistas sempre de plantão diante de uma recordação que os eleva e embala... Todos aqueles que souberam aproveitar os longos momentos de alegria e contentamento juvenil ao lado da pessoa amada e do fusquinha.
Oh, se todos os fusquinhas do Brasil e do planeta falassem?!
Estatísticas acerca do Fusquinha
Levantamentos dão conta que no Brasil em 36 anos de existência foram vendidos nada menos que 3 milhões de Fuscas. O apego do brasileiro é tanto a este carro, que até o ex-presidente Itamar Franco querendo fazer média com o eleitorado decidiu durante o seu governo ressuscitar a fabricação do Fusca com a qualidade: made in Brasil.
Hoje, muitos são os colecionadores de Fusquinhas espalhados pelo globo. Poucos são os que não têm saudade daqueles bons tempos em que enamorando o fusquinha, imaginavamos mudar o mundo. No entanto, rodando ou não ‘o carro do povo’ permanecerá imortal na cabeça tanto quanto na memória de toda uma geração de adoradores.
O Fusca continua sendo uma paixão nacional. Um caso de amor... Um passado que como dizem, nunca passa...
Por: José Cícero
Aurora-CE.
Fotos: http://fotos.terra.com.br/ e DN.

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