sexta-feira, 31 de julho de 2009

Secretaria de Esporte reúne atletas e dirigentes para debater projeto e início da Copa Aurora



Na noite da última quinta-feira(30) a Secretaria de Cultura, Turismo e ESPORTE do município de Aurora realizou mais uma etapa da apresentação pública que faz projeto "Esporte de Todos, instrumento de Inclusão social". Tendo iniciado às 19 h o evento reuniu atletas e dirigentes esportivos no salão paroquial no centro da cidade. Além de debater o projeto de esporte para o município, o encontro serviu também como forma de apresentação das propostas para a realização da grande Copa Aurora de Futebol amador, prevista para começar em meados do mês de agosto. Serão 30 equipes adultas que disputarão a copa em duas grandes fases. A 1ª com jogos de ida e volta( no mata-mata), incluindo partidas em toda zona rural e a 2ª classificatória na sede. Paralelo a Copa Adulta, também acontecerá o campeonato juvenil com jogos prelimináres. "Nossa proposta é inovar como forma de dinamizar o esporte aurorense. Com planejamento e organização faremos com certeza da Copa Aurora um dos mais interessantes eventos esportivso da região" enfatizou o secretário da pasta.
Na explanação de quinta-feira, participaram jogadores e dirigentes da sede e da comunidade de Agrovila-cachoeira. Todos os distritos de Aurora recebeu a equipe da Seculte para a discussão do projeto e da copa Aurora. "Estamos descentralizando as ações esportivas no sentido de levar os benefícios, o lazer e o entretenimento para todos os recantos aurorenses", como estamos dando uma visão democrática das nossas ações", fianalizou.
O prefeito Adailton Macêdo, está determinado em contribuir de forma efetiva para transformar a nossa juventude também através de praticas sadias por intermpédio do esporte de rendimento e de lazer, disse. Ao lado do coordenador do departamento de Esporte Raimundo Tabosa, o secretário José Cícero falou ainda da satisfação em poder contar com a força da sua equipe de trabalho e, notadamente daqueles que há muito lutam pela valorização do esporte de Aurora, tanto do campo quanto da cidade. As inscrição para as equipes que pretendem disputar a Copa Aurora estarão abertas apartir da prócima segunda-feira.
Da Redação do Blog da Aurora

