domingo, 21 de junho de 2009

Meio Ambiente: Como por milagre antigo Olho d'Água de Vinô ressuscitou

Por: José Cícero



Flagrantes da nascente do bairro Araçá: JC e Dil André
No finalzinho de 2007 acompanhado do amigo Luiz Domingos estive em visita ao chamado 'Olho d’água de Seu Vinô'. Naquela ocasião colhíamos material para o segundo número da Revista Aurora.O estado do manancial era de intensa e evidente degradação. O princípio do fim de um recurso natural dos mais significativos para os sertanejos. Uma das últimas nascentes num raio de quase 50 km, senão um dos derradeiros de todo o município. Com certeza o único espécime concentrado dentro de uma área urbana de toda a região.
Estávamos diante de um verdadeiro crime ecológico agravado pelo total descaso e a indiferença da maioria das pessoas. O que forçosamente nos fez elencar como matéria para a reportagem-denúncia sob o título: “olho d’água de Vinô – Pequeno grande sinal de uma morte anunciada”... De lá para cá, o problema da degradação e do desprezo ainda permanece. Porém, a natureza como por milagre fez a sua parte. Mas as ações antrópicas ainda são por assim dizer, assustadoras - uma constante em desfavor de uma convivência sustentável entre homem e natureza.
Preste a completar dois anos daquela primeira reportagem, a Revista Aurora retornou neste domingo(21 de junho) ao local, desta feita, acompanhado de um antigo morador das imediações, o artesão Dil André, que mantêm uma relação de proximidade quase afetiva com aquele recurso natural, localizado no alto Araçá, ao Norte daquele populoso bairro. “Parte da minha infância passei brincando ao lado do olho d’água”, disse o artesão com um misto de tristeza e saudade. "Carregávamos água de beber deste lugar, assim como quase todos os moradores do Araçá", completou.
A Surpresa pela renovação:Como por puro espanto, fui pego agora de surpresa ao contemplar a pequena nascente. Uma sensação de felicidade e contentamento tomou conta de mim ao constatar que pelo menos ali, a natureza se recompôs de maneira maravilhosa. Um prodígio, quando comparamos as imagens feitas há dois anos com as de agora. Era como uma grande ferida tivesse quase totalmente cicatrizada. Sim, quase. Por que o perigo infelizmente ainda continua a rondar o ambiente. Em parte pela velocidade com que se processa a urbanização. Quase. Porque embora a mata tenha voltado a cobrir de verde o local, há grandes sinais de poluição deixada pelos que ali comparecem todos os dias para retirar água, banhar-se e até(pasmem) lavar roupa etc... Muito lixo: Peças de roupas íntimas, plásticos, restos de produtos químicos(sabonete, sabão, água sanitária e alvejante), garrafas pet, dentre outros dejetos encontram-se espalhados ao redor da nascente misturados a relva que nos inverno, são arrastados para o açude um pouco mais embaixo.
Pura renovação ecológica:
Mas, incrivelmente o Olho d’água, parece ter voltado a vida. Um filete de água límpida como nos velhos tempos escorre lentamente córrego abaixo em direção ao açude e de lá para o Salgado. A relva vivaz ao seu redor, parece colorir o ambiente como por um pincel dos deuses na mão mágica de um grande artista a la Monet.
A beleza espalhada pelo ambiente da nascente:As moitas sombreiam quase por completo o pequeno espaço arredondado formando um buraco geométrico onde a maior porção de água se concentra represada por uma terra escura do barranco do morro. Um duro massapé, pedregulhos e barro, adornado pelo juremal a se estende como um tapete intransponível por todos os lados. O olho d’água de seu Vinô, retorna a vida como alguém que desistiu da morte para enfrentar de peito aberto as grandes agruras da vida. Um retorno cuja vitória a partir de agora dependerá muito mais de nós os aurorenses citadinos do que da própria natureza que como se percebe está cumprindo o seu papel. Eis aí, uma dádiva da natureza a contrariar a falta de consciência, assim como a disposição dos homens contemporâneos em conviver harmonicamente com a biodiversidade e os recursos naturais.
O Araçá em particular e a cidade em geral mantêm uma dívida impagável como este pequeno manancial. É chegado o momento de fazermos a nossa parte. Do contrário, talvez a história não mais nos absolverá.
A Entrevista:Em entrevista que fizemos como o professor Moacir Leite, um dos herdeiros da fazenda onde a nascente está localizada, o mesmo na época nos falava sobre a história daquela nascente. Um pouco de crendices, misticismo e religiosidade que no seu conjunto mais geral era simplesmente cativante. Tempos depois o professor falecera e a matéria não saíra por completo na revista.
Disse nos ele, que outras vezes a tal nascente secou, raptada que foi por alguém que a queria em outras terras. E para que a tivesse de volta o professor Moacir teve de recorrer a divindade, portanto, com a ajuda de um rezador foi feito todo um ritual para que o manancial retornasse ao seu lugar de origem. O que aconteceu na manhã seguinte...
Idas e vindas de algum modo como se ver, parece ter sido até hoje o destino da velha nascente do alto Araçá. Que ela permaneça para o todo e sempre. Um sinal de que a natureza benfazeja como é estará de novo de bem com os homens na sua missão divina de irrigar a terra, matando a fome e a sede da humanidade.
A Biodiversidade: Fauna e flora.
Até a estrada que mandaram abrir nas proximidades foi de novo engolida pela mata composta de arbustos rasteiros, mas essenciais ao equilíbrio daquele bioma da caatinga dos nossos sertões. Pássaros e outros bichos de pequenos portes já são possíveis de serem vistos dando alegria e vitalidade aquele ecossistema exclusivamente nordestino.
Contudo, o olho da água continua precisando dos nossos cuidados imediatos e permanentes. A natureza fez a sua parte. Façamos a gora a nossa. A indiferença é pura conivência. O tempo urge! A vida não pode parar...
Na nossa visita deste domingo nos deparamos com várias crianças retirando lenha(pequenos gravetos) para as fogueiras de São João. Um fato que bem comprova a velha interatividade do local com a comunidade araçaense. Sentimos inclusive, a ausência de antigas árvores que havíamos fotografado havia dois anos. Mas não diga que foi pela necessidade. Isso não. Simplesmente, porque não se queima mandacaru pelos menos por necessidade. Estas cactáceas enormes em que debaixo das mesmas(naquela ocasião) pousamos para as fotos. Agora todas desapareceram da paisagem. Mais uma prova de que o homem é mesmo um fazedor de desertos quando não consegue compreender, e tampouco dá o devido valor a fauna e a flora da nossa caatinga da Aurora.
JC/Revista Aurora

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