Difícil pensar numa educação realmente de qualidade quando não existe um interesse efetivo de valorização dos seus professores. Mais que os discursos fantasiosos, valem os exemplos. Não é possível qualquer mudança educacional sem tocar a crise financeira fundante e de paradigmas por que passa o professorado brasileiro(e cearense) de um modo geral.
Nos últimos tempos, a questão da educação formal no Brasil vem apresentando resultados alarmantes. De modo que falta pouco para virar de vez um problema de segurança nacional ou quem sabe, até, de calamidade pública. Pois a educação é a chave para o progresso de qualquer nação. Os baixos índices de aproveitamento da nossa aprendizagem chamam a atenção da própria Unesco e outros organismos internacionais em face da grandeza da nossa geografia, densidade populacional e do próprio aporte financeiro que ora vem sendo empregado no sistema. Os resultados pífios assustam e preocupam. E deveriam ser outros muito superiores aos conseguidos por pequenos países pelo mundo afora. No entanto, antigos problemas como a evasão, repetência, baixos índices cognitivos e até mesmo de comportamento, atenção e disciplina, sem esquecer a violência comprometem seriamente a aprendizagem em suas mais diversas variáveis.
Num comparativo com nossos vizinhos sul-americanos estamos andando a passos de tartarugas e, com o resto do mundo, estamos muito aquém até mesmo de alguns países africanos onde o PIB não pode ser aquilatado com o nosso, dada a sua pequenez valorizativa. Daqui a pouco o Brasil terá que concorrer consigo mesmo, visto que piora a cada novo levantamento de dados. Culpa dos seus professores? Nem tanto. Os nossos mestres são também ainda hoje, vítimas do próprio sistema sócio-político-educacional que herdaram do passado.
Tudo isso é preocupante, principalmente para uma nação que se diz está preparada para ocupar uma posição geopolítica de destaque na América Latina. Assim como na saúde, ainda não está de todo resolvida a proposta do estado mínimo(neoliberalismo) e/ou da própria economia de mercado como instâncias do capitalismo; as velhas alternativas paliativas criadas para a atual problemática vivenciada pela educação brasileira. A idéia da mercantilização do ensino também não parece servir as grandes demandas sociais da nossa aprendizagem, dentre outras razões, pelo alto custo das mensalidades que vêm sendo cobradas. E a sociedade na sua maioria pobre não possui poder aquisitivo suficiente para tanto.
Afinal de contas, a preocupação primeira dos que fazem a educação como um negócio é o lucro. Todo o resto é secundário. Ora, mas a educação gratuita e universal é ou não é um dever do Estado e um direito dos cidadãos? Portanto, o ensino público precisa ser visto como uma intervenção de caráter estratégico e não como uma caridade que o Estado realiza em favor dos mais pobres ou remediados. Uma pena constatar que até mesmo uma parte considerável dos professores da rede pública de ensino prefira matricular seus filhos no ensino particular.
A sintomatologia do problema nos mostra por fim as grandes razões desta questão. A saber: baixos salários o que obriga os nossos mestres se dá ao excesso da sua carga horária, não lhes sobrando tempo disponível para o estudo, a pesquisa e a capacitação. Enfim, o investimento em si mesmo. Ainda, a preparação de boas aulas, descanso necessário, tempo para a família e uma dedicação mais prazerosa ao seu ofício de educar, bem como a falta de maiores incentivos salariais também compromete a disposição de muitos para ingressarem nesta profissão que noutros países, corresponde a um ofício de excelência onde sempre pontificam os melhores, os notáveis, os construtores de futuro e da história dos povos. Aqui no Brasil, com raras exceções, o exercício da cátedra está num processo de desvalorização acelerado, nunca vista em sua história. Muitos (talvez por isso) a tem como um mero complemento salarial um “bico” como se diz aqui Cariri. Sobreviver da profissão, portanto é um ato digno apenas dos grandes heróis. Tudo isso precisa ser revisto urgentemente para o bem do Brasil na sua perspectiva mais futurista possível. Como iremos atrair os melhores para a profissão sem a devida valorização. Por outro lado, a motivação é algo igualmente fundamental para o processo de ensino-aprendizagem. E isso vale, tanto para quem aprende, quanto para quem se dispõe a ensinar. Agora, digamos que não é nada gratificante para quem a faz no dia a dia, a sua atual banalização desenfreada. A propósito, por que será que o exercício ilegal da profissão não vale também para o exercício do magistério? Por que qualquer um pode adentrar a sala de aula e lecionar? Será que o professor também poderá clinicar; exercer, por exemplo, o ofício da veterinária, da enfermagem, da medicina em geral, da agronomia, da engenharia civil, etc.