sábado, 18 de julho de 2009

Benjamim Abrahão e as objetivas do Cangaço: uma história ainda a ser contada

Por José Cícero

Benjamim Abraão Botto – A priori um mascate modesto, desconhecido como tantos outros, mas que se fez grande não por seu trabalho de vendeiro viajante, porém por ter registrado para a história as célebres imagens de Virgulino, Lampião, o rei do Cangaço e o seu bando em plena caatinga dos nossos sertões entre 1935-36.
Diria que a figura deste retratista-cineasta foi de uma importância singular, tanto quanto, a do próprio Lampião para que a contemporaneidade pudesse agora desfrutar das imagens raras de uma gente que com seu modo de vida inédito ajudou a escrever com sangue, luta e sofrimento o mais legítimo fenômeno social do Nordeste brasileiro. A sua empreitada em filmar Lampião e os seus cangaceiros em plena atividade, foi por assim dizer, um verdadeiro insight por meio do qual um fato sociológico fosse imortalizado. Foi este o peso da decisão, da vontade e da busca incessante abraçada por Benjamim no sentido de registrar a face real de Lampião e seus asseclas nos rincões do Nordeste. Por tudo isso foi ele(o retratista), caixeiro-viajante, um homem empreendedor e de princípio, que esteve muito além do seu tempo. Qualidades que só encontramos nas figuras visionárias em momentos específicos da história planetária. Por tudo isso, sua figura deveria ser muito mais valorizada por todos quantos se dão à árdua tarefa de interpreta e reescrever a verdadeira saga de Lampião e o Cangaço. Pois foi através dele que podemos usufruir hoje do que ainda resta das imagens de Lampião. Assim, a iconografia do cangaço como um todo deve muito aos esforços deste estrangeiro que, como muitos, devotou uma grande paixão pela opção de vida e atuação de Lampião e sua gente.
Um pioneiro na arte imagética do cangaço
Numa época em que os filmes e a arte da fotografia eram coisas difíceis, portanto, só ao alcance das elites da capital, Benjamim Abrahão, se aventurou a adentrar a mata espinhentas e seca dos sertões para registrar in loco a face autêntica do cangaço. Um ato ousado e para poucos, por uma série de motivos. Abrahão teve o tino, inclusive, de procurar ajuda do empresário do ramo fotográfico Ademar Bezerra; proprietário da antes famosa ABAFILM, por sinal, uma empresa genuinamente cearense. Não fosse o ímpeto corajoso deste homem sírio-libanês, muito pouco ou quase nada saberíamos da iconografia do rei do Cangaço e, tampouco teríamos a noção real dos seus verdadeiros traços físicos e trejeitos. Tudo imortalizado pelas fotografias e outras imagens em movimento realizadas a duras penas pelo destemor do Abrahão.
O mais sírio-libanês dos brasileiros:
Chegou a Brasil no distante ano de 1915 fugindo que estava da 1ª guerra mundial e do próprio Império Otomano do seu país. Chegou pelo Recife. Virou mascate, adentrou os sertões como viajante, vendedor de tecidos e outras bugigangas do gênero, até alcançar à vila de Juazeiro do padre Cícero. Afeiçoado por todos do lugar não demorou muito para galgar a simpatia do padre. Ao ponto de tornar-se em seguida, o seu próprio secretário particular. De fala enrolada fez-se bom na escrita, assim como nos atos contínuos e outros protocolos legais. Era um exímio fazedor de amigos, talvez por isso ganhara logo a confiança do padre Cícero e por pura gravidade, de toda a romeirada.
Desde a primeira visita que Lampião e seu bando empreenderam ao Cariri, Benjamim Abrahão nutriu a imensa vontade de conhecer de perto aquele que pelo Nordeste inteiro já era uma lenda quer seja como herói e como bandido. Não foi possível em 1925 fazer uma aproximação mais efetiva com o rei do Cangaço. Ele queria muito mais. Desejava fazer uso do que fosse possível à tecnologia da sua época. Deu, assim como se diz, tempo ao tempo. Mas não se demoveu do seu objetivo primeiro: queria porque queria registrar de alguma forma aquele homem diferente, por quem os sertanejos de alguma maneira ou de outra, admirava. Ou pela sua fama de herói ou de facínora. Para ele, nada disso o importava. O que mais valia era o homem e o seu papel a ser desempenhado na história. Por esta razão, Lampião concentrava sua grandiosa atenção. Somava-se a tudo, a condição de já estar ele ao lado de uma outra lenda viva do Nordeste: um homem efetivamente do povo – o padre do Juazeiro. Desde então, não afastava a idéia de também se aproximar do rei do cangaço quem sabe por intermédio do sacerdote. Para ele, tudo não passava de uma questão de tempo. E o tempo logo não tardaria a rumar novamente ao seu favor. Isso era quase um pressentimento. Um ano se passara desde a primeira visita de Lampião à pequena vila. Logo a notícia se espalhara como fogo de broca ao sabor do vento. Lampião não tardaria a chegar de novo ao Juazeiro. Desta feita, animado que foi pelo convite do Dr. Floro Bartolomeu - braço direito do padre, que lhe concederia em nome da república, o título de “capitão” a compor as fileiras dos chamados ‘batalhões patrióticos’ do Governo Artur Bernardes que supostamente combateriam a Coluna Prestes – os temíveis comunistas, ateus, filhos da besta-fera, comedores de criançinhas e outras denominações cunhadas inclusive pela igreja. Depois deste fato, Lampião estivera outras vezes no Cariri, especialmente em Aurora quando da trama para a invasão malograda de Mossoró-RN; no histórico envolvimento do reio do cangaço com Massilon e o coronel Izaias Arruda em 1927. Ao que tudo indica o bando lampiônico nunca tivera este encontro com os revolucionários sob o comando do “cavaleiro da esperança”. Mesmo que o rei do cangaço tenha insistido em dizer que o tivera.... Em todo caso, tal título nunca servira de verdade ao bandoleiro, que não fosse como mais uma propaganda que muito o ajudou a aumentar ainda mais a sua fama. Por onde andou e tentou fazer uso deste título, porém de nada ele representou. O confronto à bala sempre foi o cartão de visita que o esperou pelos grotões dos sete estados nordestinos que atuou, sobretudo quando não contava com seus coiteiros figadais.
Lampião, quando da sua segunda visita ao Juazeiro:
Ainda em Juazeiro, pela segunda vez, Benjamim Abrahão aproveitou deste raro momento de entusiasmo vivido por Lampião e seus cabras. A estadia do bando na vila foi um acontecimento dos mais movimentados e eufóricos. Ao passo que todo mundo do lugar queria ver de perto aquele que até então, não passava de estórias ou de ouvir falar. Mas lá estavam eles, arranchados garbosamente no sobrado da rua central. Sob a aba benfazeja do santo padre na proteção da paróquia. E não era por menos, davam viva ao povo, aos santos, ao padre Cícero e ainda por cima, afagavam o ego da criançada do lugar, jogando moedas como chuvas enviadas por Deus. Era por dizer, mais um milagre do padre, ao domar a fera lampiônica e, ainda fazê-la, boazinha, pródiga e mão-aberta para todos os pobres e ricos do vilarejo. Os céus aprovaram Lampião ao menos naquele dia em especial a compor para sempre uma página importante do cangaço.
No Juazeiro, ninguém conseguiu enxergar, a tão propalada brutalidade e ignorância do bando, como as notícias que ali chagavam, no mais das vezes, de boca em boca, reforçada pelas volantes policiais e a imprensa da capital. Não. Lampião estava com o padre, portanto, era um homem bom, um filho temente a Deus.
E Bejnamim assistia toda aquela cena extasiado, com a mente voltada para a possibilidade de um registro imagético. Algo que sobrevivesse para sempre. Algo que servisse como documento à posteridade. Aos homens do futuro. Quem sabe uma maneira de adiar qualquer forma de julgamento antecipado, preconcebido, apressado daquele fenômeno ao seu juízo, até ali, atemporal. A memória, assim como a imagem de Lampião e seus cangaceiros não podiam egoisticamente acabar ali. Perder-se no tempo e no espaço, como se a sociedade do porvir não tivesse sequer o direito de também poder de algum modo, acompanhar aquelas cenas sui generis para a uma época desregrada da história. Quando todos se centravam no presente, Abrahão tinha os olhos e pensamentos voltados pra o futuro. Quando muitos viam o cangaço pelo prisma míope do momento, simplesmente. Abrahão enxergava longe, via até a possibilidade de fazer fortuna com aqueles acontecimentos que mexiam com a própria sociologia dos sertões, os poderosos do poder e as gentes da capital. Faria ele com as imagens, melhor do que o fez Euclides com a palavra. Ele do cangaço e Lampião, este de Canudos e Conselheiro.
A aventura de Abrahão começa ali:
Teria mais sorte, porque do seu lado estava o santo do Nordeste. As façanhas assim como a história de Lampião deixariam à caatinga e ganhariam o mundo todo. O limite para seu sonho de fazer Lampião um imagem nacional não tinha fronteira. Por Lampião o seu bando e suas belas mulheres, Abrahão imaginou tornar-se grande, fazer fortuna. A saga lampiônica prometia. Era aos seus olhos um verdadeiro filão de ouro disperso e perdido na sequidão do Nordeste. Contrapondo a valentia e a miséria de um povo marcado historicamente pela passividade do silêncio, assim como pela recorrência da tragédia humana. Uma gente cuja sobrevivência naquele mundo de agruras e dificuldades já era a encarnação da própria imortalidade, da esperança, ousadia e do milagre. E Lampião com seu bando, apesar de todas as estórias, era apenas parte deles. Um joio perdido no meio do trigo que o fotógrafo libanês queria resgatar, perpetuar, vender ao além-fronteira. Mercantilizar e, quem sabe também ficar famoso. Depois, ano 2000 o filme 'Baile Perfumado', foi feito para ele, e sobre ele...
O litoral, como se via estava disposto a pagar por isso, o preço que lhe fosse cabido. Até Hollywood logo se interessaria por suas objetivas e suas fitas. Mas, não agora. Ele queria mais, milhões... Mais uma vez daria tempo ao tempo. A pressa era de fato inimiga da perfeição. De algum modo Abrahão acreditou nesta premissa como se fosse um axioma. Porém, neste caso estava errado.
Antes da morte de padre Cícero em 1934, ele conseguiria uma carta de apresentação que lhe abriria portas e certamente sedimentaria a confiança do rei do cangaço no seu projeto. De fato, isto aconteceu. Mesmo desconfiando, Lampião permitiu-se ser fotografar e filmado junto com seu bando. Mas sem antes o 'teste são tomé'. Benjamim teve que primeiro ir para a frente da geringonça. Não saiu bala. Lampião finalmente se deixou levar pela força das imagens, sobretudo em movimento. Tanto que tomou gosto pela coisa. Fez posse, ensaiou tática de guerrilha. Abriu a revista Cruzeiro, O globo. Vestiu sua roupa de gala, perfumou-se até.Fez-se intelectual, de herói, artista, galã... Um ídolo popular, diferente por quem o Nordeste faria continência ante a sua posição de capitão. Imaginara ele ante as coisas engendradas pelo retratista.
Os jornais da época estampavam imagens de Lampião, Maria Bonita, Corisco e demais cangaceiros dos sertões devido a intrepidez do fotógtrafo Bejamim. O Brasil e o mundo dali para frente conheceriam a sua história. E o rei do cangaço gostava de saber disso...
Benjamim Abraão, Lampião, o cangaço e os sertões: Início, meio e fim.
Lampião começa a virar uma figura de expressão nacional. O sertão começava a existir para as elites do litoral por força do cangaço lampiônico. Lampião começaria a gerar preocupação nas hostes políticas. Uma ameaça que a partir daquele instante não valeria apenas para os potentados da região, mas da corte litorânea em geral. Tudo isso por força das imagens que Abrahão produzira pela AbaFilm e projetara para além dos grotões da caatinga nordestina. Para isso teve que andar léguas tiranas até encontrar de novo Lampião e seu bando no oco do mundo no largo da Catarina na mata seca de Bom Nome a partir de 1929, 35 e 36.
Muito do seu trabalho foi perdido pela perseguição que sofrera da tropa de Getúlio ocasião em que apreenderam seu material. Somente nos anos 50 foi que seus filmes apreendidos, reapareceram, muito pouco pode ser recuperado. Mas, o suficiente para imortalizá-lo de vez na história do cangaço, como o homem que fez de Lampião uma figura afirmativa, requintada, heróica. Como um ator americano, europeu. Um símbolo admirável de valentia, justiceiro, um Rob Hood nordestino com pinta de galã ou de bandido a desafiar ainda mais o cetro dos palácios, assim como os salões nobres do poder e da burguesia emergente da época.
Foi Abrahão um dos primeiros a ocupar a posição de reporte fotográfico a dá o grito de que por Lampião o Nordeste esquecido pela primeira vez apareceu, nu e cru para o resto do país e para o mundo.
Esquecido, morreu tragicamente em 10 de maio de 1930 aos 40 anos; assassinado que foi por arma branca, mais de quarenta facadas na cidade de Serra Talhada no agreste Pernambucano. Uma morte que até hoje é um mistério. Vítima da ditadura, Homicídio banal ou crime passional?
Enfim, sem a presença de Benjamim Abrahão a história de Lampião e do próprio Cangaço não seria o que foi e o que é até os dias atuais.
Fotos: 1- Benjamin Abraão. 2. Benjamin Abraão, Maria Bonita e Lampião.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

