quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Natal comercial: vai um presente aí?

Por José Cícero


O tão esperado momento do Natal aos poucos se avizinha. É amanhã. Muitos se preparam para este histórico acontecimento mundial como quem ansiosamente está prestes a curtir uma colônia de férias ou coisa parecida. Lamentável, portanto é a constatação de que a maioria, não está nem aí para o verdadeiro e grandioso significado que represente o Natal. Quer seja do ponto de vista espiritual-religioso ou mesmo no sentido mais lato que a palavra encerra.
Pois, para todos estes, quase mais nada importa acerca do Natal, a não ser os arroubos festivos em que a massa se arvora em seus excessos mais gritantes de aproveitamento de mais um feriado para, sob a força do velho ócio, extrapolar todos os limites do consumismo e outros exageros hodiernos. Fazendo assim do período natalino quase um baco-festim; como se tudo o mais não passasse de um evento corriqueiro e profano.Não podemos esquecer de que a mídia, sobretudo a televisiva sempre voltada para o lucro a qualquer preço, tem ajudado e muito, nesta inversão de valores. Algo que, infelizmente não está restrito apenas ao Natal, mas a quase todas as principais comemorações religiosas e populares do mundo.
Quem sabe, mais uma ‘dádiva’ da chamada economia de mercado, ou mesmo globalização da miséria, do absurdo e do mau-gosto. A moda agora, seja no natal ou não, é ser medíocre e extravagante sob o modus operandi de um discurso midiático que declara guerra à tradição e a morte da história.Hoje o natal perdera por completo todo o seu glamour de outrora. Ficou tão comercial que é quase impossível imaginá-lo sem a noção psicológica da compra, do consumo de qualquer coisa, a guisa de presente ou de um farto banquete regado a muita dança de forró obsceno e bebedeiras. Sinais do tempo? Não estou muito convencido desta assertiva.
Penso que tudo isso seja mais uma das muitas trivialidades impostas pelo chamado sistema capitalista pós-moderno que tem feito dos povos do mundo, meros autômatos da sua propaganda, que ora funciona muito mais como lavagem cerebral, diante de uma padronização que aos pouco vai se tornando internacional.
Eis aqui, a tão decantada e famigerada globalização. Projeto imposto pelos ricaços do primeiro mundo como um presente colorido direcionado a toda uma falta de reflexão dos seus dominados. Aos poucos o natal como um data comemorada em todo o planeta, também foi engolido pelo monstro deselegante do capitalismo. Será que a força do dinheiro como dissera o poeta, “também constrói e destrói coisas belas?”.
Porém ainda assim, creio que podemos resistir a este formato alienígena de um Natal diferente e descaracterizado do verdadeiro natal que tivemos no passado. Não podemos nos deixar ser levados pela farra e promiscuidade de todo este marketing comercial em que se transformou o antigo sentido dos verdadeiros Natais de outros tempos.
Nada contra o “bom velhinho”, porque, claro, ele nem existe. Mas convenhamos, o natal de outrora era uma simbologia das mais bonitas e interessantes que ainda hoje consegue mexer com nossas reminiscências mais profundas e nossas melhores e mais doces memórias afetivas de criança. Não nos esqueçamos que o Papai Noel foi uma jogada de marketing das mais elaboradas e exitosas de toda a história.
Mesmo assim não nos deixemos ser roubados pelos que tentam fazer do natal um verdadeiro estelionato espiritual contra os milhares e milhares de incautos e ingênuos cidadãos do mundo. Principalmente os mais pobres que, inebriados pelo 'canto da sereia comercial ' tentam a todo custo se igualar aos ricos. E terminam saindo desta festa ainda mais endividados do que quanto entraram. O natal como tal se comemora atualmente constitui uma fantasia não muito acessível e tampouco barata para boa parcela da sociedade. Porque mesmo que Papai Noel existisse, coitado, ele não teria nenhuma culpa. Pois, no natal da pós-modernidade o pobre velhinho também não passa de mais uma vítima desta enganação desmiolada capitaneada pelo verdadeiro império do comércio internacional.
O natal que nos interessa é o que de fato simboliza a mais sublime, maravilhosa e angelical encanarnação de Jesus por entre os homens. Que este Natal não seja tão somente um símbolo de festas nababescas e de presentes apenas, mas principalmente de uma nova tomada de consciência para que todos possam efetivamente repensar seus atos em favor do bem, elevando suas orações na perspectiva da construção de uma vida e de um mundo mais justo, fraterno, humano, sem mentiras e melhor para todos.
Este seria o autêntico natal que queremos e que de fato nos faz falta.
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(*) José Cícero
Secretário de CulturaAurora - CE.
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Imagem ilustrativa: da Internet

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