A valorização da profissão de professor também precisa necessariamente reavaliar todas estas minúcias, como questões imperativas para a implantação de uma política educacional de fato diferente, evoluída, democrática, justa e de qualidade para todos: educandos e educadores. Não se pode esquecer que são justamente os professores quem formam todos os outros profissionais da nossa sociedade.
Uma série de contradições hoje se imiscui com todo o processo educacional brasileiro. No Ceará onde estas preocupações são muito mais gritantes, não é lá muito diferente. Temos uma estrutura quase antiga, praticamente sustentada por uma leva de professores tidos como “temporários”, a maioria com mais de cinco anos no ‘batente’ sob o regime de contratos temporários. Uma realidade “cômoda” para os Governos, mas nem tanto para o sistema e, tampouco para os próprios profissionais da área que anualmente são submetidos a uma carga psicológica e estressante ante a reavaliação seletiva(nem tanto seletiva assim), mas que se torna cansativa, penosa e quase humilhante para estes trabalhadores do saber. Depois vêm os baixos salários, para piorar diferenciados dos que são efetivos. Portanto, sem as necessárias garantias de muitos direitos inerentes a categoria mesmo tendo os mesmo encargos sociais, descontos e tudo mais.
Para se ter uma idéia do nível de contradição, basta dizer que todo início de ano letivo o primeiro pagamento só é providenciado no mês de abril e ainda, sem a devida integralidade do mês de janeiro. Seja pela burocracia ou pela falta de prioridade mesmo para com os temporários que hoje são os responsáveis pelo funcionamento da máquina escolar do estado, o tratamento conferido a estes bravos profissionais não corresponde a um ato de justiça, em face da dedicação com que todos devotam à formação educacional da sociedade cearense. Além do mais, mesmo sendo uma categoria numerosa não têm poder reivindicatório, uma vez que sendo “contratados temporariamente” temem as possíveis retaliações e até a perda do emprego. Por isso se faz necessário a instituição de um concurso público que possa contemplar de uma vez por todas as reais carências que o estado apresenta. E não apenas um fragmento delas.
A escolha dos novos diretores que ainda se arrasta desde o ano passado, também demonstra algo não muito interessante pelo menos desta feita, malgrado o seu viés democrático absolutamente necessário. Então, como entender um processo que visa substituir um quadro de diretores já completamente familiarizado, compenetrado e treinado com o gerenciamento administrativo, financeiro e pedagógico de uma escola; por outros que no mínimo, vão ter que gastar um certo tempo para compreender toda esta engrenagem? E se caso for alguém de outro município, que sequer conhece nossa realidade e a comunidade usuária da escola? São coisas deste tipo que às vezes nem Freud explica.
Mas, em educação tudo é possível, até mesmo a possibilidade de um eterno recomeço. Acreditar também para os educadores pode ser uma grande e salutar virtude. Quiçá um aprendizado. Não sei se isso valerá também para a sociedade que tem sede de justiça e pressa de grandes realizações sociais.
Por: José Cícero
Professor, Escritor e Poeta.
Nos últimos tempos, a questão da educação formal no Brasil vem apresentando resultados alarmantes. De modo que falta pouco para virar de vez um problema de segurança nacional ou quem sabe, até, de calamidade pública. Pois a educação é a chave para o progresso de qualquer nação. Os baixos índices de aproveitamento da nossa aprendizagem chamam a atenção da própria Unesco e outros organismos internacionais em face da grandeza da nossa geografia, densidade populacional e do próprio aporte financeiro que ora vem sendo empregado no sistema. Os resultados pífios assustam e preocupam. E deveriam ser outros muito superiores aos conseguidos por pequenos países pelo mundo afora. No entanto, antigos problemas como a evasão, repetência, baixos índices cognitivos e até mesmo de comportamento, atenção e disciplina, sem esquecer a violência comprometem seriamente a aprendizagem em suas mais diversas variáveis.
Num comparativo com nossos vizinhos sul-americanos estamos andando a passos de tartarugas e, com o resto do mundo, estamos muito aquém até mesmo de alguns países africanos onde o PIB não pode ser aquilatado com o nosso, dada a sua pequenez valorizativa. Daqui a pouco o Brasil terá que concorrer consigo mesmo, visto que piora a cada novo levantamento de dados. Culpa dos seus professores? Nem tanto. Os nossos mestres são também ainda hoje, vítimas do próprio sistema sócio-político-educacional que herdaram do passado.