RastreadoreS de ImpurezaS: Na rota dos buracos, rumo ao Cariri outra vez

RastreadoreS de ImpurezaS: Na rota dos buracos, rumo ao Cariri outra vez

Projeto Escolinhas de Futebol já é sinônimo de sucesso em Aurora

Fatos e Imagens das Escolinhas da Seculte-Aurora-PMA











Um projeto que já começa exitoso. É esta a constatação que se tem das primeiras atividades relacionadas ao Projeto “Esporte Cidadania” que vem sendo posto em prática pela Secretaria de Cultura, Turismo e ESPORTE (Seculte) do município de Aurora na região do Cariri.
O referido projeto está atendendo a pouco mais de 250 crianças em dois pólos de atuação: um no bairro São Benedito(Aurora Velha – no campo Virgílio Távora – monitores: Naldo Balão, Cian e Paulo Magal). Outro no bairro Araçá através dos monitores: Luiz Mário (Grandão) e o ex-atleta profissional Cristiano). A proposta visa atender crianças do infantil ao infanto-juvenil nas modalidades de futebol de campo e Futsal. Dentre em breve, segundo os responsáveis pela iniciativa, o projeto será estendido para o segmento feminino numa parceiria efetiva com as escolas da rede estadual e municipal.
“A meninada está muito contente com o nosso trabalho e isso nos deixa felizes porque é justamente isso que queremos, fazer o melhor pela nossa juventude e pelo futuro do esporte de Aurora”, disse o monitor Luiz Mário do pólo do Araçá. Já no bairro São Benedito, conforme o monitor Paulo Magal, “ a garotada cada dia está mais exigente e o número de participantes é cada vez maior”. Uma prova do sucesso que já está sendo verificado mesmo no início do projeto. Temos a perspectiva de em breve estedermos o projeto das escolinha de futebol também para os distritos da zona rural, principalmente aqueles que oferecerem demanda para sua execução, afirmou o secretário da Seculte JC, assim como o coordenador de Esportes Raimundo Tabosa.
Com apenas 5 meses de atuação, o projeto das escolinhas de futebol já se constitui como sinônimo de suceso absoluto em Aurora.
Na última quinta-feira, dia 16, uma partida festiva envolveu a seleção da escolinha da Aurora Velha versus a do Araçá num ato de puro congraçamento entre os atletas mirins aurorenses. Sempre que possível, em datas específicas ataremos realizando jogos como este, sem a noção competitiva, mas sobretudo para aumentarmos ainda mais o espírito de camaradagem e interatividades entre a garotada dos diversos pólos do nosso projeto, enfatizou o secretário. A partida desta quinta-feira ocorrida no estádio Romãozão apresentou o placar de 2 x 2. O que bem assinalou a festa que foi o ato de confraternização dos atletas mirins da Seculte.

domingo, 12 de julho de 2009

Lampião: O verso e o reverso de uma mesma moeda

Por José Cícero


Agora, prestes a realização do "Seminário Cariri Cangaço" previsto para acontecer em setembro, o 'Blog de Aurora' assim como o do 'José Cícero' homenageiam a passagem dos 71 anos de morte do rei do Cangaço com a publicação de uma série de reportagens( iniciadas com o artigo:(Aurora e Lampião) abordando o fenômeno do Cangaço e seu expoente maior, especialmente sua passagem por terras de Aurora e região.
A trajetória do imortal Virgulino Ferreira da Silva – o Lampião rei do cangaço, desde o principio foi carregada de controvérsias. Mesmo quando ainda era ele um mero cidadão pacato, um agricultor e depois, tropeiro-viajante, mascate, almocreve, vendedor de bugigangas, ou seja, um ilustre desconhecido disposto a ganhar a vida com o suor do seu rosto palmilhando os caminhos das pedras a se estenderem pelos grotões do Nordeste adentro. Deste modo incansável, conheceu como ninguém, todas as lonjuras dos mais inóspitos rincões sertanejos. Logo depois, um triste episódio familiar, o assassinato (do pai), como tantos outros, sublinhados pela injustiça e pela impunidade marcou para sempre sua vida. A partir deste fato, nunca mais seria o mesmo. Sua lida de tropeiro viajante terminaria ali. O tangedor de tropas de burros se transformaria de repente numa figura altiva, temida, admirada, odiada.. Uma lenda a encher de fantasias e cruas verdades quase todo o cotidiano do povo esquecido dos sertões espalhados por mais de 7 estados percorridos pelo bando lampiônico por quase duas décadas. A solidão das estradas empoeiradas e agourentas da caatinga ganhara um personagem, cuja existência enchia de medo e curiosidades pobres e ricos, políticos e comerciantes. Logo a figura, daria lugar ao mito. A miséria e o sofrimento imposto secularmente aos sertões pela primeira vez na história(depois de Canudos) começavam a despertar a atenção do litoral. Uma dor de cabeça para os que se sentiam comodamente tranqüilos na 'corte do poder'. Para todos eles, agora o cangaço era uma aberração inaceitável. Uma afronta permanente à ética e a lei do faz-de-conta. A paz, assim como o silêncio dos cemitérios agora estava quebrado pelos malfeitores do oco do mundo. O sertão começava a ser visto e ouvido pelo cangaço de Lampião e seus comandados.
Lampião rapidamente se transformaria num vulto difundido pelos sertões mesmo numa época em que a leitura, o rádio e o jornal eram novidades inacreditáveis para poucos(quase ninguém daquelas bibocas). Mesmo assim, a história lampiônica foi se popularizando pela forte oralidade popular. Seus feitos sejam eles de bondade ou atrocidades se espraiaram pelo Nordeste e pelo país de uma ponta a outra. Estava assim iniciada a construção da saga de um herói para uns e bandido para outros. Um sujeito construtor da sua própria história como poucos no Brasil...
Hoje Lampião é uma das figuras mais pesquisadas da nossa história, com mais de 100 obras escritas sobre sua pessoa e seu bando, além de filmes e músicas nos mais das vezes regionalistas. A literatura popular também contribuiu e muito para esta difusão da história de Lampião e seu bando. Uma infinidade de cordéis também encheram as tipografias da região por vários anos. E a fama do rei do cangaço não teve mais fronteiras, de modo que é estudada em diversos países do mundo. Desde os anos 70 a figura de Lampião ajudou a projetar obras literárias, tais como de Ralf Dela Cava, Billy Jaynes Chandler, Rui Facó e tantos outros pesquisadores dentro e fora do país.
É certo dizer, entretanto, que todo mito é envolvido por uma verdadeira áurea de contradições, invenções e exageros, na sua maioria por fanatismo, ojeriza, paixão e preconceitos. Mas nada nos impede de olharmos a história do cangaço e a de Lampião e seu bando com a devida imparcialidade, sem nenhum ranço de paixão ou condenação preconcebida. A história como um corolário de acontecimentos cronológicos, sempre será um fenômeno não livre de contradições e distorções que no geral descambam inevitavelmente para a polêmica. De tal modo que sempre haverá um espaço aberto para o contraditório. Assim é que nos aproximamos o mais que possível da verdade objetiva dos fatos. O que por sua vez, ajuda a produzir um debate nem sempre de ataque ou de condenações injustificáveis. Outras, de defesa, fanatismo que também assinalam os exageros de alguns exegetas que subjetivamente de alguma maneira distorcem a verdadeira história do cangaço e do seu vulto maior. Isso nem sempre contribui para o clareamento das compreensões necessárias que buscamos a priori efetivar. Mas este filigrana, portanto, não é apenas inerente a historiografia lampiônica e do cangaço, porém, em essência de todos os acontecimentos, sobretudo do aqueles que concentram no seu bojo a própria historicidade social de um povo, de uma classe, de uma ocorrência em particular. E o fenômeno do cangaço é pródigo neste aspecto intrínseco da sociologia dos sertões nordestino de uma época singular dos anos 20.
E como disse, a história do cangaço passou desde o Cabeleira, Sinhô Pereira, Luiz Padre, Antonio Silvino, Jesuíno Brilhantes e, finalmente a partir da figura extraordinária de Lampião, a assumir a própria veste da polêmica e da contradição numa dimensão quase ilimitada perante o senso crítico e comum das pessoas. Alimentada que foi pelo exagero de ambos os lados(os que viam Lampião como herói) e os que o viam apenas como um bandido. Para a história, no entanto, o que mais interessa é o fato, o fenômeno humano, social, o homem na sua mais legítima integridade de idéias, crenças e ações; isto é, como produto do meio em que vive e atua, bem como da sua influência e conseqüências para o momento presente e futuro. Neste sentido é que reside o grau da importância que urge analisar agora, o fenômentro do cangaço, assim como do seu expoente maior – Lampião; além da sua relação de atuação no cotidiano do Nordeste por quase 20 anos.
A trajetória de Virgulino foi e será para sempre, a própria narrativa das contradições e da polêmica, como sempre tem sido, a história de todos os líderes populares. Como inclusive de uma população inteira fadada a todos os tipos de sofrimentos. A sua opção pelo cangaço, a construção etimológica do seu epíteto(Lampião), o modus operandi pelos grotões, vilas, povoados e cidades nordestinas, sua relação com os pobres, coronéis, políticos, coiteiros e a polícia. A sua relação com o padre Cícero e Floro Bartolomeu, sua patente de Capitão e os Batalhões patrióticos supostamente de combate à coluna Prestes. O misticismo conferido a sua pessoa, o Robin Hood dos sertões(tomando dos ricos para distribuir aos pobres), o Che Guevara dos cafundós dos Judas, dado pelo suposto senso de solidariedade aos injustiçados e oprimidos da região etc. Enfim, a sua personalidade de um homem rude e ao mesmo tempo requintado( que lia a Cruzeiro, tomava uísque importado, usava perfume francês, brilhantina e pistola americano-inglesa) que construiu um marketing pessoal e da sua causa, para assim edificar uma imagem ética em contraposição ao governo e as própria volantes que torturavam inocentes sob a desculpa de que davam apoio aos cangaceiros. Do homem temeroso a Deus, que tinha o dom da invisibilidade quando atocaiado. Dos pressentimentos, das orações do corpo fechado, de membro dos penitentes dos quais recebia proteção. Do respeito aos santos, as crianças, idosos, aos templos e as mulheres. Da sua impiedade aos traidores e ladrões. Do homem de palavra. Por fim, foram tantas as supostas qualidades, crimes e defeitos direcionados ao rei do cangaço que fica cada vez mais difícil aos historiadores contemporâneos descrevê-lo fielmente sem ter que escorrer aqui acolá, numa aparente esparrela ante os deslizes para o romantismo e/ou a parcialidade. Lampião era assim com todas as letras um predestinado. Um homem de exceção...
De modo que neste acaso, a suposta neutralidade que se fala tanto, parece não ajudar muito diante de uma ordem de acontecimento prenhe de nuances informativas distorcidas, floridas, adornadas pela paixão e pelo lirismo exacerbado; que ao um só tempo ajuda a aumentar o mito de uma figura que agora já contorna as fímbrias do folclore como mais uma lenda a percorrer o mundo concreto e abstrato do sertão nordestino com especialidade.
Contudo, me arisco a dizer, que o Cangaço foi sim um meio de vida para muita gente dos sertões: bandoleiros, malfeitores, bandidos, criminosos de toda sorte, inclusive a serviços dos coronéis que no fundo não se diferenciavam dos demais que falsamente condenavam. Gente, no geral sem escrúpulos que praticavam o roubo e depois dividiam com os seus patrões, patrocinadores da pilhagem e, sob o escudo da ética moral, da impunidade, da mentira e do faz-de-conta. Coisas que as elites fingiam não ver até o aparecimento do rei do cangaço. De resto, de algum modo, Lampião e seu bando mexeram com os interesses de todos eles. Por isso Artur Bernardes e depois Getúlio Vargas foram literalmente obrigados a combater com unhas e dentes o cangaço, muito mais do que a Coluna Prestes dos chamados comunistas.
Uma verdadeira fortuna em ouro e dinheiros foi roubada pela volante e os traidores(coiteiros de Virgulino) quando do massacre-chacina do grupo de Lampião e Maria Bonita ocorrido em 28 de julho de 1938 na localidade de Angicos(Poço redondo-AL).
Arisco-me a dizer por fim, que o cangaço foi sim um fenômeno social dos mais emblemáticos já ocorridos nos sertões. Uma válvula de escape através da qual os mais espertos e ousados se utilizavam para fugir de uma situação de extrema penúria, miserabilidade, abandono e crueldade de um estado que até então só parecia existir no papel que os sertanejos sequer ouviu falar.
Lampião, não tivera outra escolha. Adentrou no cangaço por duas razões das mais objetivas: Vingança e sobrevivência. Acabou se dando bem e fez história, tanto que muitos tentaram o destruir não pela propalada sanha de criminalidade que o seu bando supostamente espalhou, mas, sobretudo pela inveja, a cobiça, o desejo de ocupar o seu lugar naquele meio-de-vida relativamente perigoso, mas que compensava pelo alto grau da lucratividade e o próprio sucesso e admiração alcançado junto à boa parte da população e alguns coronéis do latifúndio.
Sem dúvida, uma atividade de risco, para os menos inteligentes e poucos ousados. Um projeto exitoso para Virgulino que no seu todo reunia um conjunto de qualidades extremamente necessárias à execução da prática cangaceirirsta; que sejam: Coragem, inteligência, sentido prático, conhecimento geográfico da caatinga, raciocínio rápido, espírito de liderança, estrategista, desconfiança, esperteza aguda, determinação, firmeza da palavra, política da ameaça e da camaradagem e da recompensa, tática da mobilidade na caatinga, imperdoável com a traição e outros atos contrários a suposta ética do seu bando. Gracioso aos que considerava amigos, leais e valentes.
Tão forte é ainda hoje a polêmica lampiônica ao ponto de há dois anos surgir a versão do fotógrafo mineiro dando conta de que Lampião não morrera na tocaia de Angicos-AL. Segundo ele, o rei do Cangaço(sobrevivera a ela) e vivera até 1993 em MG sob o nome fictício de Antonio Maria da Conceição. As controvérsias vão desde a sua morte até seus inimigos, coiteiros, aliados, parentesco. Coisas bastante comuns tanto a bandidos quanto a heróis...Gente do povo, fazedor de história.
Como se ver nem tanto anjos, nem tanto demônios compuseram a mirabolante história de Lampião e seu bando pelas terras do Nordeste.

