sábado, 7 de fevereiro de 2009

POESIA: Ausência

Enquanto ela sonha
eu durmo.
Sobre o silêncio
que me resta
do que foi
a sua boca:
Uma noite
em festa.

Ela sonha.
Eu durmo
toda busca
que me completa.
Ela ama.
Eu morro
em sofreguidão.
Tanto ela
quanto eu,
somos apenas:
Sonhos adormecidos.
Restos,
de tudo aquilo
que idealizamos
um dia.
E o mundo
fez-se noite.
E só por conta disso
declarou-nos guerra.

Eu sonho.
Ela morre
todo dia
em desatino,
asfixiada
pelas lembranças
dos meus beijos
e minhas mãos
postadas,
ensandecidas,
danadas.
Abrindo portas
querendo escondê-la
das nossas próprias feras.

Ela dorme.
Eu fumo
seus dedos
sobre mim,
como um compasso
sobre o mapa-múndi
a apontar caminhos.
Estranhos sentimentos
de quem ama
todo o impossível que existe
Nesta espera:
Desejos amazônicos
perdendo-se no escuro
dos seus cabelos,
seguindo meus passos
sobre seus atalhos
cheios de florestas.

Ela dorme
em meu Eu profundo.
Sobressaltado
eu acordo
entre seus pêlos.
Atormentado
pelos pesadelos
dos meus fantasmas
internos;
indo todos
a um encontro
que nunca aconteceu
Comigo.
Porque todo o sonho
que tivemos juntos,
morrera sempre
no ontem desta distância
ingrata:
ano-luz e vela,
estendida
entre eu e ela.

Ela dorme
profundamente.
Eu morro.
Frio de solidão e medo.
Morno desejo,
tépido.
Fogo e paixão.
E nada mais nos resta.
Porque eu durmo
Sempre procurando
O que não mais existe
entre eu e ela.

Enquanto ela dorme.
Agora mesmo
sobre meu peito inerte.
Eu prossigo acalentando.
Canção de ninar
quando tento em vão
dizê-la que amo.
Como quem morre
entre lembranças
e outros segredos.

Ela dorme.
Eu morro.
Velando
seu sono
sob a luz
de vela
em meu silêncio
profundo.
(*) Por: José Cícero
In Miscelânia Poética de uma vida incompleta(inédito)

Um comentário:

POESIAS LITERÁRIAS DE LUIZ DOMINGOS DE LUNA. disse...

A poesia dizimada em milhões de pedaços levando no DNA o fito da complexidade das amostras côncovas e convexas da dialética poética, no estar do momento, no espaço que brilha no além da imaginação humana, cruzando a barreira existencial, nas arestas de um planeta onde o universo paralelo da criação poética une a dimensão de um modelo mental que povoa toda emanação de um fluir de arte poesia e poesia arte a pairar nas arcádias de uma Grácia que renasce à luz da volatização do eu na espaçonave existencial.

Parabéns grande poeta por mostar para a região do cariri que a arte poética quebra o tempo e o espaço.