sexta-feira, 10 de julho de 2009

Estradas: A buraqueira que nos cabe e estamos dentro

Por: José Cícero

Era uma vez uma estrada.
Algo que nos proporcionava alegria
E às vezes até esperança porque era sinônimo de futuro
E de progresso: BR-116
Rodovia pomposa conhecida, famosa - Santos Dumont.
Uma vontade forte de avançar, seguir sempre em frente.
A estrada era como se fosse artérias e veias
A irrigar toda a vida da nossa sociedade.
Uma estrada que nos ligava ao mundo
assim como ao nosso próprio sonho de grandeza.
Uma promessa firmada com o encontro possível.
Que agora, não passa de um buraco gigante
a instigar nossa raiva e nossa (des)confiança.
Um atentado. Um grito silencioso de protesto.
Uma vergonha explícita. Uma afronta...
Um desrespeito a toda sociedade cearense
E do Cariri em especial.
Uma tácita declaração de que paciência tem limite.
Quem ver e passa nas nossas estradas hoje,
não se sentirá parte dela como dantes.
É como se estivéssemos sobre o solo lunar
Sequer com a presença de São Jorge no seu cavalgar.
Se é verdade que governar é construir estrada;
Estamos todos sob o regime de Bakunin.
Somos para o todo e sempre seres ingovernáveis.
Nossas estradas é um câncer em acelerado processo de evolução.
Uma praga a ferir de morte todo o nosso bom senso.
Uma evidência concreta de que o povo
Ainda permanece no extenso rol dos esquecidos.
Enquanto isso, eles, os políticos, preferem o avião.
Ora bolas, para que serve o povo?!
O povo só presta para votar?
Ano que vem tem mais eleição.
E as estradas devem permanecer assim: uma lástima.
Um testemunho vivo, em carne e osso,
Do péssimo tratamento dado à população.
Porém com elas, eles tentarão justificar seu peditório
resta saber se serão ouvidos e atendidos.
E se o forem, o problema não mais serão com eles.
Um país que não trata bem suas estradas
Esquece dos seus habitantes.
Não pode sonhar com a utopia de se sentir grande, livre, soberano
E, tampouco moderno.
Um país que não trata com zelo suas rodovias;
É como se estivesse o tempo todo de costas para sua gente.
Um país sem estrada é uma nação fadada ao atraso.
A buraqueira onde o dia existiu uma estrada
Agora é uma prova inconteste
da nossa incapacidade de se indignar.
Os buracos das nossas estradas é um aleijão
Que nos impossibilitar do eterno caminhar e de pensar grande.
Um tacão, uma algema, uma prisão.
Algo que vai de encontro ao próprio direito de ir e vir.
Um país sem estrada,
promove um atentado contra a cidadania.
Um ato a sufocar a própria democracia e o estado de direito.
Uma chaga aberta, sangrando.
Um desrespeito sem tamanho.
Um estupro a nossa inteligência e liberdade.
A buraqueira é a mentira estampada
Como em outdoors a se espalhar por nossa cara
Mostrando-nos enfim, o quanto somos lenientes,
indiferentes, insensíveis às grandes causas sociais.
Quem precisa usar nossas estradas, hoje,
Como lida cotidiana e meio de vida
está desde muito, submetido a uma via-crúcis das mais penosas.
Além de ter que enfrentar outros males perigosos
Como assalto, acidentes, prejuízos financeiros com os veículos,
bem como até mesmo a política propina viciada...
Ou não podemos falar sobre isso?
Mas todos sabem do que estou falando.
A propina é uma prática antiga nas nossas estradas...
Uma política literalmente institucionalizada.
A que os motoristas passaram a encarar como normal.
Se não tivesse desmantelado o transporte ferroviário
Quem sabe o fantasma da buraqueira pudesse ser amenizado.
Mas não. O transporte rodoviário é um compromisso com o lobby
Dos poderosos do setor.
O setor rodoviário gera votos e garante
a manutenção e permanência de muitos que estão lá em cima,(no céu de brigadeiro)
batendo no peito se dizendo representantes dos oprimidos.
O que temos agora é apenas um buraco, quanto muito, cheio de caminhos.
Mas, perguntemos: a quem pode interessar tudo isso?
Por que o descaso explícito?
Ao povo sabemos que não interessa este caos.
Os buracos das estradas precisam está presentes
No palanque em 2010 pedindo votos de novo.
O buraco é um atestado da nossa incompetência bizantina.
Da nossa insensibilidad, da nossa conivência.
Da nossa calma, da nossa (des)importância.
Da nossa absoluta falta de poder, consideração,
Vez e voz junto aos potentados do poder.
O buraco das estradas é uma ferida em carne viva.
Gangrenando a nossa capacidade de protestar e de reagir.
O buraco é todo projeto dos governos que não nunca saem do papel.
O buraco é o tratamento de choque dado ao povo
Como um permenente exercício de paciência.
Uma indecência, um crime, um roubo, um estelionato eleitoral.
Um crime hediondo, um sacrilégio, um atestado de incompetência.
Será que estão querendo um pretexto para entregar nossas estradas
Ao setor privado? Às aves de rapina da economia brasileira?
De olho no nosso parco dinheiro?
Será que estão querem usá-las como moeda de troca nas eleições que se avizinham?
Como se ver, todo cuidado é pouco.
Precisamos enxergar tudo isso nas entrelinhas
Antes que seja tarde.
Boas estradas não é caridade para com o povo. Porém um direito.
O mínio que o governo pode e deve fazer pela sociedade que o elegeu e sustenta.
Uma estrada de qualidade será sempre o fiel retrato da nação
e, sobretudo, a cara de quem a governa.
Que os políticos coloquem os pés no chão do nosso interior.
Que os políticos olhem para baixo.
E quem sabe consigam avistar as formiguinhas na sua faina da sobrevivência.
Que enxerguem o óbvio. Pois a estrada agora é vicinal...
Negra é a inteligência e a visão de todos eles.
Todo o progresso depende necessariamente das nossas estradas melhoradas.
Não tê-las é simplesmente aceitar a realidade do atraso,
Incompetência e malversação dos nossos impostos e dos recursos públicos.
Os buracos das nossas estradas se parecem a cada dia,
Com os discursos fisiológicos dos nossos políticos carreiristas.
Nossas estradas só servem hoje para os aviões dos magnatas do poder e do capital.
Os buracos das estradas é a prova de uma nação fragilizada
e que não tem ( e nem demonstra) compromisso com o futuro.
Um crime, um delito cometido contra cada cidadão.
Portanto, um crime de responsabilidade. Um agravo à sociedade.
Queremos estrada como um direito elementar dos que ainda acreditam nos políticos
Assim como na perspectiva de um futuro de progresso e desenvolvimento para o Brasil...
Quem casa, quer casa. Quem viaja e sonha, quer estrada.

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