sábado, 11 de julho de 2009

71 anos da morte de Lampião*



1- Lampião e Mª Bonita 2 - Local da morte de Lampião/AL
3- Cabeças decapitadas do bando 4 - Gruta de Angicos-AL.
Em 28 de Julho de 1938 chegava ao fim a trajetória do líder cangaceiro mais polêmico e influente da história do cangaço. A tentativa de explicar a morte de Lampião levanta controvérsias e alimenta a imaginação, dando origem a várias hipóteses acerca do fim de seu "reinado" nos sertões nordestinos. Existe a versão oficial que sustenta a chacina de Angicos pelas forças volantes de Alagoas e existe também a versão do envenenamento de grande parte do grupo que se encontrava acampado em Angicos.A versão oficial explica que Lampião e a maior parte de seus grupos se encontravam acampados em Sergipe, na fazenda Angicos, no município de Poço Redondo, quando foram surpreendidos por volta das 5:30 da manhã; as forças volantes de Alagoas agiram guiadas pelo coiteiro Pedro de Cândido e os cangaceiros não tiveram tempo de esboçar qualquer reação. -Lampião é o primeiro a ser morto na emboscada. Ao todo foram 11 cangaceiros mortos, entre eles Lampião e Maria Bonita; em seguida, depois da decapitação, deu-se a verdadeira caça ao tesouro dos cangaceiros, desde as jóias, dinheiro, perfumes importados e tudo mais que tinha valor foi alvo da rapinagem promovida pela polícia.Depois de ter sido pressionado pelo ditador Getúlio Vargas, que sofria sérios ataques dos adversários por permitir a existência de Lampião, o interventor de Alagoas, Osman Loureiro, adotou providências para acabar com o cangaço; ele prometeu promover ao posto imediato da hierarquia o militar que trouxesse a cabeça de um cangaceiro. Ao regressarem à cidade de Piranhas as autoridades alagoanas decidiram exibir na escadaria da Prefeitura, as cabeças dos 11 cangaceiros mortos em Angicos. A macabra exposição ainda seguiu para Santana do Ipanema e depois para Maceió, aonde os políticos puderam tirar proveito o quanto quiseram do evento mórbido - a morte de Lampião e o pseudo-fim do cangaço no Nordeste foram temas de muitas bravatas políticas. LOCALIZAÇÃOO acampamento onde estava Lampião e seu grupo ficava na margem direita do rio São Francisco, no Estado de Sergipe, município de Poço Redondo. A gruta de Angicos está situada a 1 km da margem do Velho Chico e estrategicamente favoreceu ao possível ataque da polícia alagoana. O local do acampamento é um riacho temporário que na época estava seco e a grande quantidade de areia depositada formava um piso excelente para armar o acampamento. Mas, por ser uma grota, desfavorecia aos cangaceiros que estavam acampados embaixo. DE VIRGULINO A LAMPIÂOVirgulino Ferreira da Silva nasceu no município de Serra Talhada, em Pernambuco, e se dedicou a várias atividades: vaqueiro, almocreve, poeta, músico, operário, coreógrafo, ator, estrategista militar e chegou a ser promovido ao posto de capitão das forças públicas do Brasil, na época do combate à Coluna Prestes, no governo de Getúlio Vargas.Sua infância foi como a de qualquer outro menino nascido no sertão nordestino; pouco estudo e muito trabalho desde cedo. Ainda menino, Virgulino recebe de seu tio um livro da biografia de Napoleão Bonaparte o que vai permitir a introdução de várias novidades desde o formato do chapéu em meia lua, algo inexistente até a entrada de Lampião no cangaço, até a formação de grupos armados e passando por táticas de guerra. O jovem Virgulino percorreu todo o Nordeste, do Moxotó ao Cariri, comercializando de tudo pelas cidades, povoados, vilas, sítios e fazendas da região - ele vendia bugigangas, tecidos, artigos em couro; trazia as mercadorias do litoral para abastecer o sertão. Na adolescência, por volta dos 19 anos, Virgulino trabalhou para Delmiro Gouveia transportando algodão e couro de bode para a fábrica da Pedra, hoje município homônimo do empresário que o fundou.As estradas eram precárias e o automóvel algo raro para a realidade brasileira do início de século XX; o transporte utilizado por esses comerciantes para chegarem aos seus clientes era o lombo do burro. Foi daí que Virgulino passou a conhecer o Nordeste como poucos e esta fase de sua adolescência foi fundamental para a sua permanência, durante mais de vinte anos, no comando do cangaço.E O QUE MUDOU?O cangaço foi um fenômeno social bastante importante para a história das populações exploradas dos sertões brasileiros. Existem registros que datam do século XIX e que nos mostram a existência deste fenômeno por mais ou menos dois séculos. O cangaço só se tornou possível graças ao desinteresse do poder público e os desmandos cometidos pelos coronéis e pela polícia com a subserviência do Estado. O sertão nordestino sempre foi tratado de forma desigual em relação à região litorânea, e o fenômeno da seca sempre foi utilizado para manutenção dos privilégios da elite regional. O fenômeno social do cangaço não deixa de ser uma reação a este modelo desumano de ocupação do território brasileiro, e à altíssima concentração de renda e de influência política. O governo brasileiro nunca ofereceu os direitos básicos, fundamentais aos sertanejos; o Estado jamais ofereceu educação, saúde, moradia, emprego o que tornou a sobrevivência no sertão complicada; o único braço estatal conhecido na região é a polícia, que, como sabemos, age na defesa do “status-quo”, é prepotente e intimida.O poder dos coronéis do sertão era o que prevalecia em detrimento dos direitos fundamentais da população. A economia sertaneja era basicamente a criação de gado para o suprimento do país, a carne do sertão abastecia os engenhos de açúcar e as cidades do Brasil. O sertão historicamente foi ocupado com a pecuária.Passado 68 anos a realidade do sertão nordestino não mudou muito; o cangaço se foi e no lugar surgiram pistoleiros de aluguéis que moram no asfalto; e os coronéis de antigamente hoje estão espalhados e infiltrados nos três poderes, gozando de foro privilegiado. A seca ainda vitima milhões de sertanejos, que continua sendo tratada da mesma forma assistencialista do passado. Finalmente, a corrupção continua a mesma; mudaram os personagens e a moeda. E, infelizmente, a impunidade que também é a mesma de muito antes do cangaço.
Por: Aprígio Vilanova · Maceió (AL)
Texto publicado originalmente em 03/10/06 no Overmundo.
Créditos das fotos:Internet
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COMENTÁRIO> JC :
"Outros Lampiões ficaram..."
Um texto denso que nos diz muito acerca do 'Che Guevara dos sertões'.
De fato, Lampião e sua gente, malgrado toda polêmica que os envolve, foram também vítimas e protagonistas de uma realidade social quase catrastrófica por que (passou) e passa os sertanejos até os dias atuais. O cangaço foi portanto um produto do meio. Um fenômeno social e sociológico resultante de uma série de contradições e agruras impostas aos irmãos nordestinos. Vários outros Lampiões permanecem ainda hoje, ainda mais cruéis porque diferentemente do passado agem agora em vários novos estratos da sociedade e dos poderes sob os beneplácitos da das elites e os arrepios das leis...
Parábens ao autor pela beleza de texto.
Prof. José Cícero
Aurora-CE.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Estradas: A buraqueira que nos cabe e estamos dentro