Tudo isso é preocupante, principalmente para uma nação que se diz está preparada para ocupar uma posição geopolítica de destaque na América Latina. Assim como na saúde, ainda não está de todo resolvida a proposta do estado mínimo(neoliberalismo) e/ou da própria economia de mercado como instâncias do capitalismo; as velhas alternativas paliativas criadas para a atual problemática vivenciada pela educação brasileira. A idéia da mercantilização do ensino também não parece servir as grandes demandas sociais da nossa aprendizagem, dentre outras razões, pelo alto custo das mensalidades que vêm sendo cobradas. E a sociedade na sua maioria pobre não possui poder aquisitivo suficiente para tanto.
Afinal de contas, a preocupação primeira dos que fazem a educação como um negócio é o lucro. Todo o resto é secundário. Ora, mas a educação gratuita e universal é ou não é um dever do Estado e um direito dos cidadãos? Portanto, o ensino público precisa ser visto como uma intervenção de caráter estratégico e não como uma caridade que o Estado realiza em favor dos mais pobres ou remediados. Uma pena constatar que até mesmo uma parte considerável dos professores da rede pública de ensino prefira matricular seus filhos no ensino particular.
A sintomatologia do problema nos mostra por fim as grandes razões desta questão. A saber: baixos salários o que obriga os nossos mestres se dá ao excesso da sua carga horária, não lhes sobrando tempo disponível para o estudo, a pesquisa e a capacitação. Enfim, o investimento em si mesmo. Ainda, a preparação de boas aulas, descanso necessário, tempo para a família e uma dedicação mais prazerosa ao seu ofício de educar, bem como a falta de maiores incentivos salariais também compromete a disposição de muitos para ingressarem nesta profissão que noutros países, corresponde a um ofício de excelência onde sempre pontificam os melhores, os notáveis, os construtores de futuro e da história dos povos. Aqui no Brasil, com raras exceções, o exercício da cátedra está num processo de desvalorização acelerado, nunca vista em sua história. Muitos (talvez por isso) a tem como um mero complemento salarial um “bico” como se diz aqui Cariri. Sobreviver da profissão, portanto é um ato digno apenas dos grandes heróis. Tudo isso precisa ser revisto urgentemente para o bem do Brasil na sua perspectiva mais futurista possível. Como iremos atrair os melhores para a profissão sem a devida valorização. Por outro lado, a motivação é algo igualmente fundamental para o processo de ensino-aprendizagem. E isso vale, tanto para quem aprende, quanto para quem se dispõe a ensinar. Agora, digamos que não é nada gratificante para quem a faz no dia a dia, a sua atual banalização desenfreada. A propósito, por que será que o exercício ilegal da profissão não vale também para o exercício do magistério? Por que qualquer um pode adentrar a sala de aula e lecionar? Será que o professor também poderá clinicar; exercer, por exemplo, o ofício da veterinária, da enfermagem, da medicina em geral, da agronomia, da engenharia civil, etc.
A valorização da profissão de professor também precisa necessariamente reavaliar todas estas minúcias, como questões imperativas para a implantação de uma política educacional de fato diferente, evoluída, democrática, justa e de qualidade para todos: educandos e educadores. Não se pode esquecer que são justamente os professores quem formam todos os outros profissionais da nossa sociedade.
Uma série de contradições hoje se imiscui com todo o processo educacional brasileiro. No Ceará onde estas preocupações são muito mais gritantes, não é lá muito diferente. Temos uma estrutura quase antiga, praticamente sustentada por uma leva de professores tidos como “temporários”, a maioria com mais de cinco anos no ‘batente’ sob o regime de contratos temporários. Uma realidade “cômoda” para os Governos, mas nem tanto para o sistema e, tampouco para os próprios profissionais da área que anualmente são submetidos a uma carga psicológica e estressante ante a reavaliação seletiva(nem tanto seletiva assim), mas que se torna cansativa, penosa e quase humilhante para estes trabalhadores do saber. Depois vêm os baixos salários, para piorar diferenciados dos que são efetivos. Portanto, sem as necessárias garantias de muitos direitos inerentes a categoria mesmo tendo os mesmo encargos sociais, descontos e tudo mais.
