Por Ferreira Fernandes
Espantou-me a notícia brasileira sobre censura a anúncio da nova cerveja Devassa. Belo nome para um anúncio que desilude. A Devassa contratou Paris Hilton para, em terra de mulatas, ousar menear-se lascivamente com uma lata da cerveja. Ora esses gestos de tédio e vídeo foram proibidos por serem desrespeitosos. Deixem-me relembrar: no Brasil! No Brasil da marchinha Chiquita Bacana: "Não usa vestido/ Não usa calção...", diziam os versos nesse Carnaval de 1951.
Espantou-me a notícia brasileira sobre censura a anúncio da nova cerveja Devassa. Belo nome para um anúncio que desilude. A Devassa contratou Paris Hilton para, em terra de mulatas, ousar menear-se lascivamente com uma lata da cerveja. Ora esses gestos de tédio e vídeo foram proibidos por serem desrespeitosos. Deixem-me relembrar: no Brasil! No Brasil da marchinha Chiquita Bacana: "Não usa vestido/ Não usa calção...", diziam os versos nesse Carnaval de 1951.
No Brasil de Chico Buarque, autor desta frase: "Não existe pecado do lado de baixo do Equador." De Vinicius de Moraes: "Nádega é importantíssimo." No Brasil colonizado pelo padre Manuel da Nóbrega, jesuíta, que se incomodou por os índios comerem até "mulheres bonitas, em vez de as utilizar para mister mais selecto". Do poeta Carlos Drummond de Andrade: "Oh, sejamos pornográficos/ (Docemente pornográficos)..." Do Brasil todo virado para aí: "Você é o seu sexo.
Todo o seu corpo é um órgão sexual, com excepção, talvez, das clavículas" (Luís Fernando Veríssimo). E da desbunda, como dizia o jornalista Zózimo Barrozo do Amaral: "Antes à tarde do que nunca." E é nesse Brasil abençoado pela falta de pudor, que uma lambisgóia americana, loira e de fórmica, causa furor. "Progresso", diz a bandeira brasileira. Mas estão a regredir.
Fonte:http://dn.sapo.pt/inicio/opiniao/interior. In blog alagoinhaimpaumirim
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