Por: José Cícero

Era uma vez uma estrada.
Algo que nos proporcionava alegria
E às vezes até esperança porque era sinônimo de futuro
E de progresso: BR-116
Rodovia pomposa conhecida, famosa - Santos Dumont.
Uma vontade forte de avançar, seguir sempre em frente.
A estrada era como se fosse artérias e veias
A irrigar toda a vida da nossa sociedade.
Uma estrada que nos ligava ao mundo
assim como ao nosso próprio sonho de grandeza.
Uma promessa firmada com o encontro possível.
Que agora, não passa de um buraco gigante
a instigar nossa raiva e nossa (des)confiança.
Um atentado. Um grito silencioso de protesto.
Uma vergonha explícita. Uma afronta...
Um desrespeito a toda sociedade cearense
E do Cariri em especial.
Uma tácita declaração de que paciência tem limite.
Quem ver e passa nas nossas estradas hoje,
não se sentirá parte dela como dantes.
É como se estivéssemos sobre o solo lunar
Sequer com a presença de São Jorge no seu cavalgar.
Se é verdade que governar é construir estrada;
Estamos todos sob o regime de Bakunin.
Somos para o todo e sempre seres ingovernáveis.
Nossas estradas é um câncer em acelerado processo de evolução.
Uma praga a ferir de morte todo o nosso bom senso.
Uma evidência concreta de que o povo
Ainda permanece no extenso rol dos esquecidos.
Enquanto isso, eles, os políticos, preferem o avião.
Ora bolas, para que serve o povo?!
O povo só presta para votar?
Ano que vem tem mais eleição.
E as estradas devem permanecer assim: uma lástima.
Um testemunho vivo, em carne e osso,
Do péssimo tratamento dado à população.
Porém com elas, eles tentarão justificar seu peditório
resta saber se serão ouvidos e atendidos.
E se o forem, o problema não mais serão com eles.
Um país que não trata bem suas estradas
Esquece dos seus habitantes.
Não pode sonhar com a utopia de se sentir grande, livre, soberano
E, tampouco moderno.
Um país que não trata com zelo suas rodovias;
É como se estivesse o tempo todo de costas para sua gente.
Um país sem estrada é uma nação fadada ao atraso.
A buraqueira onde o dia existiu uma estrada
Agora é uma prova inconteste
da nossa incapacidade de se indignar.
Os buracos das nossas estradas é um aleijão
Que nos impossibilitar do eterno caminhar e de pensar grande.
Um tacão, uma algema, uma prisão.
Algo que vai de encontro ao próprio direito de ir e vir.
Um país sem estrada,
promove um atentado contra a cidadania.
Um ato a sufocar a própria democracia e o estado de direito.
Uma chaga aberta, sangrando.
Um desrespeito sem tamanho.
Um estupro a nossa inteligência e liberdade.
A buraqueira é a mentira estampada
Como em outdoors a se espalhar por nossa cara
Mostrando-nos enfim, o quanto somos lenientes,
indiferentes, insensíveis às grandes causas sociais.
Quem precisa usar nossas estradas, hoje,
Como lida cotidiana e meio de vida
está desde muito, submetido a uma via-crúcis das mais penosas.
Além de ter que enfrentar outros males perigosos
Como assalto, acidentes, prejuízos financeiros com os veículos,
bem como até mesmo a política propina viciada...
Ou não podemos falar sobre isso?
Mas todos sabem do que estou falando.
A propina é uma prática antiga nas nossas estradas...
Uma política literalmente institucionalizada.
A que os motoristas passaram a encarar como normal.
Se não tivesse desmantelado o transporte ferroviário
Quem sabe o fantasma da buraqueira pudesse ser amenizado.
Mas não. O transporte rodoviário é um compromisso com o lobby
Dos poderosos do setor.
O setor rodoviário gera votos e garante
a manutenção e permanência de muitos que estão lá em cima,(no céu de brigadeiro)
batendo no peito se dizendo representantes dos oprimidos.
O que temos agora é apenas um buraco, quanto muito, cheio de caminhos.
Mas, perguntemos: a quem pode interessar tudo isso?
Por que o descaso explícito?
Ao povo sabemos que não interessa este caos.
Os buracos das estradas precisam está presentes
No palanque em 2010 pedindo votos de novo.
O buraco é um atestado da nossa incompetência bizantina.
Da nossa insensibilidad, da nossa conivência.
Da nossa calma, da nossa (des)importância.
Da nossa absoluta falta de poder, consideração,
Vez e voz junto aos potentados do poder.
O buraco das estradas é uma ferida em carne viva.
Gangrenando a nossa capacidade de protestar e de reagir.
O buraco é todo projeto dos governos que não nunca saem do papel.
O buraco é o tratamento de choque dado ao povo
Como um permenente exercício de paciência.
Uma indecência, um crime, um roubo, um estelionato eleitoral.
Um crime hediondo, um sacrilégio, um atestado de incompetência.
Será que estão querendo um pretexto para entregar nossas estradas
Ao setor privado? Às aves de rapina da economia brasileira?
De olho no nosso parco dinheiro?
Será que estão querem usá-las como moeda de troca nas eleições que se avizinham?
Como se ver, todo cuidado é pouco.
Precisamos enxergar tudo isso nas entrelinhas
Antes que seja tarde.
Boas estradas não é caridade para com o povo. Porém um direito.
O mínio que o governo pode e deve fazer pela sociedade que o elegeu e sustenta.
Uma estrada de qualidade será sempre o fiel retrato da nação
e, sobretudo, a cara de quem a governa.
Que os políticos coloquem os pés no chão do nosso interior.
Que os políticos olhem para baixo.
E quem sabe consigam avistar as formiguinhas na sua faina da sobrevivência.
Que enxerguem o óbvio. Pois a estrada agora é vicinal...
Negra é a inteligência e a visão de todos eles.
Todo o progresso depende necessariamente das nossas estradas melhoradas.
Não tê-las é simplesmente aceitar a realidade do atraso,
Incompetência e malversação dos nossos impostos e dos recursos públicos.
Os buracos das nossas estradas se parecem a cada dia,
Com os discursos fisiológicos dos nossos políticos carreiristas.
Nossas estradas só servem hoje para os aviões dos magnatas do poder e do capital.
Os buracos das estradas é a prova de uma nação fragilizada
e que não tem ( e nem demonstra) compromisso com o futuro.
Um crime, um delito cometido contra cada cidadão.
Portanto, um crime de responsabilidade. Um agravo à sociedade.
Queremos estrada como um direito elementar dos que ainda acreditam nos políticos
Assim como na perspectiva de um futuro de progresso e desenvolvimento para o Brasil...
Quem casa, quer casa. Quem viaja e sonha, quer estrada.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Aurora e Lampião: objetos ou Sujeitos da sua própria história?

