segunda-feira, 29 de março de 2010

Armando Nogueira: A poesia imorredoura do Futebol e da Notícia

Por José Cícero
Existem pessoas que mesmo não sendo nada da gente quando morrem produzem em nosso íntimo a mais das absolutas sensações de perda. Um sentimento de vazio extremo. Uma profunda saudade a nos invadir, como avalanche, a nossa própria alma como se estivéssemos em sobressalto constante.
Pelos menos é assim que acontece comigo.
Quem sabe o afloramento natural das nossas raízes ancestrais psicocógicas, sei lá... Como resquícios remanescentes das nossas mais latentes e intrínsecas ligações holísticas, espirituais, supra físicas como o cosmos, o universo em toda sua plenitude.... Comigo pelos menos é assim que ocorre.
Foi assim, por exemplo, quando fiquei sabendo pela TV do desencarne do renomado jornalista e comentárista esportivo Armando Nogueira.
Assim como tem acontecido com várias outras figuras, não apenas do Brasil que com seu talento quer seja intelectual, humanístico ou do beletrismo artístico de algum modo especial contribuem para o progresso humano e, por conseqüência para o melhoramento afirmativo do mundo.
São nestes momentos de perdas profundas, que a reflexão sobre a nossa existência e o mistério da morte reacendem em nós pobres mortais a necessidade de um melhor direcionamento das nossas ações em favor da vida e do próximo. Ocasião que os sentimentos de fraternidade e de solidariedade tocam fundo a nossa alma, coração e mente.
Ante a presença implacável da morte enxergamos nossa pequenez em sua dimensão mais forte e verdadeira. Porque é com a morte, como em vídeo-tape, que tentamos rever e reavaliar nossos momentos, nossas ações e hesitações, durante a nossa efêmera passagem pelo palco sombrio da vida; assim como toda a transitoriedade do nosso verdadeiro sentimento de se estar no mundo.
Porque é assim que verdadeiramente acontecer comigo. Isto é fato. E fato sendo reflito com a ligeira sensação de que estou igualmente à beira do meu momento findo. Porque todos os dias para nós, devem ser o último...
A notícia do falecimento de Armando Nogueira me tocara com aquela sensação estranha e lúgubre só experimentada pelos que de fato, perderam algo importante. Contudo, figuras como a de Armando Nogueira, não deveriam morrem nunca. Isso porque, de algum modo contribuíram efetivamente para o aprimoramento necessário do gênero humano.
Quem sabe por isso Guimarães Rosas sempre dissera que os grandes homens nunca morrem de verdade, eles apenas se encantam. Tomara que o mestre Armando não tenha morrido, mas apenas se encantado. Porque do meu lado, posso dizer que sempre me encantei assaz deslumbrado diante dos seus escritos poéticos e suas crônicas futebolísticas das mais inteligentes.
Muitas foram as vezes que me deliciei na minha adolescência quando o lia ou quando o via na TV. Tive o raro prazer de vê-lo ainda na Manchete, assim como suas tiradas na Placar.
Armando Nogueira foi um dos maiores redatores que este país já produziu. Talvez o último. Filho da distante Xapuri-AC, que ficou famosa através da luta e morte de Chico Mendes. Armando veio para o Rio ainda em tenra idade para ganhar a vida. E a ganhou na medida em que se transformou no maior e mais conceituado jornalista esportivo do Brasil. Com atuação na revista Cruzeiro, Manchete, Bandeirantes e na TV Globo, onde foi inclusive um dos mentores do jornal nacional. Como enviado, cobriu várias Copas do Mundo assim como as Olímpiadas. Foi um daqueles comentaristas em extinção, cujos comentários nos enchiam de prazer e conhecimento.
Há anos que não o vi mais na telinha ou no impresso. Quem sabe pela opção idiota que a mídia atual tem feito em favor dos rostinhos jovens e engraçados em detrimento do talento, da ética e da inteligência de tantos, que como Armando, foram pioneiros ajudando, inclusive, a moldar os alicerces fundamentais do jornalismo brasileiros.
Vítima de câncer no cérebro, Armando Nogueira faleceu nesta segunda-feira(29) no Rio de Janeiro aos 83 anos.
Com o desaparecimento de Armando, o jornalismo esportivo autêntico, assim como a notícia diferenciada e a crônica poética do cotidiano saem de cena, dando lugar ao shownalismo marrom, negro, feio e fedorento.
Uma pena, que os nossos filhos nunca poderão conhecer a lavra e o talento de Armando Nogueira. Simplesmente porque ele será para sempre insubstituível. Mesmo assim fiquemos torcendo para que Armando não tenha morrido, porém apenas se encantado, oxalá em mais uma daqueles suas belas e encantadoras crônicas do nosso futebol arte. Porque Armando foi e para o todo e sempre o será aquilo que podemos classificar como: Um Gol de Placa.
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