Para se ter uma idéia do nível de contradição, basta dizer que todo início de ano letivo o primeiro pagamento só é providenciado no mês de abril e ainda, sem a devida integralidade do mês de janeiro. Seja pela burocracia ou pela falta de prioridade mesmo para com os temporários que hoje são os responsáveis pelo funcionamento da máquina escolar do estado, o tratamento conferido a estes bravos profissionais não corresponde a um ato de justiça, em face da dedicação com que todos devotam à formação educacional da sociedade cearense. Além do mais, mesmo sendo uma categoria numerosa não têm poder reivindicatório, uma vez que sendo “contratados temporariamente” temem as possíveis retaliações e até a perda do emprego. Por isso se faz necessário a instituição de um concurso público que possa contemplar de uma vez por todas as reais carências que o estado apresenta. E não apenas um fragmento delas.
A escolha dos novos diretores que ainda se arrasta desde o ano passado, também demonstra algo não muito interessante pelo menos desta feita, malgrado o seu viés democrático absolutamente necessário. Então, como entender um processo que visa substituir um quadro de diretores já completamente familiarizado, compenetrado e treinado com o gerenciamento administrativo, financeiro e pedagógico de uma escola; por outros que no mínimo, vão ter que gastar um certo tempo para compreender toda esta engrenagem? E se caso for alguém de outro município, que sequer conhece nossa realidade e a comunidade usuária da escola? São coisas deste tipo que às vezes nem Freud explica.
Mas, em educação tudo é possível, até mesmo a possibilidade de um eterno recomeço. Acreditar também para os educadores pode ser uma grande e salutar virtude. Quiçá um aprendizado. Não sei se isso valerá também para a sociedade que tem sede de justiça e pressa de grandes realizações sociais.
Por: José Cícero
Professor, Escritor e Poeta.
Aurora - CE.
Um comentário:
Gostaria de parabenizar o Intelectual José Cicero da Silva por fazer uma radiografia do quadro educacional brasileiro com uma precisão cirúrgica intelectiva que envaidece a todos nós brasileiros, porém, O estado Brasileiro continua insistindo no modelo educacional obsoleto do Skinner, A Educação pela dor, pelo heroismo de alguns, pela elite intelectual filtrada pela escola, premiando os herois e punindo os fracassados, excluindos, os mal comportados, expulsando os bagunceiros, os mal elementos, enfim, existe toda uma literatura para amparar a escola como um veículo de humanização em detrimento destas pechas sociais tão bem arraigadas em modelos mentais ultrapassados, obsoletos. Qual a politica educacional de ressocialização escolar para o aluno Problema ? Castigo, expulsão, repressão, ladainhas intermináveis{....} Este modelo foi instalado no Brasil no século XVI pelos Jesuitas e continua forte, atuante e capilarizado em todo o Brasil.
Quem estudou com seriedade Charles Darwin ? E Expôs para os estudantes de forma científica ?
150 anos de A Origem das Espécies, qual a problematização da Origem das Espécies?
O Aborto, quem vai questionar um assunto tão polêmico, caso questione e pratique, a excomunhão está pronta.( Sou contra o aborto) Penso que a Santa Igreja de Roma está certa, porém o problema é que o estado brasileiro é laico na constituição, porém extremamente religioso nas tomadas de decisões. Sou muito Grato a Igreja com a colocação dos Dogmas no seio da sociedade, até por uma questão de história, 2000 de história é muito para ser questionada,(por mim, servo fiel) porém a aplicabilidade das leis são sempre filtrada pelo modelo mental religiso dos agentes responséveis, assim, temos um estado laico que pensa como um estado religioso.
Fica dificil resolver o problema da educaççao do Brasil. Uma educaçao religiosa ? ou laica ? Qual o aluno do Ensino Fundamental que conhece a metodologia do trabalho científico ?
A Religião é uma questão de fé, não era para se confudir fé e ciência, porém no Brasil, a mistura é automática, o DNA religioso dos Padres Jesustias, de uma forma, ou de outra, está preso na mente dos modelos educaionais, nos administradores da Educaçao, no educadores e por extensão nos alunos e por que não dizer em mim também.
Gostaria do grande intelectual e amigo, um artigo versando sobre: Educaçao Laica filtrada por um estado religioso ?, ou Educação religiosa filtrada por um estado laico?
Na dúvida.
Luiz Domingos de Luna. Mestre de Ordem, Ordem Santa Cruz - Penitentes - Santa Igreja de Roma, forania de Aurora, aos 07 dias de março,2009.
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