Por: José Cícero


Por mais de uma vez, Virgulino Ferreira da Silva, Lampião – o rei do cangaço - estivera no município de Aurora. É certo pensar que algum motivo de caráter superlativo atraíra o célebre bandoleiro pernambucano para as terras aurorenses. Senão, por que a redundância das vezes que esteve em visita e em descanso na ribeira salgadiana? O que lhe atraia tanto para este município? Eis a pergunta que não quer calar...Vale lembrar que Lampião estivera em Aurora dois anos antes(1925) com passagem pelo Tipi, Monte Alegre, Catingueira e Taveira. Outras datas ainda carecem de registros mais apurados, todavia ocorreram de forma discreta, posto que não tiveram a devida repercussão em face da ausência de outros confrontos tal qual o de junho/julho 1927.
No entanto, uma das vezes mais notória aconteceu no início de junho de 1927 quando na Ipueiras de Zé Cardoso, sobrinho do conhecido Izaias Arruda, então coiteiro de grande confiança de Lampião. Lá foi onde se deu toda a logística e trama para o malfadado e famoso ataque a Mossoró-RN, na época, considerada a segunda maior cidade do interior daquele estado. Fato ocorrido no dia 13 de junho de 1927 às 16 horas.
De Aurora o bando levaria, além de um otimismo exagerado, farta munição desviada por Izaias dos chamados “Batalhões Patrióticos” criado durante o governo Artur Bernardes para o combate à Coluna Prestes. O fruto do assalto ao Banco do Brasil de Mossoró seria dividido entre os três empreendedores da Ipueiras. De cara Izaias já recebera trinta e cinco contos de réis pelo armamento fornecido. Como se nota, não era um investimento de risco.
O retorno do Rio Grande do Norte para Aurora se deu por absoluto instinto de sobrevivência... Vez que com o malogrado ataque a Mossoró, Lampião e seu bando sofreram um revês dos mais humilhantes e significativos. Estavam acuados e em frangalhos. Várias baixas foram sentidas, tanto no aspecto moral quanto no seu poder de fogo, posto que o seu quantitativo de confronto ficou seriamente comprometido, notadamente pelas deserções que se seguiram, a começar pelo grupo de Massilon. Não houve escolha. Aurora lhes daria arrego. Afinal, aqui deixara, além de amigos; coiteiros fidedignos. Deve ter pensado Lampião quando foi acossado pelas saraivadas das balas mossoroenses e seguidamente durante os confrontos com as volantes interestaduais. Porém a invencibilidade de Lampião ainda estava à prova. Com pouco mais de 30 homens ele enfrentara um contingente de 300 praças do RN, Limoeiro até o solo caririense. E ainda teria a sua espera em Aurora cerca de 87 jagunços do coronel e mais de 150 praças oficiais em várias emboscadas que se seguiram.
Depois deste episódio Lampião e sua hoste nunca mais seria o mesmo. Perdera uma das suas mais importantes qualidades: o respeito, além da sua famigerada invencibilidade. O medo começava a partir dali, a vencer a auto-confiaça de um grupo inteiro, menos a do seu líder. Era ele um exemplo da persistência e da coragem em pessoa. Mesmo após ter perdido os valentes Jararaca, Colchete e Xexéu, Lampião ainda se mostrava impávido. A morte rondava os cangaceiros como um fantasma danado. Um cão sardento a seguir os passos do bando nos grotões cearenses. O moral do pequeno grupo estava ao nível do chão. E Lampião do alto da sua inteligência e experiência sentia exatamente isso nas suas entranhas e sentimentos. À pulso tentava esconder tudo isso por trás do seu gesto guerrilheiro. Não transparecia para os seus comandados nada que se parecesse negativo para a auto-estima do seu pessoal. Sua valentia era de um leão enfurecido abrindo passagem a todo custo em plena caatinga do Ceará. Por quase um mês os cangaceiros foram perseguidos desde o ataque à Mossoró até o município de Aurora e a Paraíba. Foram combates sangrentos quase sem trégua o que exigia dos “jagunços” uma resistência sem limite. Acuados por várias frentes de batalha, Lampião teve que agir rápido. O jeito foi derivar para os lados do Cariri com os pensamentos voltados para Aurora como verdadeira tábua de salvação. E em 1º de julho adentraram os limites aurorenses pelo vizinho município de Lavras da Mangabeira na altura do sítio Olho d’água das Éguas na serra da Várzea Grande. Após um pequeno descanso, o bando segue pelo Bordão de Velho e Malhada Funda onde todos se alimentam. Um boi e três ovelhas são sacrificados para a alimentação dos cangaceiros que há dias não sabiam o que era comer com fartura e tranqüilidade. A fome e a sede agora, não era mais problema.
O ataque a Mossoró
O mito do rei do cangaço começava ali, nas plagas norte-riograndense a desmoronar. A evidenciar os primeiros sinais da sua fragilidade, da sua exaustão, até então desconhecida para os que se sentiam donos absolutos de uma situação, bem como de uma terra onde a lei, quando se supunha que existisse, estava sempre a serviço dos mais fortes. Nunca em favor dos oprimidos e injustiçados pela vida e pela sorte.
O governo, a volante e os povos dos sertões adentro, começava também a se darem conta de que as investidas, assim como a própria existência do Lampião podiam ser barradas, combatidas de igual para igual. Teriam um basta. Um fim. A depender da coragem e da ousadia dos homens comuns, de carne e osso do próprio sertão até então, ao Deus dará. Neste conflito as gentes dos sertões pagaram um preço dos mais altos. Foram a um só tempo, protagonistas e vítimas de um corolário de injustiças cometidas por ambos os lados. Há quem diga, inclusive, que em alguns casos, mais por parte dos policiais do que dos próprios bandoleiros cangaceiristas. A narrativa do cangaço não pode ser expressa pelo prisma nem tanto dos anjos e tampouco pelos dos demônios. Haja vista ter sido toda ela uma construção cotidiana alicerçada pela condição humana em meio a ignorância, a estupidez, a ganância, os equívocos e a fragilidade sentimental do gênero humano.
Por conseguinte, Aurora, como se ver, parece não ter dado muita sorte aos propósitos lampiônicos. Mesmo se sabendo que não era a intenção precípua do famoso cangaceiro invadir a urbe de Mossoró. Tudo foi idéia do Massilon Leite. Um pseudo-estrategista que até então conquistara a admiração e o respeito do rei do cangaço não por muito mérito, mas pela suas invencionices mirabolantes. Coisas que o rei o capitão Virgulino pensava ser verdade. Depois por uma série de embuste e mania de grandeza. Massilon não passara de um bom falastrão. Um homem cuja lábia o servia muito mais que a própria arma e ousadia. Um fino observador das estradas e da vida dos coronéis, vez que era, além de bandoleiro, também almocreve. Um propagandista de mão-cheia, que sempre que podia usava o recurso da linguagem exagerada e, portanto, nem sempre verdadeira, mas em favor dos seus interesses lucrativos. Um homem cuja capacidade inventiva atraíra até o próprio Lampião – um cético em potencial que costumava por princípio desconfiar da sua própria sombra. Mas foi assim. A leitura falsa e florida que Massilon fizera de Mossoró foi uma verdadeira peça teatral para a qual Lampião e sua turma não estava suficientemente preparada para absorver com as devidas nuances da verdade. Faltou o princípio da precaução. A devida avaliação objetiva dos fatos. Uma análise estratégica da investida. O suposto Eldorado traçado maquinalmente por Massilon inebriou a todos, qual cachaça envelhecida em túnel de cedro. Ao ponto de Lampião e seus comandados anteciparem o prazer daquela que seria (na cabeça de todos eles) uma vitória fácil. Favas contadas... Mais uma a ser colocada no rol da fama do nobre capitão. Mas, ao que tudo indica, Massilon sabia que não era assim. Por algum motivo ainda não devidamente explicado e conhecido, o fez jogar seu amigo Lampião com sua gente numa verdadeira armadilha. O desiderato de se atacar Mossoró e adjacências foi, por assim dizer, um clássico caminhar de mocós em direção a tábua do forjo. Um fiasco com todas as letras, como o bando jamais havia executado. E Lampião, mesmo com sua cartilha do ‘confiando desconfiando’, seguiu com seu bando como gado a caminho do matadouro. E Massilon era em suma, o condutor em potencial desta boiada suicida. Resta saber com que interesse Massilon engendrara tal empreitada insana. Um projeto que já soara fracassado deste o princípio. Estava ele mancomunado com os interesses do Governo? Queria passar a perna em Lampião? Receber algum tipo de recompensa e, em seguida tentar ocupar seu lugar na história do cangaço nordestino? Estava a serviço do Cel. Izaiais Arruda que almejava consolidar seu apoio político junto ao governador e ao mesmo tempo obter lucros financeiros com a derrota de Lampião? Por que estaria pulsilanimente enviando Lampião para o cadafalso? O que ganharia com tal propósito? Que ligação teve ele, com a célebre tentativa de envenenamento de Lampião e seu bando, dias depois em Aurora, durante um banquete oferecido graciosamente como noutras vezes no sitio Ipueiras, propriedade de Izaiais? Como se percebe toda uma trama envolvia os fatos que em seguida ocorreram. Acontecimentos que até hoje, ainda não foram devidamente explicados.
A Traição para com o rei do cangaço
De fato, na história do cangaço não era possível a construção duradoura de amizades sólidas. Amigo era quase sempre um artigo que tinha vida efêmera. Não eram amigos apenas cúmplices. Um jogo de interesse que transcorria ao sabor dos acontecimentos. Era um eterno andar sob areia movediça. A lógica dos fatos nos apontava isso. A começar pela maneira como terminou a grande relação de amizade que(supostamente) existia entre o rei do cangaço e o Cel. Izaias – um dos maiores coiteiros que Lampião mantinha a peso de ouro nestas bandas dos sertões do Cariri cearense. Sim. Nada era de graça quando se envolvia com os negócios lucrativos do cangaço guiado na maioria das vezes pela teoria macabra do roubo e da pilhagem.
Tanto que em Aurora, Lampião se sentia como que em casa. Com um ingrediente a mais: aqui ele se sentia seguro e em plena mordomia, em face dos verdadeiros banquetes que lhe eram oferecidos pelos potentados do lugar. E não diga que era apenas da parte do famoso coronel. Isso não. As regalias assim como os presentes dispensados aos bandoleiros iam muito além dos préstimos oferecidos pelo Sr. Izaias Arruda. Aqui nas terras aurorenses, Lampião parecia mais querido que odiado. Não se sabe se por temor ou pura admiração dos seus feitos cantados e decantados pelo Nordeste adentro. O certo é que em Aurora Lampião promoveu seguidores ao passo que verdadeiros bandos nasceram e atuaram anos a fio por estas ribanceiras. Inclusive de jagunços sanguinolentos, como verdadeiras milícias profissionais à serviços dos coronéis do latifúndio. Basta dizer que do subgrupo de Massilon muitos eram naturais d’Aurora principalmente da região das Antas tais como: Zé de Lúcio( o Três Pancadas), José de Roque e Zé Cocô, só para citar alguns. Um outro pequeno grupo tivera a participação do famoso Róseo Fidélis das bandas da Ingazeiras.
Contudo, mesmo desconfiado como era sua praxe, Lampião nunca esperaria uma traição que viesse dos seus amigos das Auroras. Estava redondamente enganado. O tempo não tardaria a lhe provar o contrário em três grandes momentos distintos. A estratégia traçada aqui para a invasão de Mossoró, o ataque da volante sofrido no sítio Ribeiro e o suculento banquete(envenenado) oferecido na Ipueiras – fazenda-vivenda pertencente a José Cardoso, parente do famoso coronel Izaiais Arruda que terminaria com um cerco policial e o ato incendiário ao bando de Lampião.
Mas, de certa forma Lampião com sua perspicácia saíra quase incólume de todas elas. Não totalmente ileso, mas salvara a sua vida e dos seus próprios apaniguados no seu conjunto(com pouquíssimas baixas). Uma saída possível do cerco da Ipueiras onde tombou o cangaceiro Xexéu. As baixas que tiveram foi o preço mínimo que pagara para não sofrer uma derrota ainda mais completa e humilhante. A fome, a sede, o cansaço, a falta de munição e o verdadeiro desmantelamento dos armamentos. Tudo isso somado redundou no enfraquecimento e quase fim do bando lampiônico naquele momento singular na história de Virgulino Ferreira. Seu know-how de homem estrategista ajudara a escapar de todas as armadilhas e confrontos com as volantes, mas o batera sensivelmente. Lampião não estava preparado para a derrota. Neste sentido Mossoró e Aurora comprometeram para sempre os sólidos princípios da velha ousadia do cangaço lampiônico.
A estratégia genial de Lampião na geografia da caatinga
No dia 7 de julho saíram às pressas da Ipueiras. O ziguezague que a partir dali realizou no território aurorense foi algo só digno a um profundo conhecedor da nossa caatinga. Na sua segunda marcha, Lampião seguiu na direção do Sudeste, Serra do Coxá, Ingazeiras. Após a traição de Ipueiras Lampião seguiu para a serra do Góes já na divisa com Caririaçu indo pelas bandas do Pau Branco atravessando o Salgado na altura do sítio Barro Vermelho, passando pelo Jatobá, Brandão e pernoitando em Vazantes. De lá se dirigiu para a serra dos Quintos e no dia 9 para a serra dos Góes adentrando o município de Milagres transpondo a linha de ferro na localidade de Morro Dourado ainda em Aurora. Uma volta que envolveu todo o perímetro do território aurorense. Esta estratégia deixou completamente perdidos os que lhe caçavam a ferro e fogo. Dali conseguiu penetrar sem ser incomodado no estado da Paraíba pela a serra de Santa Inês. Um fino estrategista militar. Dera um banho de conhecimento geográfico e topográfico nas diversas frentes policiais que tentaram cercá-lo no Cariri e alhures, sobretudo nas saídas para Paraíba e Pernambuco. Este tino de rasgar os sertões com exímia perícia era uma coisa admirável no ‘Che Guevara’ dos grotões nordestinos. Foi um notável também neste aspecto. Esta capacidade talvez, o tenha ajudado bastante nas incursões que fizera com sucesso durante os anos que se aventurou pelas íngremes e inóspitas regiões do Nordeste. Lugares que até então, nenhum cristão da capital havia posto os pés e nem sequer ouvido falar. Porém por conta de Lampião, estava lá nos jornais da época, na pauta dos governos na boca da sociedade, malgrado a crítica contra ou a favor do Virgulino. Por tudo isso, o cangaço ajudou de alguma maneira, a denunciar o sofrimento dos sertanejos abandonados pela sorte e pelo poder e a excludência social numa época em que o Brasil quase sempre não passava do Litoral.
Lampião e sua admiração por Aurora
Mas digamos que o Cariri no geral e Aurora em particular conquistaram a admiração e o apreço do bandoleiro. Mas a propósito, quais as motivações que o levaram a isso? A figura afamada do padre Cícero do Juazeiro? O difícil acesso das volantes? O quase isolamento geográfico? Mas, a estrada de ferro? O rio Salgado? A truculência dos coronéis? A fome, a miséria e a seca?
Há que se destacar a proteção do temível coronel Izaias e sua ligação política como prefeito de Missão velha? Até armeiro consagrado o rei do cangaço possuía por aqui. Sem dúvida, o rei do cangaço mantinha uma autêntica relação afetiva com Aurora e boa parte desta região. Amigos, conforme a sua perspectiva...
Místico e religioso foi aqui que certa feita escolhera para sua suposta iniciação ao grupo dos Penitentes da Ordem Santa Cruz. O propalado mito de que Lampião se encantava, ficava invisível, tinha o corpo fechado, começou nas paragens aurorenses. Vez que passara algumas vezes por meio da própria volante, sob a proteção dos seus “irmãos” da Ordem. Como dizem, um destes fatos inusitados ocorrera durante o cerca e o ataque que sofrera no sítio Ribeiro da Aurora. Porém, o mistério continua... O certo, no entanto, é que Aurora ocupou um lugar de destaque na rica história do cangaço lampiônico. E isso precisa ser resgatado, pesquisado, contado e reescrito para que as novas gerações possam conhecer no devido grau de importância histórica este verdadeiro fenômeno social e sociológico dos nossos sertões.
Aurora e Lampião: uma história que não pode morrer
Não nos enganemos de novo. Digamos se tratar de uma nova luta: desta feita, não apenas da memória contra o esquecimento total, como se de chofre possa se imaginar pelo os menos atentos ou desavisados. Mas, a história narrativa dos que não apenas a escreveram como história oficial e, ainda a defendem com unhas e dentes, como a saga escritas ao sabor dos vencedores. Isso não. Defendamos a história da autenticidade: como ela foi e como ela é. A história verdadeira dos que fizeram parte dela sofreram com ela, protagonizaram-na em toda sua inteireza, enfim, foram não somente objetos, mas, principalmente sujeitos dela. E Aurora, indubitavelmente foi e será sempre, sujeito da sua própria história.
Geralmente a história escrita pelos vencedores nem sempre pode ajudar ao serviço da verdade. O cangaço assim como as passagens de Lampião pelas terras aurorenses não podem fugir a esta regra deveras imutável.
(*) artigo especialmente produzido para o seminário Cariri Cangaço.

domingo, 5 de julho de 2009

Sobre JOSÉ CÍCERO, do Prof. Luiz Domingos

(...) editor da Revista Aurora, Blog de Aurora, Blog do José Cícero, editor colaborador do site da Prefeitura Municipal, autor dos livros: Ecos da Saudade, Enxada foice e suor, professor com lotação na Escola de Ensino Fundamental e Médio Monsenhor Vicente Bezerra, representou Aurora por mais de dez anos como correspondente dos sites do Ceará, blogs e jornal de circulação estadual ‘Diário do Nordeste’, escreve para revistas especializadas de UFOLOGIA, alguns de seus trabalhos foram pontos de discussão na Câmara Municipal de Fortaleza, dada a importância do assunto em pauta.Presidente do PC do B do Município de Aurora. Fundador e editor do jornal Enfoque Municipalista.
Fundador e Editor da Revista Aurora, (revista de caráter histórico e científico). No ano de 1990 começou a construir o Acervo Cultural de Aurora com verdadeiras relíquias sobre a cidade de Aurora no Ceará, seja em relatos, ou fotografias, é presença marcante na cultura, na literatura e história de Aurora.Estudioso e pesquisador do maior poeta aurorense Francisco Leite Serra Azul - Serra Azul, descobridor e difusor de o Auto de Canudos’(1812) conhecido na linguagem laica como ‘Cemitério da Bailarina, tendo inclusive, uma vasto acervo sobre esta maior relíquia histórica Eclesiástica do Cariri cearense, faltando-lhes ainda comprovação científica, dado a propriedade em localização pertencer a uma reforma agrária feita pelo Governo do Estado em distribuição de lotes a 12 famílias que têm a posse do famoso "Campos Santo" no sitio Carro Quebrado - em Aurora.Estudioso e pesquisador do Geopark Cariri no sítio Massalina-Viva, local onde se encontram pegadas possíveis de dinossauros que faziam o percurso da Cidade de Santana do Cariri - Ceará ao alto sertão na Paraíba no Município de Sousa; Continuando assim, as pesquisas do grande fotógrafo e pesquisador da Massalina Januário Antonio de Macedo.(Sitio Cabrito - Aurora.)
Pesquisador do Cangaço em Aurora, juntamente com o professor Francisco Pereira Lima-PB conseguiram junto a Oralidade perdida a introdução do rei do Cangaço na ordem Sta. Cruz no dia 03 de junho de 1927.Descobridor do Túmulo da Filha do Coronel Francisco Xavier de Souza{fundador de Aurora} Ce. Xavier; localizado no sítio Tunga meses Antes do falecimento do proprietário deste tesouro histórico, o Sr. Vila Gonçalves. Difusor em Aurora, depois de Inúmeras pesquisas, que o nome Aurora foi um relato do Poeta Serra Azul para a rima do poema Aurora – “antiga venda” do poeta e filho ilustre de Aurora - Serra Azul.Descobridor do local onde falecera um dos filhos de Bárbara de Alencar localizado no sítio Saco sendo, inclusive objeto de estudo para comprovação científica. ( Sitio Saco - Aurora.)
Dirigiu por vários anos a rádio Comunitária AURORA FM 97.Descobridor de "contatos imediatos" assunto ainda em sigilo, devido a abdução de uma senhora ser algo traumático para a referida.(Sítio olho d’água neste município) matéria publicada na Revista especializada UFO.
Depois de vários meses de luta conseguiu trazer a cidade de Aurora o já famoso fotógrafo paraense, Guy Veloso, para a cobertura dos penitentes de Aurora na exposição da Alemanha do projeto fé e febre com lotação completa nos museus da Europa.
No Ano de 2008 a Câmara municipal de Aurora na pessoa do então vereador Antonio Gonçalves Landim fez indicação de seu nome para a outorga do titulo de Cidadão Aurorense, obtendo a aprovação por unanimidade(...)
Atualmente à frente da pasta de Secretaria de Cultura, Desporto e Turismo da cidade de Aurora tem feito inúmeras viagens a fortaleza no sentido de conseguir o tombamento do Primeiro prédio erguido na cidade de Aurora - o sobrado do Cel. Francisco Xavier de Souza, fundador da cidade, erguido no ano de 1831.Tem travado uma verdadeira batalha junto as autoridades do Estado para a construção do Centro de Expansão da Fé à Santa Popular de Aurora - Mártir Francisca, que inclusive o terreno já foi doado pelo governo do estado para a construção do horto de Mártir Francisca e de casas pulares no sítio Padre Mororó; que será o maior ponto turístico religioso da Terra do Menino Deus. A doação do terreno foi feita ainda na gestão anterior, porém a luta de José Cícero já remonta décadas.Tem um projeto de integração dos artesãos, contistas, poetas, violeiros, ativistas culturais que , na prática, revolucionará a história da cultura popular de Aurora.
Junto com o Dr. Arimatéia Macedo está elaborando o estatuto da Academia de Letras e Ciências de Aurora, em oportuno, enviará a Câmara Municipal para apreciação e aprovação.Por isto e por muito mais, é que Aurora agradece ao filho de Missão Velha que deixou sua Missão Velha e, na nova missão na Terra de Aldemir Martins e Nego Simplício- NÊGO, a construção do maior celeiro cultural, histórico e literário na sua nova missão - Aurora em missão cultural.
Por: Luiz Domingos de Luna
em 01 de Junho de 2009.
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sábado, 4 de julho de 2009

FESTAS: Escolas prosseguem com comemorações juninas




As comemorações juninas prosseguem em todo o município de Aurora através de escolas da rede de ensino estadual e municipal. Na noite de sábado, dia 4 as festividades aconteceram no colégio Romão Sabiá do bairro Araçá, quando ocorreu a apresentação da quadrilha mirim “O canto do Sabiá” campeã de 2009 na sua categoria do I Festal Junino. Aconteceu ainda: desfile das rainhas, instalação de barracas com comidas e bebidas típicas e show de forró com a banda local Forró Xoteado na quadra da escola. Várias autoridades convidadas estiveram presentes como padrinhos, além de secretários municipais, vereadores, professores, alunos e a comunidade em geral. Na oportunidade o prefeito Adailton Macedo que esteve viajando a trabalho, foi representado pelo Vice Antonio Landim.
Comemorações por todo o mês de julho:
O colégio Estadual José Pinto Quezado e da Unidade Escolar do sítio Mocó também realizaram o seu Arraia na mesma noite. Anteriormente na sexta-feira, foi a vez do colégio Monsenhor Vicente Bezerra. Dia 11 as comemorações acontecem no Antonio Amâncio do distrito do Tipi. A programação consta de apresentações de quadrilhas, barracas de comidas típicas, fogueiras e forró de pé-de-serra. Momento em que comunidade, estudantes e funcionários de vários estabelecimentos de ensino se reúnem num bonito e animado ato de verdadeiro congraçamento sócio-festivo para exaltar o que há de melhor nas manifestações da cultura popular de Aurora e do Nordeste como um todo. Nosso município em rico na sua cultura popular e nossa gente admira e participa de todos os momentos festivos, por isso é importante valorizar o nosso folclore e a nossa tradição, explica o vice-prefeito Antonio Landim.